Um dos grandes desafios que os pais de crianças com deficiência intelectual, como Síndrome de Down, vêm enfrentando na pandemia é como conseguir manter a atenção dos pequenos para todas as atividades que precisam ser feitas em casa: tarefas escolares, acompanhar o aprendizado do programa escolar on-line e ainda garantir o aproveitamento integral dos atendimentos remotos de terapeutas ocupacionais, educadores e fonoaudiólogos. Muitas vezes, a criança se sente exausta, ainda mais porque a mudança repentina da rotina – não poder mais ir à escola e conviver com os amigos-, que vem se prolongando por meses, traz ansiedade e, consequentemente, alteração significativa no estado emocional da criança.
Pelo lado das mães, lidar com o filho nesse estado alterado, juntamente com suas próprias angústias e sobrecarga de afazeres domésticos que o isolamento social vem causando, tem trazido até mesmo estafa mental.
Pensando em como contribuir com essas famílias, a psicopedagoga sistêmica Tania Affonso*, terapeuta integrativa e especialista em educação inclusiva, selecionou dicas de atividades que os familiares podem fazer em casa para entreter as crianças com Síndrome de Down. “Toda atividade a ser trabalhada com crianças que têm deficiência intelectual o ideal é que sejam repetidas, pois a repetição é uma das técnicas que facilita a aprendizagem. Desta forma, sentem-se mais seguras quando começam a acertar porque já conhecem a atividade. Além disso, é preciso que tenham imagens reais – e não figuras/desenhos – que façam sentido para a criança e que sejam atividades prazerosas para que ela fique com aquele ‘gostinho de quero mais’ e, assim, não associe as tarefas com um momento negativo”, orienta a especialista.
Outra observação que Tania destaca é sempre se atentar aos detalhes que chamam a atenção da criança e, então, explorá-los. “Em um atendimento, pedi à criança que tirasse uma foto de suas mãos. Imprimi, montei pranchas para trabalhar com as letras que formam a palavra mão, porém, logo que iniciamos a sessão, perguntei o que ela via na imagem impressa e a criança respondeu “dedo”. E assim comecei o atendimento com essa palavra, que tinha sentido para ela, ao invés do que a que eu tinha planejado, que era ‘mão’. É preciso atenção para trabalhar o que, naquele momento, está em evidência para a criança e como ela observa o mundo”, exemplifica a terapeuta.
Dicas de atividades
1. Peça que a criança fotografe com o celular objetos na casa que ela goste. Imprima as fotos, monte cartões com a palavra correspondente e recorte. Coloque-os dentro de um saquinho, agite e peça para a criança retirar um e falar o que é a imagem.
2. Faça um jogo da memória com fotos de pessoas (familiares, amigos) por quem a criança tenha afeto. Essa simples atividade trabalhará a memória, que é ótimo para estimular a aprendizagem.
3. Com o saquinho de imagens recortadas, como sugerido na atividade 1, peça à criança que ela retire um cartão e vá até o objeto da imagem, trazendo-o ou apenas tocando-o e nomeando-o em voz alta.
4. Caso a criança tenha um desenho favorito, pegue imagens dos personagens principais, recorte-os e monte os cartões também com os nomes ao lado de cada imagem. Coloque-os em uma caixa para que a criança tire um cartão. Além de perguntar o nome do personagem, os pais podem pedir para a criança cantar um trecho da música do desenho e pedir para dançar ou ainda fazer alguma mímica que tenha a ver com o personagem, como por exemplo, no caso da Galinha Pintadinha, a mímica seria bater as ‘asinhas’ com os braços.
Vale lembrar que todas as atividades não podem ser muito longas, sendo considerado pela especialista um tempo ideal de 30 minutos. “O mais adequado é finalizar a atividade quando a criança estiver no auge da euforia, da alegria. Se a atividade se estender mais, a criança pode se desinteressar facilmente e a atividade ficar chata. O ideal é encerrar quando a criança pede para brincar novamente e então, os pais precisam dizer que ‘acabou’ e que ela deverá aguardar a próxima atividade. Assim ela a associará a um momento divertido, alegre, despertando sua curiosidade e o desejo de querer mais, além de estimular a paciência e ajudar que a criança entenda limites”, orienta a especialista.
Segundo Tania, os cartões podem ser feitos tanto em baixa tecnologia (como as pranchas de comunicação alternativa) ou em alta tecnologia, como o Boardmaker da Tobii Dynavox. Ela ressalta ainda que é preciso levar sempre em conta também o ambiente familiar onde a criança está inserida, que é considerado o seu ‘sistema’. Exatamente por isso, por meio de consultoria, a especialista faz atendimento e orientação de psicopedagogia sistêmica às famílias presencialmente ou on-line. Siga-a no Instagram @psicopedagogabarra ou, caso tenha interesse, ela atende por WhatsApp (21) 99727-7727.
Tania Affonso* é psicopedagoga, graduada em Ciências Biológicas e pós graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional, com ênfase em Deficiência Intelectual. É facilitadora em Constelação Familiar, atua com psicopedagogia sistêmica e é especialista em educação inclusiva.
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