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Adaptação de atividades para alunos com Transtorno do Espectro Autista em tempos de pandemia

criança autista com camiseta amarela organizando um calendário de atividade


De uma semana para outra, pais e alunos tiveram que se adaptar às novas rotinas em casa por conta da pandemia de coronavírus. E essa nova realidade trouxe inúmeros desafios. De um lado, os pais tiveram que se adaptar ao trabalho em casa com toda a família presente, tendo que lidar ao mesmo tempo com os afazeres domésticos – agora acumulados – e, ainda, serem o suporte às demandas escolares dos filhos. 

Por outro, os alunos também tiveram que se adaptar ao estudo em casa on-line, sem a presença dos colegas e sem as atividades normalmente realizadas na escola. 

Mas, como lidar com todas essas mudanças e quebras na programação diária no caso dos alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que muitas vezes possuem excessiva adesão à rotina? “Alguns têm dificuldade de entender os motivos de não poderem mais sair de casa e não ir à escola. Além disso, o novo formato de atendimento remoto também trouxe para eles, inicialmente, estranheza e incompreensão, uma vez que o encontro virtual – falar com as terapeutas pelo computador – não fazia parte do formato “normal” para eles. Muitos, com o passar das semanas, habituaram-se, entretanto, há relatos de pais de alunos que não conseguiram acompanhar este formato”, explica Renata Carvalho Corrêa Pereira*, fonoaudióloga e Coordenadora de Fonoaudiologia do Centro Lumi (SP) – Escola Especializada em Pessoas com Transtorno do Espectro Autista.

Adaptação das famílias e dos terapeutas

Desta forma, muitos pais tiveram que montar uma rotina diária em casa com os seus filhos, aliando as demais demandas (trabalho e organização da casa), de modo a conciliar os horários do atendimento remoto. “Eles passaram a ser os principais mediadores entre o terapeuta e o aluno”, explica a fonoaudióloga.

Do lado dos terapeutas, o grande desafio foi, segundo Renata, encontrar recursos disponíveis e plataformas que pudessem transformar para o on-line o conteúdo e os objetivos dos atendimentos, que muitas vezes contam com o apoio de objetos e materiais concretos. “Em alguns casos, precisamos disponibilizar aos pais os materiais para serem utilizados no atendimento remoto e, para alguns, até realizamos oficinas para ensiná-los a confeccionar atividades. Está sendo uma experiência muito rica! Além disso, outra vantagem encontrada neste novo formato de atendimento foi o fato dos alunos, na maioria das vezes, gostarem de jogos e atividades realizadas em tablets ou no computador, o que facilitou em muito o engajamento e a motivação dos mesmos”, analisa. Porém, uma mudança verificada foi em relação ao tempo de duração das sessões: “os atendimentos presenciais que normalmente duravam 50 minutos tiveram muitas vezes que ser “quebrados” em sessões menores de no máximo 30 minutos, que é em média, o tempo de atenção e tolerância dos alunos em atendimentos virtuais”, considera.


Pontos positivos da nova realidade

Apesar dos grandes desafios para todos os envolvidos – familiares, terapeutas e alunos -, a fonoaudióloga também destaca os pontos positivos das mudanças exigidas pela atual realidade. “Está havendo uma oportunidade diferente de orientação dos terapeutas juntos às famílias. Isto porque, como agora os pais têm a oportunidade de participar presencialmente dos atendimentos, eles próprios estão vivenciando as questões da aprendizagem e da aplicação das atividades propostas. Com isso, passaram também a conhecer de perto as reais habilidades e dificuldades de seus filhos, o que é bastante positivo para que compreendam o trabalho dos terapeutas e a evolução do desenvolvimento dos seus filhos.
Além disso, passou a haver uma maior troca de informações entre as famílias nas salas virtuais, o que criou também uma aproximação que antes acontecia em outros momentos”
, explica a fonoaudióloga.


Dicas para as famílias

Pensando nas dificuldades que as famílias vêm enfrentando com a situação de isolamento social, Renata separou três valiosas dicas aos pais, que vão ajudar a organizar a rotina do aluno com TEA, juntamente com os seus terapeutas, e também da família:

  1. Sinalizar a rotina diária – utilizar apoio visual, mostrando ao aluno o que irá acontecer no seu dia (Ex: café da manhã, sessão com a fonoaudióloga, brincar, almoço, TV, caminhada, brincar, banho, jantar, dormir). O lazer e descanso devem sempre estar presentes. A utilização de rotina sinalizada traz previsibilidade e consequentemente, redução de ansiedade ao aluno.
  2. Organizar um espaço na casa livre de distratores e estímulos para a realização dos teleatendimentos – isto facilita o engajamento e direcionamento da atenção do aluno, uma vez que ele está em seu ‘habitat natural’ e pode se distrair facilmente.
  3. Diminuir a duração dos atendimentos – mais vale menos tempo de atendimento com maior engajamento e participação do aluno do que mais tempo com menos aproveitamento. (As sessões podem ser divididas em duas com menor tempo de duração em períodos do dia diferentes, por exemplo).

Renata Carvalho Corrêa Pereira* é fonoaudióloga, certificada Coach no Programa “CLM – Competent Learner Model” baseado em Análise do Comportamento e Coordenadora de Fonoaudiologia do Centro Lumi (SP) – Escola Especializada em Pessoas com Transtorno do Espectro Autista.

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Redação Civiam

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