A inclusão social de pessoas com deficiências é um dos grandes desafios das escolas, que, cada vez mais, têm se deparado com a necessidade de adaptar as salas de aula para um ambiente mais inclusivo e, assim, proporcionar a esses jovens um desenvolvimento de forma mais igualitária a todos os alunos.
De acordo com um estudo realizado pelo Centro de Pesquisa e Inovação (CEPI) do Instituto Jô Clemente (IJC), antiga APAE de São Paulo, crianças e adolescentes que frequentam escolas regulares apresentam diferenças no desenvolvimento em relação aos jovens que permaneceram em salas especiais. A instituição acompanhou ao longo de dez anos 109 crianças e adolescentes e constatou que aqueles que permaneceram isolados em salas específicas apresentaram baixa evolução em termos de autonomia, comunicação, aprendizagem e desenvolvimento de vocabulário, mantendo também comportamentos infantilizados e inadequados, com pouco interesse de se fazerem entender perante colegas ou adultos. Já aqueles que conviveram em salas regulares mostraram maior interesse pelas atividades, ganhos na autonomia e independência para se locomoveram pelos ambientes da escola, maior capacidade de comunicação, expressão e relacionamento interpessoal e aprendizagem.
Porém, no lado das escolas, apesar do assunto inclusão estar em voga – até mesmo o aplicativo WhatsApp incluiu no ano passado emojis de cadeirantes, por exemplo -, na realidade, a grande maioria das instituições de ensino ainda enfrenta dificuldades para colocar em prática o que é, de fato, uma sala de aula inclusiva. Na maioria das vezes, os esforços ficam mais a cargo dos pais, que precisam estimular a criança em casa para que ela consiga acompanhar o progresso dos demais alunos ou a cargo dos professores que, por iniciativa própria, estudam formas de incluir o aluno e como lidar com sua deficiência e proporcionar a eles o direito à educação, dentro de suas limitações e necessidades específicas.
É preciso que o profissional adapte o programa pedagógico, seja com materiais de apoio (pranchas de comunicação, inclusão de música em aula, entre outros recursos) ou trabalhando em conjunto com outros profissionais que cuidam do aluno, como terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e educadores.
Sabemos que a realidade das escolas regulares ainda é distante do que os pais sonham, mas, o fato é que a questão da inclusão estar, cada vez mais, nas pautas das discussões sobre o caminho da educação no país já é algo positivo e que nos traz a esperança de caminharmos para uma realidade mais igualitária em termos de oportunidade a todos no processo do aprendizado.
E, por onde começar? Entendemos que são três os pilares principais que norteiam a inclusão nas escolas:
1 – Interesse real pela inclusão do aluno – o termo “inclusão social” vem ganhando destaque na mídia, mas, sim, é preciso que, antes de qualquer passo inicial, haja o interesse genuíno de todos os envolvidos – seja direção da escola, professores, colegas de classe e funcionários – em contribuir, de fato, com o aluno. O ideal é criar na escola como um todo um senso de acolhimento e empatia.
2 – Pedagogia – é preciso que os professores, ao receberem o aluno com deficiência, estejam preparados para trabalhar o conteúdo do ano letivo dentro das necessidades da criança ou do adolescente com deficiência. É importante estar atento às competências do aluno e seus pontos fortes e não apenas às suas limitações, entendendo como utilizar melhor o potencial de cada um.
Hoje, para acompanharem o ritmo do aprendizado dos demais colegas, muitas pessoas com deficiência precisam de apoio fora da escola em conjunto de terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e educadores. E, principalmente, dos pais, que precisam reforçar o aprendizado em casa para ajudar no processo educativo da criança.
3 – Equipamentos de Tecnologia Assistiva – oferecer aos alunos equipamentos que possam ampliar suas capacidade e facilitar seu aprendizado, sua comunicação e, principalmente, seu conforto em sala de aula. É fundamental para a escola providenciar a estrutura necessária para receber com qualidade estes alunos.
De acordo com Fabiana Leme, professora que atuou mais de 20 anos na rede pública e agora foca na educação inclusiva por meio do seu site “Inclutopia”, em matéria publicada no site Razões para Acreditar (veja aqui na íntegra): “Quando qualificamos o ensino para TODOS, estamos desenvolvendo uma outra ótica para a construção da sociedade. Quanto mais a educação inclusiva avança, vemos mais pessoas com deficiência atuando de forma mais participativa e toda uma nova geração que convive e compreende mais sobre as questões da diversidade desde a escola e assim continuaremos a nos desenvolver até que não haja mais a necessidade de se discutir a inclusão, pois o respeito e equidade será garantida a todos”.
E esse é o nosso mais sincero desejo para os próximos anos.