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Mês das Mulheres

Jessica Paula é nomeada Coordenadora Nacional da Alianza de Turismo Accesible (ATACC)

Foto de Jessica em um parque sorrindo e se equilibrando em suas muletas.
Foto: Jessica Paula, arquivo pessoal

Março é considerado o mês das mulheres por conta do Dia Internacional das Mulheres (8/3)  e, mais do que uma simples homenagem, simboliza a conquista de direitos e a luta contínua contra desigualdades de gênero. Jessica Paula Prego (@ajessicapaula) é exemplo dessa luta, não apenas em relação ao direito da mulher em ocupar o seu lugar no mundo, mas, principalmente, das pessoas com deficiência.

Foto de Jessica sorrindo mostrando seu Certificado
Foto: Jessica Paula, arquivo pessoal

Jornalista, apresentadora e fundadora do site Passaporte Acessível, há anos ela atua no turismo acessível (confira aqui a sua jornada), cujo reconhecimento acaba de ser consagrado com o título de Coordenadora Nacional da Alianza de Turismo Accesible (ATACC), que recebeu no dia 17 de fevereiro para representar  o Brasil. Trata-se de uma iniciativa mundial que promove a transformação do turismo em um espaço verdadeiramente inclusivo, onde todas as pessoas, independentemente de suas habilidades físicas, sensoriais ou cognitivas, podem desfrutar de experiências equitativas e acessíveis. 

Com base em princípios fundamentais como acessibilidade universal, design inclusivo, sustentabilidade e equidade, a ATACC trabalha para garantir que os destinos turísticos estejam preparados para atender às diversas necessidades e garantir a participação plena de todos. Dessa forma, a Alianza promove a cooperação regional, a conscientização, o treinamento e a implementação de políticas que posicionem o turismo como um motor do desenvolvimento social, cultural e econômico. Por meio de alianças estratégicas e projetos inovadores, a ATACC busca construir um setor de turismo mais justo, acessível e sustentável para toda a sociedade.

“O convite veio depois da minha participação em conferências e feiras internacionais. Fui convidada para fazer parte do Comitê de Diversidade da WTM – Latin America, maior feira do setor na América Latina. E, na sequência, estive em eventos importantes como o encontro mundial da ISTO, sobre turismo social, na Costa Rica, e em um Fórum promovido pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina, no México. Esses são exemplos de atuações que colocaram meu trabalho em destaque no turismo global. Algo que nem eu conseguia imaginar”, diz Jessica, que relembra ainda a sua jornada na construção de sua autoridade no turismo acessível: “Comecei gravando vídeos para o YouTube e para o Instagram mostrando minhas viagens pessoais e esse se tornou meu trabalho de jornalista: mostrar que gente com deficiência pode desbravar o mundo. Assim, veio a escalada ao Pão de Açúcar que, somada a tudo que já vinha construindo, abriu portas que antes pareciam muito distantes. Comecei falando sobre minha busca por autonomia e liberdade. De repente, percebi que o mundo começou a me ouvir”, explica, relembrando o seu marco ao percorrer, de muletas, 1.300 metros para escalar um dos morros mais famosos do Brasil, tornando-se, assim, a primeira mulher com deficiência física a escalar o Pão de Açúcar, além de diversas outras conquistas surpreendentes que desafiaram até mesmo os guias turísticos.

“Acredito que parte desse reconhecimento vem porque levo a pauta da acessibilidade de um jeito que conecta os dois lados da história: as demandas das pessoas com deficiência e os desafios reais do mercado de turismo. É mostrar que inclusão não é um favor, mas sim uma oportunidade de negócio – busco ser essa ponte entre a necessidade de um público amplo e soluções compatíveis com a realidade de cada município ou empresa”, salienta. 

Quanto à nomeação na ATACC, ela brinca: “Como Coordenadora Nacional da Alianza, tenho SÓ UMA tarefa: garantir que o Brasil esteja nas principais iniciativas globais de turismo acessível” – sempre com muito bom humor e determinação para lidar com os desafios diários que enfrenta desde que perdeu a mobilidade das pernas, aos 6 anos de idade, por conta de uma infecção na garganta que migrou para a medula. 

Em relação aos primeiros passos na Alianza, Jessica dá um spoiler: “Entre as iniciativas que estamos planejando, estão: capacitação para os profissionais do turismo, uma vez que as pessoas que atuam no mercado brasileiro ainda se sentem muito inseguras para lidar com pessoas com deficiência e a falta de cursos com essa temática. Além disso, a ideia é que possamos fomentar projetos já existentes de acessibilidade, buscando apoiadores, financiadores e promovendo as conexões com projetos internacionais, de modo a suprir o mercado brasileiro com soluções e tecnologias de acessibilidade já existentes no exterior que ainda não chegaram no Brasil. Por outro lado, também  compartilharemos as nossas soluções aos outros países, de modo a promover um rico intercâmbio entre os participantes da ATACC. Outra grande meta será o levantamento de estatísticas, que hoje é também um dos grandes gargalos do turismo acessível, para não só compreendermos os desafios, mas fomentarmos investimentos, pois é um mercado em plena expansão: as pessoas com deficiência têm conseguido, cada vez mais, inserção no mercado de trabalho e, assim, acesso à renda. Dessa forma, passam a viajar mais, seja a lazer ou a trabalho. Porém, ainda assim, estima-se que no Brasil, 53% das pessoas com deficiência já deixaram de viajar por falta de informação – ou seja, há muito ainda a ser feito para mudarmos essa realidade e todas as pessoas conseguirem realizar uma viagem. Vale destacar ainda que o turismo acessível não é um nicho, pois há pessoas com deficiência em todos os mercados: turismo corporativo, gastronômico, religioso, de pessoas LGBTQIAPN+, entre diversos outros. Ou seja, o tema é bastante amplo e é preciso dialogar com todos os setores e de forma mundial”, destaca.

Jessica, que recebeu ainda da AmorSaúde Brasil, o reconhecimento, em janeiro deste ano, como “Mulher de Sucesso – Reconhecendo o poder e a determinação das mulheres que fazem a diferença”, também é admirada por compartilhar reflexões relevantes acerca da autoaceitação:  por meio de ensaios fotográficos sensuais, ela mostra a importância de ressignificar a aceitação do próprio corpo. “Eu sempre amei a ideia do Carnaval. Mas ver tanta gente com corpo à mostra, pernas e barrigas de fora era um lembrete de que eu deveria esconder meu corpo. Roupa curta era algo impossível pra mim. Por mais que eu quisesse que fosse diferente, estava eu de calça jeans no meio dos blocos. E não era porque estava confortável assim. Era por pura vergonha das minhas pernas. Ou das minhas costas tão visivelmente tortas. Nos últimos anos, fiz dois ensaios fotográficos sensuais que mudaram completamente minha perspectiva. Não que eu tenha passado a achar meu corpo lindo. Não é milagre também. Mas, sim, comecei a respeitá-lo mais. E aceitar que até dá pra sair de shortinho. E estar, a cada dia, um pouquinho mais em paz com ele”. 

Mais informações:

https://www.instagram.com/ajessicapaula

https://www.passaporteacessivel.com.br

https://www.youtube.com/c/J%C3%A9ssicaPaulapassaporte

https://www.tourismandsocietytt.com/alianza-turismo-accesible

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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