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Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência

Jéssica Paula mostra que, com apoio e suas muletas, é possível chegar aonde ela quiser!

Foto de Jessica, uma mulher de cabelos escuros na altura do ombro, usando jaqueta e calça preta, óculos escuros e luvas. Ela está em uma paisagem de montanhas com neve no topo das montanhas ao fundo, e está sorrindo com os braços para cima, segurando suas muletas.

“A todas as pessoas com deficiência: quem decide é você! Atreva-se!”, diz Jéssica Paula, jornalista, apresentadora e fundadora do site Passaporte Acessível, a cada desafio que busca enfrentar como motivação a todas as pessoas que, como ela, têm algum tipo de deficiência – ela perdeu a mobilidade nas pernas aos 6 anos de idade por conta de uma infecção na garganta que migrou para a medula. Dessa forma, Jéssica tem se tornado uma referência também na luta das pessoas com deficiência, à medida em que um dos seus objetivos é mostrar a quem não acredita em seu potencial, por conta do capacitismo, que, sim, é capaz de realizar tudo o que deseja ou “ao menos ter o direito de tentar”, como ela reforça. Por isso, nesta matéria, compartilharemos suas conquistas como inspiração e homenagem pelo Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência, celebrado dia 21 de setembro, que foi instituído pela Lei nº 11.133/2005 com o objetivo de conscientizar sobre a importância do desenvolvimento de meios de inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.

Para “mostrar que todos podem desbravar o mundo!”, como Jéssica diz, ela decidiu produzir uma série chamada “Sete Elementos” (transmitida em seu canal no YouTube), que teve início em 2021, onde, a cada episódio, ela desafia – de muletas – sete elementos da natureza: água, areia, ar, fogo, gelo, rocha e terra. “Eu não sei se vou conseguir completar todos os desafios até o fim”, salienta Jéssica ao ressaltar a importância de tentar. O primeiro elemento escolhido pela jornalista foi a areia, tornando-se a primeira pessoa com deficiência a concluir, com suas muletas, a travessia dos Lençóis Maranhenses, que formam o maior parque de dunas da América Latina. Foram três longos dias intensos, repletos de dificuldades que ela mesma nem imaginaria enfrentar. “Meu desafio foi fazer um trekking cruzando as lagoas, dunas, caminhando uma média de 10 km por dia”, recorda. 

Confira aqui a travessia:

Jéssica partiu, então, no início de julho deste ano, para o segundo desafio, o elemento rocha – equipada com luvas, joelheiras, cotoveleiras, ela conseguiu mais um feito histórico: escalou o Pão de Açúcar (no Rio de Janeiro), sendo a primeira mulher com deficiência física a subir, de muletas, os 396 metros de um dos morros mais famosos do Brasil – cartão postal da cidade carioca: “Essa subida está na rota do turismo de aventura do Rio de Janeiro. Mas quando chegou minha vez de tentar, dezenas de profissionais da escalada foram categóricos: com essa deficiência não será possível! Mas quem tem o direito de dizer o que consigo ou não fazer? Tornei essa escalada um grande projeto para mostrar que pessoas com deficiência podem sim viver experiências transformadoras e usufruir do turismo, da natureza e de grandes aventuras. Temos direito à liberdade de conhecer o mundo! O primeiro passo é encontrar quem acredita. Afinal, sozinhos realmente não é possível”

E, em quase oito horas de escalada, ela, mais uma vez, provou que, sim, é possível! A jornalista levou dois meses de preparo e foi acompanhada de três guias, dois filmmakers e contou com patrocínio da Smiles e da Mercur.

Foto de Jéssica no topo do Pão de Açucar, usando capacete amarelo, regata preta e calça caqui, está olhando o horizonte e se apoiando suas bengalas.

“Entendo quando muitos disseram não ser possível. É que da forma que eles conhecem, realmente não conseguiria. Subi de muletas, apoiando nos ombros dos instrutores, nas árvores, raízes, utilizando os joelhos, pés e tornozelos dos guias para me apoiar. Fui me arrastando morro acima. E aconteceu. Uma paraplégica escalou o Pão de Açúcar pra bagunçar sua cabeça. E agora que aconteceu, dê licença, pode me deixar passar. Porque as coisas por aqui não vão voltar à ordem de antes tão cedo”, diz Jéssica.

História de vida

Jéssica Paula, ao ser diagnosticada com mielite aguda aos 6 anos, teve que se adaptar para fazer uso de cadeira de rodas. Com ajuda de sua mãe – a sua maior incentivadora a caminhar, ainda que com dificuldades – começou a caminhar com o uso de um andador. Após uma cirurgia na perna direita, passou a caminhar com o auxílio de muletas e não parou mais, adotando como lema de vida o seguinte pensamento: “Muletas não são uma prisão. São meu maior instrumento de liberdade”, que sempre ressalta em suas redes sociais. Liberdade essa que Jéssica sabe aproveitar como ninguém, sendo  uma inspiração a todos que se limitam por conta de alguma dificuldade: na companhia de suas muletas, até agora, já viajou sozinha para 37 países e vivenciou inúmeras experiências.

Nascida no interior de Goiás, Jéssica cursou jornalismo na Universidade de Brasília e durante a universidade, morou na Espanha com objetivo de estudar reportagem especial. Foi quando conheceu diversos países da Europa e norte da África. Esteve em algumas das nações menos visitadas do mundo, como a Mauritânia e, por diversas vezes, foi a única mulher nos ônibus, hotéis e restaurantes por onde passou. Por conta da profissão, realizou sua primeira viagem sozinha para cobrir os Jogos Indígenas, no Tocantins. Na sequência, escreveu e fotografou pessoas que vivem sem energia elétrica, registrou a vida de mulheres em condições análogas à escravidão. Enquanto trabalhava como produtora e repórter na TV Brasília / RedeTV!, transformou sua viagem pela região de conflito armado na África (Etiópia, Sudão, Sudão do Sul e Uganda) no livro “Estamos Aqui”. Assim, tornou-se a primeira jornalista paraplégica do Brasil a cobrir uma zona de conflito. Depois de tantas vivências, foi neste período que se reconheceu como uma mulher LGBT.

Foto de Jessica em uma estrada, ao lado de uma placa escrito: Uganda Border 2,90 km. Ela está de cabelos presos, usando óculos escuros, regata cinza, calças pretas e está apoiada em suas bengalas com uma das mãos e a outra está faendo sinal de carona.

Em 2017, após se mudar para São Paulo, fundou o site Passaporte Acessível, plataforma focada em inspirar pessoas a conhecerem novos lugares e romper preconceitos contra quem vive com deficiência. Desde então, ela se dedica ao trabalho de apresentadora, influenciadora e produz séries e documentários com objetivo de mostrar que todos têm direito à liberdade de sentir o mundo. 

E as conquistas de Jéssica não se dão apenas nos seus desafios em relação às viagens: no ano passado, ela se tornou também a primeira pessoa com deficiência a estrelar uma campanha sobre viagem em horário nobre na TV aberta.

“Aprendi a caminhar com essas muletas aos 14 anos. Aos 20, aprendi a descer escadas sem corrimão. Aos 25, aprendi a levantar sozinha se caísse no chão. Quero te mostrar que gente com deficiência pode ir pra tudo que é lugar. E esse não é um discurso utópico, idealista. É só seguir a matemática. Oras, existem 1 bilhão de pessoas com deficiência no mundo. Elas moram nas mais diversas condições. E nenhuma cidade do mundo é plenamente acessível. Onde você mora não é plenamente acessível, tenho certeza. Como faz pra viver aí, então? É essa pergunta que me faço antes de visitar um lugar com condições mais precárias de acesso. Se tem gente com deficiência que vive ali, é porque há uma maneira. Como você se adaptou pra viver na sua cidade? Não deixe de conhecer um lugar que deseja por falta de acessibilidade. Se assim fosse, não veríamos pessoas com deficiência nas ruas. Mas nós estamos por aqui, aos montes. E precisamos sair de casa cada vez mais. Botar a cara no sol, na neve, na poeira das ruas”, diz.

E é com esse exemplo inspirador que esperamos estimular você, pessoa com deficiência, a jamais deixar de sonhar; e que tenha muito apoio para conseguir conquistar tudo o que deseja!

https://www.instagram.com/ajessicapaula/

https://www.youtube.com/@JessicaPaulapassaporte

https://www.passaporteacessivel.com.br/

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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