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Entrevista com Maxx Figueiredo – o ‘Homem de Ferro Brasileiro’

Ele precisou mudar sua vida após um acidente que o fez perder uma perna e o impossibilitou de usar a mão direita para desenhar. Em meio ao processo de reabilitação, começou a fazer trabalho voluntário em hospitais e atualmente está prestes a lançar um livro:

Aceitar a perda como uma oportunidade de renovação. Este sentimento motivou um trabalho voluntário que já trouxe resultados reais; inspirou outras pessoas a fazerem seus próprios trabalhos voluntários; proporcionou um recorde brasileiro de corrida e conteúdo vivido mais que suficiente para um livro, procura crescente da mídia e o entendimento – na prática – de que somos muito mais do que os limites que eventualmente traçamos.

Conversamos com o desenhista e diretor de arte Maxx Figueiredo, 42, que após um acidente em 2007 perdeu uma perna e não pode mais usar a mão direita para criar sua arte e ganhar a vida. Aos 33 anos de idade, após 3 meses em um hospital – incluindo um período em coma, Maxx começou a virar o jogo – aprendeu a desenhar com a mão esquerda e reprogramou sua vida. A superação de todas as dificuldades que vieram após o acidente está prestes a ser contada em um livro que está em financiamento coletivo: “Baseado no rebranding* das marcas, coloco em forma de manual métodos para reprogramar o cérebro e viver melhor consigo mesmo e com a sociedade”.

Visitar hospitais e alegrar crianças e pessoas que estão internadas foi uma das atividades que começaram em seguida, e que trouxeram resultados positivos de diferentes maneiras: “Quando se passaram 12 meses, me vi num “boom do bem”. Um grande boom de heróis, como houve e ainda há com os Doutores/Palhaços que alegram a vida nos hospitais”. Maxx sempre ouviu comentários referentes à sua semelhança com o ator Robert Downey Jr, que interpreta, nos cinemas, o ‘Homem de Ferro’. E foi isso que o fez ter a ideia: “Devido a essa comparação, me motivei a comprar uma armadura e, para justificá-la, decidi fazer algo heroico dentro de minhas condições. Visitar os hospitais foi a primeira coisa que me ocorreu”. Outras pessoas começaram a procurá-lo para se oferecerem para participar destas visitas, e a quantidade de pessoas dedicando alguns minutos ou horas semanais para pacientes em hospitais cresceu.

Mas como tudo o que é feito com o coração, é um caminho de sentidos opostos; uma troca. “Todo sorriso, todo gesto limitado tentando imitar o “pare”, que é como os pais chamam, quando o Ironman está prestes a lançar o raio. Tudo é bom. O olhar aparentemente sonhador de um PC, ou aquele intenso, típico de pessoas com Down, ou o olhar que sai pelo sorriso de alguém com deficiência visual quando toca minha armadura e descobre que sou o Ironman. Tem os olhares orgulhosos dos pais, olhares curiosos e afoitos por uma selfie dos colaboradores e enfermeiras, olhares nobres dos médicos, olhares rápidos e espantados dos que jamais esperariam ver um super-herói entrando na sala. Outros olhares são lentos, e quando quase estou indo embora se encorajam e vêm até mim antes que eu desapareça na cortina onírica da surrealidade do instante. Me fazem tão bem, que às vezes nem me sinto merecedor de tamanho carinho.”

Hoje, este trabalho tem nome e cada vez mais reconhecimento; chama-se Super-Heróis da Alegria.

Sobre a Prótese

Maxx usa uma prótese e com ela continuou praticando esportes; tão bem que ele conquistou o recorde brasileiro de corrida de 100m e 400m. Ele conta que já praticava esportes desde antes do acidente e que, apesar de não direcionar dedicação integral a nenhum destes por ter muitos outros interesses, Maxx há havia corrido uma São Silvestre e sempre esteve envolvido com alguma modalidade esportiva.

Mas, apesar dos resultados positivos na prática de atividades físicas após o acidente, a adaptação com a prótese não foi tão fácil no início. Quando perguntado sobre a primeira tentativa de prótese, ele diz que esta não foi muito boa: “Foi engraçada. Poderia dar um spoiler do livro de como foi a minha primeira prótese, mas não vou estragar a surpresa. Vou guardar o segredo”. Ele continua: “Acho que a adaptação cerebral é a mais difícil. A mecânica é mais fácil. Questões motoras, o cérebro assimila por mimese, a programação está lá, só troca-se o hardware. Mas uma atualização no software que aceita os aprimoramentos do seu sistema nervoso é imprescindível. Senão você pode se tornar muito chato, depressivo e crítico julgando todos como insensíveis por não conseguirem ver suas dificuldades e lhe prestarem auxílio. É muito fácil cair nos papéis clássicos de uma tragédia grega. Um drama. Ou se tiver uma melodia de fundo, um melodrama”.

Por experiência, ele vê que os recursos e o atendimento para pessoas com amputações no Brasil existe. Mas os considera caros e burocráticos, com poucas alternativas a isso. O que acaba por prejudicar pessoas com menos recursos financeiros. Entre suas recomendações, porém, ele menciona AACD, Marian Weiss e IPO.

“Tem uma frase que gosto, mas toda vez que a leio, um autor diferente é creditado como dono dela. Já foi de Josh Billings, Ané Dousseaux, Roger Stankewski… “Mais importante que a vontade de vencer é a coragem de começar”. Querer se reprogramar não é fácil. Começar é difícil.”

Link para comprar o livro ‘Rebrain’

*Rebranding: mudar a maneira com que uma organização, empresa ou produto é visto pelo público. Fonte: Cambridge Dictionary

Até a próxima!

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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