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EBM Profa. Zulma Souza da Silva: exemplo de escola regular que promove a inclusão em Blumenau

Foto de uma sala de aula. Em primeiro plano uma carteira com um aluno (Pedro) sentado com sua professora (Lenira), fazendo uma atividade. Ao fundo outras carteiras e alunos.

A inclusão escolar ainda é um dos grandes desafios das escolas regulares. Mas, com dedicação, esforço e parceria genuína entre escola e famílias, a inclusão de alunos com deficiência se torna uma realidade. Na semana passada, compartilhamos um caso sob a ótica da família, onde Giselle Ávila compartilhou as estratégias usadas para que a inclusão do seu filho Pedro, autista, acontecesse da melhor forma na Escola Básica Municipal Profa. Zulma Souza da Silva, em Blumenau/SC, onde estuda há seis anos. Hoje, trazemos a ótica do colégio, sob o olhar de Marcos Aurélio Bahr, diretor da EBM Zulma e da professora Lenira Hawerroth, que atua na Zulma há 11 anos.

“Quando Pedro entrou em nossa escola, tínhamos em torno de cinco alunos com deficiência, despertando em nossa diretoria um olhar para a inclusão de forma ainda mais acentuada, com a necessidade de nos organizarmos para novas estratégias em educação especial. Atualmente estamos com 21 estudantes com algum tipo de deficiência, que requerem Professores de Apoio, e 33 alunos que são atendidos na sala multifuncional. Para promovermos, de fato, a inclusão no processo escolar, trabalhamos constantemente com os professores na percepção da necessidade de incluir todos os alunos, por meio de diálogos frequentes com profissionais da Secretaria da Educação, onde buscamos também aprendizagem sobre as diversas deficiências que existem para que possamos melhor atender os alunos e, assim, torná-los, de fato, parte integrante e participativa da escola, além de sempre nos mantermos atualizados em relação às temáticas da inclusão na escola”, salienta o diretor.

Foto de uma sala de aula, com todos os alunos da classe posando para a foto em frente a lousa. As professoras estão ao lado.

A professora Lenira Hawerroth, que leciona na EBM Profa. Zulma e atua na educação há 29 anos (distribuídos entre educação infantil, ensino fundamental e APAE), foi uma das professoras que não só participou da inclusão de Pedro na escola, mas ofereceu todo apoio e acolhimento à mãe do estudante, Giselle. Segundo a educadora, a inclusão de Pedro na jornada escolar foi desafiadora, até mesmo para ela, que já tinha conhecimento em Educação Especial e atuado como Professora de Apoio (PAP) e também Professora do Atendimento Educacional Especializado: “Iniciei na escola Zulma em 2013 como professora efetiva, assumindo novamente o Atendimento Educacional Especializado, onde foi então o primeiro contato com o estudante Pedro no contraturno escolar. No final de 2019 optei em deixar o AEE e assumir como PAP novamente, escolhendo auxiliar o Pedro, na época, matriculado no segundo ano, como um desafio a mim mesma em seu desenvolvimento. Mesmo com experiência na área da educação especial, cada estudante é único e tem suas especificidades. O desafio agora era nos adaptar mais ainda, pois no AEE, nosso contato era apenas uma vez por semana e durante uma hora, sem contar algumas faltas e feriados, o que reduzia o nosso tempo de interação. A família se colocou à disposição (e assim faz até hoje) para relatar como era o Pedro e essa postura foi fundamental para compreendê-lo como indivíduo. Contamos sempre com a parceria da família e, quando nos deparávamos com a resistência de alguns professores em relação à inclusão escolar, o diálogo e as reuniões eram as melhores estratégias, fazendo com que tais profissionais iniciassem também uma relação boa com o estudante. Vale ressaltar que tive muitas famílias parceiras nessa trajetória na educação especial, mas a dedicação da Giselle foi excepcional: ela sempre esteve em tempo integral nos auxiliando no desenvolvimento do Pedro”, destaca Lenira. (Confira aqui a matéria que fizemos com Giselle sobre as ideias que ela implementou na inclusão do estudante!).

Foto de uma escola, com um aluno (Pedro) sentado em uma mesa fazendo atividades com sua professora (Lenira) ao lado.

A professora ressalta ainda que um dos principais desafios enfrentados na inclusão de Pedro na EBM Zulma foi em relação à comunicação: “Como Pedro, além do autismo, também foi diagnosticado com apraxia de fala, a nossa comunicação se dava pelo olhar, pois pela convivência eu já o compreendia. No entanto, era preciso ir além, uma vez que era preciso que ele avançasse em relação à comunicação para participar das apresentações dos trabalhos, jogos e durante a sua permanência no ambiente escolar. Por isso, a parceria com a mãe Giselle foi essencial: nos apresentou o sistema de Comunicação Aumentativa e Alternativa, o PODD, em baixa tecnologia. Como Pedro também estava aprendendo a utilizá-lo, foi bem desafiante, no sentido de se sentir realmente pertencente às equipes em que fazia parte ou mesmo nas aulas de leitura. Em conversa com a família, acordamos então de trazer o PODD em alta tecnologia aos poucos, nos dias em que tinha apresentação de trabalhos. E, assim, explicamos aos colegas da sala que essa seria agora em diante a forma que Pedro apresentaria seus trabalhos. Porém, era preciso um aperfeiçoamento não só do estudante para utilizar corretamente o comunicador, como também dos professores. Neste momento foi fundamental um trabalho em conjunto com a equipe de profissionais que atendiam o estudante em clínica, principalmente da sua fonoaudióloga, que realizava visitas na escola para nos ensinar como utilizar o comunicador. Em 2023, essa ferramenta se tornou parte fundamental no dia a dia do Pedro. Por isso, digo: receber a criança pequena e poder acompanhar o seu crescimento, onde várias pessoas duvidaram de sua capacidade de aprendizagem por não ser oralizado, entre tantos outros questionamentos, e ver que é possível, sim, o seu desenvolvimento é muito gratificante. Ver hoje os avanços do Pedro não tem preço!”, salienta Lenira.

A professora destaca ainda: “Vivemos ainda em um mundo em que muitas vezes achamos que todos devem ser iguais e não é assim, há muitas diferenças que devemos respeitar, acolhê-las e dar nosso melhor. Sempre falo na escola que não são só os estudantes com laudo que necessitam de um olhar diferenciado, mas, sim todos, pois cada um tem sua história. Todos precisam ser ouvidos para se sentir acolhidos, seguros.  Só assim conseguirão se desenvolver e se tornarem seres melhores em nossa sociedade. Temos muito ainda que avançar na questão da inclusão, ainda encontramos resistência de muitos profissionais, mas cabe a nós professores acreditarmos que é possível plantar a sementinha da inclusão aos poucos. Cabe também a toda comunidade escolar buscar cada vez mais conhecimento sobre como lidar com todas as diferenças”, ressalta Lenira. 

Foto de uma sala de aula, onde o aluno Pedro está sentado em uma carteira, segurando um tablet e dando um beijo em sua professora que está sentada ao seu lado.

O diretor Marcos enfatiza que, entre os planos para este ano, a EBM Zulma pretende ampliar ainda mais os diálogos dos profissionais da escola com especialistas em inclusão escolar para aprimorar mais o conhecimento acerca da diferentes deficiências que existem e, assim, melhorar, constantemente, a qualidade da inclusão desses estudantes na escola.

Para as famílias, a educadora Lenira deixa a seguinte mensagem: “Imagino a angústia das mães em matricular um filho com necessidades específicas em uma escola e não poder estar lá em tempo integral para acompanhá-lo. Por isso, quando a família é parceira e está sempre em diálogo com os profissionais da escola para, juntos, focarem no desenvolvimento do aluno, a luta é mais leve. Por isso, não desistam, adotem os diálogos genuínos, pois os desafios são grandes, mas as vitórias são compensadoras”, diz.

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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