Prof. Thiago Pereira, Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento e especialista em Educação Inclusiva, traz reflexões importantes sobre a missão de educar

No dia 6 de agosto é comemorado o Dia Nacional dos Profissionais da Educação, data instituída pela Lei nº 13.054 com o objetivo de homenagear o trabalho qualificado dos profissionais que lidam com a educação no espaço escolar e com a formação das novas gerações. Para falar sobre o tema, entrevistamos Thiago Pereira, Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduado em Neurociência, em Docência do Ensino Superior e em Deficiência Intelectual, graduado em Pedagogia e Geografia. É servidor público da Prefeitura Municipal de São Paulo, onde atua na Divisão de Educação Especial (DIEE) da Secretaria Municipal de Educação (SME) de São Paulo. Professor do ensino superior, em cursos de pós-graduação em Atendimento Educacional Especializado (AEE), Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e Deficiência Intelectual (DI). Consultor em Diversidade e Inclusão. Pesquisador nas áreas do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA), Neurociência e TEA. Ele também ministra diversas formações continuadas para professores e gestores escolares que têm interesse em atuar na Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva.

Prof. Thiago encanta a todos quando fala da profissão de educador: com brilho no olhar, ele transborda o amor pela arte de ensinar ao mencionar os seus ideais por uma sociedade inclusiva, que batalha diariamente ao capacitar/formar diversos profissionais e em sua atuação como servidor público na Prefeitura Municipal de São Paulo, além de prestar consultoria em Diversidade e Inclusão para empresas, organizações sociais e órgãos públicos.
Recentemente, em parceria com Aracélia Costa (Ex-Secretária Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo; Especialista em Políticas de Inclusão e Diversidade; Executiva do Terceiro Setor e Consultora em Diversidade e Inclusão), fundaram o Instituto Cidade Inclusiva, que presta assessoria para o desenvolvimento de políticas públicas inclusivas com o objetivo da promoção do acesso de oportunidades para todas as pessoas, especialmente para aquelas em vulnerabilidade social. O Instituto Cidade Inclusiva nasceu com o propósito de apoiar a gestão pública e privada no desenvolvimento de políticas públicas, programas, projetos e ações que visem garantir, na ponta, o acesso e a inclusão das pessoas em vulnerabilidade social a serviços voltados à promoção, defesa e garantia de direitos.
“Vale ressaltar que o reconhecimento do trabalho dos profissionais da Educação deve abranger também todos que estão no âmbito escolar, como o professor, o inspetor de alunos, a merendeira/cozinheira da escola, os profissionais da limpeza, o agente escolar que fica na porta recepcionando os alunos, o secretário de escola, o coordenador pedagógico, o diretor de escola, o supervisor escolar – ou seja, todos são educadores, à medida em que trazem a importante experiência da convivência e, portanto, estão educando os alunos nos diversos ambientes da escola”, destaca Thiago.
“Além disso, é preciso que reflitamos sobre o modelo educacional existente hoje, que é arcaico, e também sobre o quanto nós – educadores – precisamos nos atualizar em relação ao processo de aprendizagem de nossos alunos, principalmente quando falamos de Educação Inclusiva. Se pensarmos que a Educação é um direito de todos, ela já deveria ser inclusiva por si só. Mas, ainda existe a segregação quando o assunto é alunos com deficiência, principalmente nas falas dos próprios educadores ao diferenciá-los como ‘alunos de inclusão’ – um grande equívoco, porque as pessoas com deficiência são estudantes como os demais da sala e não deveriam ser mencionadas dessa forma. Por isso, eu sempre ressalto a importância das formações continuadas como a melhor forma de conscientizar os profissionais que atuam na Educação para o que realmente é a inclusão escolar”, ressalta o especialista.
Na opinião de Thiago, além da formação, para que um profissional seja um educador de excelência são necessários os seguintes pontos: “A atualização acadêmica é fundamental em qualquer profissão, mas de nada adiantará todo o conhecimento se o educador não tiver empatia (colocar-se no lugar do outro), amorosidade, gostar de pessoas e saber ouvir o aluno – ou seja, coisas simples que são primordiais quando falamos do exercício de uma missão de vida, que é educar, mas que nem sempre são lembradas no dia a dia”, diz o especialista ao citar o exemplo do educador Paulo Freire, um dos mais renomados em todo mundo, que alfabetizou com seu jeito ímpar de ensinar e em tempo recorde cerca de 300 pessoas no povoado de Angicos/RN, e em torno de 40 horas.
Thiago indica ainda a todos os profissionais da Educação a leitura do livro “Sociedade Inclusiva: Quem cabe no seu TODOS?”, da jornalista Claudia Werneck, idealizadora da Escola de Gente, ativista brasileira em direitos humanos, pioneira na disseminação do conceito de sociedade inclusiva (ONU) na América Latina, sendo a única escritora brasileira recomendada oficialmente pela UNESCO e pelo UNICEF. O livro instiga o leitor a refletir sobre o uso da palavra ‘Todos’ e propõe um teste que denuncia o quanto este vocábulo é usado de forma leviana por todos nós. “Complemento que a leitura da obra de Claudia Werneck é válida para toda a sociedade, não apenas aos profissionais que atuam na Educação, ao nos fazer analisar o quanto também somos inclusivos – ou não – em nosso dia a dia. Afinal, a mudança para um mundo melhor e com justiça social para todos precisa começar primeiro em nós”, ressalta o educador.
O especialista lembra ainda que a Educação, de acordo com a Constituição Federal e a Lei Brasileira de Inclusão, deve estar acessível a todos: “Acessibilidade na Educação é sinônimo de Aprendizagem”. Essa constatação resume bem a questão da Educação Inclusiva: todos têm capacidade de aprender, por isso, é preciso também pensarmos não apenas nas pessoas com deficiência, mas em toda a diversidade humana, como por exemplo, os estrangeiros, indígenas, idosos, nos povos ciganos, nas diversidades de gênero, etnias, nos migrantes, entre outros – e isso sim é a verdadeira inclusão na Educação e na Sociedade!”, salienta Thiago, que, para conseguir trazer essa consciência à área da Educação – de que todo cérebro humano é capaz de aprender – tornou-se especialista também em DUA (Desenho Universal para a Aprendizagem) – abordagem que considera que o processo de aprendizagem deve atender todas as pessoas (com ou sem deficiência), em suas diferentes formas de aprendizagem, sejam elas visuais, cinestésicas (por meio da experiência) ou auditivas, respeitando as múltiplas inteligências e a diversidade humana.
Por isso, Thiago salienta a importância das universidades revisitarem o currículo dos cursos da área da Educação para uma melhor formação dos profissionais, ao considerar que as instituições de ensino brasileiras estão defasadas em relação a diversos países: “As universidades precisam incluir disciplinas fundamentais nos currículos dos cursos de licenciatura, como DUA, Comunicação Alternativa, Tecnologia Assistiva, Neurodiversidade, entre diversos outros temas essenciais para que um profissional esteja bem preparado para a atuação na área da Educação”, destaca o especialista.
Como inspiração para o exercício da profissão, Thiago destaca sua mãe, Denise Schiavi, também da área da Educação; além de Paulo Freire; Rubem Alves (psicanalista, educador e escritor); o escritor português e Reitor honorário da Universidade de Lisboa, António Nóvoa (reconhecido internacionalmente como um grande pensador da Educação na atualidade, que considera que para que aconteça a aprendizagem, é preciso levar em conta o sentir); a Dra. Nise da Silveira (médica psiquiatra brasileira, que foi pioneira na utilização de tratamentos humanizados para pacientes com transtornos mentais); Maria Montessori (médica italiana, educadora, pedagoga e criadora do método Montessoriano que é utilizado até hoje na Educação); e José Pacheco (educador português, antropólogo e pedagogista, grande dinamizador da gestão democrática na Educação e criador da Escola da Ponte).
A todos os profissionais da Educação, Thiago propõe a seguinte reflexão nesta data, tão relevante: “Como diz Rubem Alves: ‘Ensinar é um exercício de imortalidade’. Então, que cada educador possa refletir sobre o legado que está construindo hoje e que ficará eternizado na memória de cada aluno; afinal, nossa profissão é uma missão de grande responsabilidade e se o nosso trabalho resultar em memórias positivas na vida dos nossos estudantes, significa que fizemos a diferença e cumprimos com louvor a nossa profissão! Cito ainda uma frase de Madre Teresa de Calcutá, que me inspira na minha luta por uma sociedade inclusiva, e o meu desejo é que também inspire a todos que lerem essa matéria: ‘Somos uma gota no oceano, mas sem a nossa gota, o oceano seria menor.’ (Madre Teresa de Calcutá)”.
Confira também a matéria que fizemos com Thiago, onde contamos toda a sua trajetória de vida e sua jornada na área da Educação: Uma inspiradora história de superação e propósito de vida.