Com o isolamento social causado pela pandemia, as pessoas cegas ou com baixa visão passaram a enfrentar um desafio e tanto: os cuidados tiveram que ser redobrados em relação à higienização das mãos com álcool em gel 70% e, principalmente, das bengalas, que se tornam áreas de contato e, assim, apresentam risco de contaminações.
“De uma maneira geral, mesmo a vacina chegando de forma gradual orientamos que os deficientes visuais continuem tomando os cuidados, como manter o distanciamento, evitar aglomerações, mesmo que em família, ter o álcool em gel 70% sempre em mãos e evitar contatos físicos com as pessoas. Ou seja, as orientações em relação à pandemia vão contra as necessidades de qualquer pessoa com deficiência visual, porque ela precisa do contato físico ao tatear as coisas e pessoas. Por isso, o que orientamos é que, caso precise de um guia vidente, em termos de mobilidade, que segure no ombro ou no terço superior do cotovelo e, após chegar ao destino, que higienize as mãos com o álcool. Afinal, apesar da situação pandêmica, a vida continua e quem precisa ir ao mercado, farmácia, entre outros, tem que sair. Outra questão importante que ressaltamos sempre com os nossos alunos é sobre a higienização das bengalas, mesmo que a pessoa esteja isolada em casa: ela deve ser inteira higienizada com água e sabão, desde a ponteira, que toca o solo, até a área onde encosta o cotovelo”, esclarece Regiane Cândido Rodrigues Pires*, Fisioterapeuta, Especialista em Orientação e Mobilidade e responsável pela equipe técnica de Orientação e Mobilidade para crianças e adultos do Centro de Reabilitação Visual do Instituto Riopretense dos Cegos Trabalhadores.
“E, de uma maneira geral, aqui no Instituto estamos priorizando a saúde mental e a saúde emocional, que está ligada à saúde física, que, por sua vez, está ligada a um contato físico. Daí a necessidade de reforçar a importância das medidas preventivas em relação ao coronavírus, como o uso de máscaras e do álcool”, diz a especialista.
Regiane orienta que a qualquer sintoma diferente nos olhos, como dor, olhos lacrimejando, entre outros, que a pessoa procure um oftalmologista ou vá a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima, caso não tenha convênio médico. “Mesmo em pandemia, é preciso buscar um médico oftalmologista a qualquer sinal de alteração da saúde ocular para checar o que está acontecendo, se é alteração no fundo de olho, no campo visual, na retina, entre outros”.A especialista destaca ainda a relação entre a COVID-19 e a saúde dos olhos, que acende um grande alerta aos profissionais da área e à população: “Há relatos de pessoas que por conta da contaminação por coronavírus têm ficado com algumas sequelas pós-COVID que podem levar a alguma condição de perda de visão mesmo e que se caracteriza como uma deficiência visual. Eu já tive conhecimento, por exemplo, de uma pessoa que tinha cicatriz ocular por toxoplasmose e, depois de ter COVID, teve seu campo visual diminuído. Por ser um vírus muito novo, ainda não há comprovação científica, mas vários estudos e artigos já estão sendo divulgados sobre o assunto, além de diversas pessoas relatando sequelas na saúde ocular por conta da doença”, diz.
Abril Marrom
Abril é o mês que tem como campanha principal o Abril Marrom, com o objetivo de trazer conscientização à prevenção, ao combate e à reabilitação aos diversos tipos de cegueira. Apesar do mês já ter acabado e estarmos iniciando Maio, Regiane ressalta que os cuidados com a saúde ocular devem continuar e ser constantes.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 60% a 80% dos casos de cegueira são evitáveis e só no Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), são mais de 6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual. Daí a importância da conscientização acerca da saúde dos olhos.
“As causas mais comuns de cegueira e que podem ser evitadas são a catarata, o glaucoma, a retinopatia diabética, a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e a cegueira infantil. Quando diagnosticadas precocemente, essas doenças podem ser tratadas com sucesso e a perda da visão, evitada. Por isso, a visita ao oftalmologista deve ocorrer, no mínimo, uma vez ao ano”, explica Regiane.
Outra questão que a especialista levanta é que, independente se a pessoa já perdeu a visão total, ela deve fazer um acompanhamento regularmente da saúde dos seus olhos anualmente com um oftalmologista de confiança para verificar a pressão ocular.
Tecnologia para a facilitar a rotina em pandemia
O isolamento social trouxe o desafio aos cegos e às pessoas com baixa visão de, ao terem que sair na rua, como ir à farmácia ou ao mercado, manter o distanciamento social, seja na fila do caixa ou não esbarrando nas pessoas ou objetos dentro dos estabelecimentos.
Por isso, os dispositivos tecnológicos são excelentes aliados das pessoas cegas em tempos de pandemia. A Sunu Band, por exemplo, é uma pulseira tecnológica detectora de obstáculos próximos à pessoa com deficiência visual ou que estão se aproximando em um raio de 50cm a 5m do usuário. Os sensores do dispositivo detectam tanto objetos terrestres, quanto aéreos, como postes, por exemplo. Assim, a pulseira possibilita uma segurança maior ao usuário ao vibrar quando pessoas ou objetivos se aproximam, possibilitando que ele desvie e mantenha o distanciamento social, tão importante nos dias de hoje.
Dessa forma, a Sunu Band proporciona maior autonomia, mobilidade e segurança ao caminhar. Outro aspecto positivo é que a Sunu tem GPS interno, o que ajudará o usuário a ter mais segurança sobre o trajeto ao destino desejado.
A pulseira serve também como complemento ao uso de bengala ou do cão-guia, que jamais devem ser substituídos pelo dispositivo. A Sunu tem ainda indicação de horas, por meio de vibração ou por voz, e é integrada a um aplicativo no celular, disponível para Android e iOs, que possibilitará manter o software da pulseira sempre atualizado.
*Regiane Cândido Rodrigues Pires é Fisioterapeuta, Especialista em Orientação e Mobilidade e responsável pela equipe técnica de Orientação e Mobilidade do Centro de Reabilitação Visual – Instituto Riopretense dos Cegos Trabalhadores desde 1998.