O controle ou rastreamento do movimento ocular (do inglês ‘eye tracking’) é um método que permite que pessoas se comuniquem pelo computador por meio de seus olhos, a partir da seleção de objetos dentro de um dispositivo. “Muitas vezes, essa é a única forma do indivíduo manter a sua comunicação ou desenvolvê-la”, diz Vianney Figueroa, fonoaudióloga e especialista da Tobii Dynavox América Latina.
Como o próprio nome diz, o eye tracking determina aspectos diretamente relacionados à atenção visual do usuário, de forma a analisar os locais de foco visual, o tempo e a sequência – fatores que são relevantes para a análise ainda em contextos empíricos e reais sobre cognição e comportamento humano.
Trata-se de um método de acesso de Tecnologia Assistiva, termo usado para identificar todo o arsenal de equipamentos, práticas e serviços que tem como objetivo melhorar a funcionalidade das pessoas, de modo a estimular maior independência, autonomia, inclusão e, portanto, qualidade de vida. (Saiba mais nesta matéria!).
Como funciona
O rastreador ocular emite uma luz infravermelha, que é refletida nos olhos do usuário. Os reflexos são captados pelas câmeras rastreadoras oculares do dispositivo que, por meio de cálculo e filtragem, identificam onde a pessoa está olhando.
Mas, para que funcione como um sistema de comunicação, o eye tracking precisa ser utilizado com um aplicativo de Comunicação Alternativa (CA), que é elaborado especificamente para o uso em rastreadores oculares. “Vale destacar que nem todos os rastreadores oculares incluem aplicativos de comunicação, por isso é essencial verificar antes. Existem diferentes tipos de aplicativos, alguns baseados em pictogramas, imagens e textos. A escolha do App mais adequado deve ser feita juntamente com os profissionais (terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos) que apoiam o desenvolvimento da pessoa com necessidades complexas de comunicação”, explica Vianney.
Entre os aplicativos mais conhecidos de CA para uso com o controle ocular, estão: TD Snap, Communicator 5 e TD Talk, além de outros. E, para que o usuário consiga utilizar o rastreador ocular, é preciso checar também aspectos importantes para garantir o uso adequado do dispositivo:
- Posicionamento – a posição do usuário frente ao dispositivo precisa estar adequada para que o dispositivo consiga captar os movimentos oculares. O controle ocular precisa estar posicionado de acordo com a pessoa que irá utilizá-lo e não o contrário. O posicionamento mais correto é paralelo aos olhos, distando entre 50 a 90 cm, dependendo do tamanho da tela (quanto maior o tamanho da tela, maior a distância). É preciso checar ainda onde a pessoa utiliza o controle ocular na maior parte do tempo e, caso utilize suportes, é preciso também verificar quanto tempo consegue permanecer na mesma posição.
- Calibração – serve para relacionar a exata localização do olhar do usuário em relação ao ambiente. É durante esse processo que o sistema grava o centro da pupila e a relação córnea-reflexo, tendo como referência uma coordenada de parâmetro no monitor. O dispositivo grava um perfil específico para uma calibração feita e, dessa forma, não é necessário calibrar o rastreador ocular toda vez que o usuário for utilizá-lo. Além disso, a calibração difere para ambientes internos dos externos (caso o usuário esteja ao ar livre, a recomendação é que utilize um boné); uso de óculos ou não.
É possível ainda utilizar o controle ocular sem calibração, mas sua precisão é melhor quando o dispositivo é calibrado.
- Atualizações – é ideal sempre utilizar as versões mais atuais dos dispositivos, como sistema operacional do computador, do aplicativo de Comunicação Alternativa e do próprio rastreador ocular.
Quem pode utilizar o controle ocular?
Pessoas de todas as idades que precisam de um método de acesso para operar um computador e/ou se comunicar da forma mais eficiente e eficaz possível. “Devido às suas características motoras, elas não conseguem utilizar outro método de acesso direto, como sistema de toque ou mouse, ou usando métodos de acesso indiretos, como botões. Sendo assim, o eye tracking é um dos principais recursos utilizados no desenvolvimento da alfabetização, das habilidades sociais e, principalmente, da maior autonomia do usuário, que passa a ter a oportunidade de se expressar, estudar, trabalhar e, assim, gerenciar o seu ambiente, além de ter uma vida social ativa presencial e on-line. Vale ressaltar que utilizar o controle ocular é uma habilidade aprendida”, ressalta a fonoaudióloga.
Vianney ressalta ainda que é fundamental o conhecimento sobre o uso do rastreamento ocular por profissionais que atuam com pacientes com necessidades complexas de comunicação em terapias, como terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo. “O uso do eyetracking em terapias é essencial e traz diversos benefícios aos pacientes quanto ao desenvolvimento de memória, de atenção, das funções executivas, de uma linguagem expressiva e compreensiva, da alfabetização, além de contribuir com o desenvolvimento emocional do paciente. No caso de pessoas em situações de internação hospitalar, quando a comunicação está momentaneamente prejudicada, é essencial também que os profissionais de saúde também utilizem o recurso como forma de comunicação alternativa. E até mesmo no caso das pessoas com necessidades complexas de comunicação que estão internadas poderem se comunicar via controle ocular com a equipe médica, na ausência de seus familiares”, diz a especialista. É o caso do DJ Peu, um menino de 11 anos chamado Pedro, que tem paralisia cerebral e precisou ficar internado por conta de uma pneumonia. Segundo sua mãe Marcela Sena, como ele está acostumado com o controle ocular desde seus 3 anos de idade, conseguiu se comunicar mesmo na ausência de sua mãe com toda a equipe de enfermagem e médicos que o atenderam enquanto esteve hospitalizado. “Além de me comunicar o tempo todo sobre como estava sendo o tratamento, até live ele pediu para os enfermeiros fazerem no hospital”, brinca Marcela.
Hoje existem diversas ferramentas para avaliar os métodos de acesso mais indicados a um usuário, que são utilizadas por profissionais. A Civiam disponibiliza dois tipos de avaliação, que foram desenvolvidos pela Tobii Dynavox: ”Triagem de Comunicação” e “Formulário de observação de olhar”. Se você trabalha com Comunicação Alternativa e Tecnologia Assistiva, faça o download dos materiais clicando aqui. Há ainda a avaliação feita com o próprio rastreador ocular com o uso do Gaze Viewer ou não, onde o profissional vai avaliando áreas de foco do usuário, tempo da atenção, entre outros.
Tipos de controle ocular
Existem diversos tipos de eye tracking, desde os chamados de baixa tecnologia, quanto os de alta, cujo desenvolvimento é mais complexo (entenda melhor a classificação sobre baixa e alta tecnologia nesta matéria).
Por exemplo a placa de comunicação pelo olhar (Eye Gaze) que utiliza símbolos para Comunicação Alternativa e é considerado baixa tecnologia. É indicado para o uso em clínicas ou mesmo no ambiente familiar.
Já a categoria de alta tecnologia contém uma diversidade maior de dispositivos, como os da Tobii Dynavox (uma das pioneiras na fabricação de eye trackings): o PCEye e os I-Series, que apresentam funcionalidades mais complexas, de rastreamento ocular por infravermelho.
Pessoas que usam o controle ocular em suas rotinas
Julia Guida Nogueira Magalhães, de 26 anos, há um ano e meio, trabalha como Analista de Riscos Júnior na instituição financeira Itaú Unibanco, uma das maiores do país. Ela tem CMT4 (Charcot-Marie-Tooth), uma doença rara que compromete a parte neuromuscular, além de ser deficiente auditiva. Com o controle ocular, ela cursou o ensino superior e desempenha sua função com maestria ao trabalhar na modalidade home office. Veja a matéria que fizemos com ela, clicando aqui.
Pedro Sena Telles, mencionado acima, utiliza o controle ocular para estudar, pesquisar na Internet, interagir nas redes sociais e WhatsApp, ouvir músicas, jogar xadrez virtual e ser dj, o DJ Peu! Veja aqui a matéria que fizemos com ele!
Formado em administração pública na Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ricky Ribeiro foi diagnosticado com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) há 15 anos, quando tinha 28 anos. A partir da nova realidade, Ricky criou o Mobilize Brasil, maior portal sobre mobilidade urbana sustentável (de calçadas acessíveis a um transporte público de qualidade), que Ricky comanda por meio do controle ocular, além de ministrar palestras. (Veja mais aqui).