Pesquisar

Comunicação Alternativa pode ser aplicada em sala de aula com os recursos que a escola disponibiliza!

Foto de uma sala de aula, onde a professora está segurando uma prancha de Comunicação Alternativa sobre “Como estou me sentindo”, sentados no chão em frente da professora, 6 alunos erguem o braço, sinalizando que querem responder.

A comunicação é reconhecida como um direito humano, relacionada à possibilidade de diálogo e participação social, um instrumento para a garantia dos demais direitos dos homens e a construção de uma sociedade mais democrática.

No âmbito da educação não é diferente: o direito à comunicação a todos os alunos deve ser respeitado, mas, na realidade, nem sempre acontece quando há em sala de aula alunos com prejuízos na fala, ou na escrita ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade de falar e/ou escrever.

Nestes casos, oferecer meios alternativos de comunicação para que o estudante consiga se expressar e compreender o outro, tanto professores como os demais alunos, é fundamental para que consiga se desenvolver. Tais meios se referem à Comunicação Alternativa (CA) que, como o próprio nome diz, é uma forma alternativa ou suplementar validada de permitir que pessoas com necessidades complexas de comunicação (NCC) possam se comunicar e ser compreendidas.

Vale ressaltar que a CA é uma área da Tecnologia Assistiva (TA), cujo foco é melhorar a qualidade de vida das pessoas por meio de recursos e serviços (Confira a matéria que fizemos sobre TA aqui). Assim, a Comunicação Alternativa é destinada a pessoas com autismo, paralisia cerebral, Síndrome de Rett, Síndrome de Down, entre outras síndromes e condições relacionadas que afetem a oralidade.

Segundo Leandro Rodrigues, especialista em adaptação de atividades para alunos com deficiência, membro da Associação Brasileira de Pesquisadores de Educação Especial (ABPEE), pós-graduado em Educação, Diversidade e Inclusão Social, e fundador do Instituto Itard, apesar de ser totalmente benéfico, há ainda diversos mitos em seu uso que acabam dificultando o acesso à CA de quem realmente precisa, como por exemplo, acreditar que há habilidades cognitivas específicas para o seu uso, entre outros. “Não existe pré requisito de habilidades cognitivas, ou de vocabulário, ou necessidade de comprovar habilidades. Todos devem ter a oportunidade de se expressar. Todas as pessoas, independentemente da extensão ou gravidade de suas deficiências, têm o direito básico de fazer diferença, por meio da comunicação, nas condições de sua própria existência. – American Speech and Hearing Association”, diz. 

Porém, de acordo com Rodrigues, uma dúvida bastante comum de educadores é “Como ter certeza que meu aluno possui necessidade de utilizar a CA?”. Para trazer luz à questão, Leandro cita um teste de efetividade de comunicação, desenvolvido pela Tobii Dynavox, empresa sueca de alta tecnologia que produz recursos de comunicação alternativa e tecnologia assistiva, parceira da Civiam. Composto por perguntas de ‘SIM e NÃO’, o teste tem como propósito que professores e educadores tenham um norte sobre a necessidade do uso da CA pelo aluno. Quanto maior o número de respostas positivas, o estudante pode ser um candidato ao uso da Comunicação Alternativa. Confira as instruções de como aplicá-lo:

  • Responda sozinho ao teste e depois discuta seu resultado com a pessoa indicada (ex. médico, fonoaudiólogo, educador, etc.).
  • Peça que cada membro da equipe (ex., fonoaudiólogo, família, educadores, coach de trabalho, etc) responda individualmente as questões e, em seguida, discuta em grupo.”

A Tobii Dynavox também disponibiliza uma avaliação de necessidade de Comunicação Alternativa, em parceria com a Civiam (acesse aqui), que pode ser feita como parte da avaliação inicial de CA ou após a implementação de estratégias e ferramentas de Comunicação Alternativa. Por esse teste é possível coletar informações sobre atividades e formas de comunicação; interesses, habilidades de comunicação e situações nas quais a criança pode desejar se comunicar; além de habilidades necessárias aos parceiros de comunicação para que a criança se comunique com sucesso.

Após realizados os testes, se for analisada a necessidade do uso da CA pelo aluno, outras dúvidas passam a atormentar os professores e educadores sobre como iniciá-la e aplicá-la em sala de aula. “Com as ferramentas certas, seu aluno poderá ser alfabetizado, ter acesso a conteúdos complexos de português e matemática, poderá cursar uma faculdade e se tornar um ótimo profissional. Na área de programação é muito comum termos programadores cegos ou programadores autistas, por exemplo”, enfatiza Leandro, que ressalta que o mais importante e desafiador aos educadores é estabelecer uma comunicação efetiva.

“Mas, por onde e como começar?”. Segundo o especialista, essa é uma das dúvidas mais frequentes de professores e educadores que o acompanham em suas redes sociais e cursos. Para ele, é possível iniciar o uso da Comunicação Alternativa em sala de aula com materiais acessíveis e que os profissionais já têm acesso no dia a dia: “Resumindo, tudo o que você pode confeccionar aí mesmo na sua escola, com papel, caneta, cartolina, cola e tesoura”.

Os materiais citados por Leandro são considerados recursos de Comunicação Alternativa de baixa tecnologia – aqueles que não apresentam nenhum item componente eletrônico, não requerem, por exemplo, nenhum meio de alimentação para o seu funcionamento (pilhas e baterias). Entre os principais recursos dessa categoria estão as pranchas de comunicação alternativa, compostas por desenhos ou figuras, que podem ser montadas com recortes colados em papel. Ou seja, como diz o educador, são materiais acessíveis e disponíveis nas escolas. 

O “Kit de iniciação à Comunicação Alternativa em sala de aula”, desenvolvido pela Civiam em parceria com a terapeuta ocupacional Marisa Hirata Fabri e a Professora Doutora fonoaudióloga Sandra Cristina Fonseca Pires, é uma sugestão de recurso que facilita a rotina dos professores e, assim, promover de forma simples a CA em sala de aula. Com o kit, professores e educadores não precisam ter conhecimento sobre a Comunicação Alternativa, pois ele traz diversas pranchas de CA com temas variados e materiais diversos que facilitam o professor a trabalhar em sala de aula com alunos com prejuízos na fala. Há ainda um manual explicativo sobre como usá-lo e, a partir das pranchas prontas que compõem o kit, como os professores podem criar outras novas atividades a toda a sala, não apenas aos estudantes com deficiência. Dessa forma, o kit estimula a criatividade e a inclusão escolar, que é o principal propósito do seu desenvolvimento. (Confira mais sobre o kit clicando aqui).

Há ainda os recursos de média tecnologia, que apresentam algum tipo de eletrônica, mas seu uso é de média complexidade, como os vocalizadores, que são dispositivos que permitem a gravação de inúmeras mensagens de voz, facilitando a comunicação do usuário. 

Já a alta tecnologia apresenta componentes eletrônicos com maior nível de complexidade, tanto da tecnologia envolvida, como adaptação do usuário, e a disponibilidade de encontrá-los no comércio. Nesta categoria estão os softwares que desenvolvem as pranchas de comunicação –  ou seja, ainda que consideradas de baixa tecnologia, podem ser desenvolvidas por meio da alta tecnologia e depois impressas. Há ainda dispositivos que envolvem alta tecnologia, como os dispositivos de controle ocular (para acesso ao computador por meio dos olhos – veja nesta matéria a história do recurso), máquinas em Braille, tablets acessíveis. (Confira mais a fundo as diferentes categorias de recursos de TA clicando aqui).

Como diz Rodrigues, a Comunicação Alternativa é sempre bem-vinda e seu uso deve ser iniciado desde o nascimento de uma criança que apresentar atraso no desenvolvimento da fala. O importante é permitir e possibilitar a comunicação ao aluno de alguma forma.

Até o dia 4/2 estão abertas as inscrições para a Formação de produtor de material didático acessível, que será ministrada pelo Instituto Itard, e tem como objetivo ensinar professores e educadores a criar atividades usando recursos de CA para as diferentes disciplinas. Mais informações e inscrições (pelo link na Bio): https://www.instagram.com/institutoitard/

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

Artigos recentes