
Falar em tecnologia na educação é algo que assusta muitos professores e educadores, principalmente quando se fala em Tecnologia Assistiva (TA). Apesar de parecer algo complexo, na prática pode ser mais simples do que se imagina.
“Essa resistência à tecnologia está mudando, pelo menos quando o assunto é Educação Inclusiva. Se você é professor de Sala de Recursos de um Atendimento Educacional Especializado (AEE) sabe do que eu estou falando”, diz Leandro Rodrigues, especialista em adaptação de atividades para alunos com deficiência, membro da Associação Brasileira de Pesquisadores de Educação Especial (ABPEE), pós-graduado em Educação, Diversidade e Inclusão Social, e fundador do Instituto Itard.
O especialista ressalta que por ser o objetivo da inclusão escolar atender às características dos estudantes com deficiência e garantir seu pleno acesso à aprendizagem, os serviços e adaptações especializadas são fundamentais. E aí é que entram as tecnologias assistivas.
“Simplificando, podemos definir Tecnologia Assistiva como tudo aquilo que é criado para ajudar pessoas com deficiência a terem independência e serem incluídas, seja proporcionando ou ampliando suas habilidades de se comunicar, ouvir, ver, andar ou tocar”, explica Leandro. (Leia a matéria que fizemos sobre a TA)
De acordo com ele, é importante que o aluno com necessidades específicas também aponte aquilo que é relevante para a acessibilidade com base em sua experiência. “Por exemplo: nem todo cego conhece o Braille e, por isso, não adianta adaptar um livro para o sistema de escrita tátil e entregar para uma pessoa cega que não consegue ler em Braille. Para essa pessoa, talvez seja melhor adaptar o livro para um áudio-livro. É aí que a Tecnologia Assistiva pode ser acionada: há softwares com sintetizadores de voz que “leem” os livros e, dessa forma, os cegos podem ter acesso à leitura sem depender do Braille”, exemplifica.
Ou seja, a TA tem como foco a melhora da qualidade de vida da pessoa com deficiência por meio de recursos e serviços, como softwares, metodologias e estratégias. Assim, visa, principalmente, a autonomia, independência e a inclusão social, compreendendo desde uma simples bengala até sistemas computadorizados, como o controle ocular. “Estão incluídos brinquedos e roupas adaptadas, computadores, softwares e hardwares especiais, que contemplam questões de acessibilidade, dispositivos para adequação da postura sentada, recursos para mobilidade manual e elétrica, equipamentos de Comunicação Alternativa, chaves e acionadores especiais, aparelhos de escuta assistida, auxílios visuais, materiais protéticos e milhares de outros itens confeccionados ou disponíveis comercialmente”, esclarece o especialista.
Além disso, a Tecnologia Assistiva é interdisciplinar, uma vez que engloba diversas outras áreas, como engenharia, design, arquitetura, terapia ocupacional, fisioterapia, psicologia, entre outros. Por isso, de acordo com Leandro, os profissionais da educação não precisam, necessariamente, saber informática para aprender a utilizá-la. “Caso precise aprender a utilizar um programa sofisticado para criar pranchas de Comunicação Alternativa, como o Boardmaker (leia a matéria que fizemos sobre o software), isso é perfeitamente possível para você mesmo que não saiba informática básica. O grande “pulo do gato” é saber exatamente quais programas você precisa aprender. Por isso, é interessante conhecer as principais tecnologias assistivas que são utilizadas nas escolas”.
O especialista ressalta que, no contexto educacional, os recursos de TA vão muito além de softwares de alta tecnologia, como recursos que podem ser mais simples e que são fundamentais para o estudante com deficiência, como mouses e teclados adaptados, acionadores para pessoas com mobilidade reduzida, ampliadores de texto, mobiliário acessível, engrossadores de canetas e lápis, entre outros.
E, apesar de muitas pessoas não saberem, até mesmo nos computadores com sistema Windows há recursos de TA, como o caso da função “lupa”, que pode ser ativada quando o usuário pressiona as teclas “Win” e “+”, e desativada ao serem pressionadas as teclas “Win” + “Esc”. O especialista lembra ainda a citação de Mary Pat Radabaugh, diretora do Suporte Nacional da Pessoa com Deficiência da IBM dos Estados Unidos, sobre a função da tecnologia: “Para pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis” (Radabaugh, 1993).
Por isso, segundo Leandro, a TA auxilia as pessoas em suas vidas diárias, sendo uma de suas áreas a Comunicação Alternativa para estudantes com necessidades complexas de comunicação: “A CA é destinada a atender pessoas sem fala ou escrita funcional ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade em falar e/ou escrever. Recursos como as pranchas de comunicação, construídas com simbologia gráfica (BLISS, PCS e outros), letras ou palavras escritas, são utilizados pelo usuário da CAA para expressar suas questões, desejos, sentimentos, entendimentos. A alta tecnologia dos vocalizadores (pranchas com produção de voz) ou o computador com softwares específicos, garantem grande eficiência à função comunicativa”, salienta. (Leia a matéria que fizemos sobre comunicação alternativa).
Vale lembrar que, de acordo com ele, as próteses e órteses também são consideradas recursos de tecnologia assistiva, assim como equipamentos que facilitam a mobilidade das pessoas, como bengalas, muletas, andadores, cadeiras de roda manuais ou elétricas, entre outros.
“Se eu tivesse que escolher uma dessas categorias de tecnologia assistiva como mais importante, escolheria a Comunicação Alternativa. Acredito que a habilidade de se comunicar é a mais importante e através dessa conseguimos as outras coisas”, diz afirma Leandro, que destaca que o mais importante, além de conhecer as ferramentas, é conhecer o aluno que tem necessidades específicas: quem é ele, do que ele gosta e não gosta, e por aí vai. “Não existe um modelo de ensino para alunos cegos. Nem um modelo para alunos autistas. Cada aluno é único”, ressalta Leandro, que, para esclarecer a questão, exemplifica: “Meu filho de 3 anos gosta de robôs. Ele gosta muito de robôs. Se você entregar uma atividade para ele usando borboletas, irá fracassar com certeza”.
O especialista diz ser fundamental utilizar os interesses do aluno para estabelecer uma conexão que será única, longe de qualquer forma de padronizar a inclusão escolar por estereótipos – ou seja, não há um modelo, uma estratégia ou um método para que a TA seja aplicada para promover uma educação inclusiva. “Não existe um modelo de ensino para alunos cegos. Nem um modelo para alunos autistas. Cada aluno é único”, exemplifica.