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Entenda o que é Tecnologia Assistiva

Garotinha te cabelos claros usando óculos e uma camiseta azul, está sentada em frente a um computador, usando um mouse adaptado e um teclado com letras grandes e coloridas. Ao fundo tem outras crianças na mesma bancada e um adulto supervisionando.

Um audiobook que permite o acesso à leitura às pessoas cegas, bem como um caderno adaptado com linhas grandes para facilitar os estudos de pessoas com baixa visão; engrossadores de talheres para idosos que perderam a coordenação motora fina e não conseguem mais segurar um talher convencional; rampas de acesso nos estabelecimentos para que cadeirantes possam frequentar os locais. 

Esses são alguns exemplos de recursos de Tecnologia Assistiva (TA) –  o termo usado para identificar todo o arsenal de equipamentos, práticas e serviços que tem como objetivo melhorar a funcionalidade das pessoas, de modo a estimular maior independência, autonomia, inclusão e, portanto, qualidade de vida.

“Muitas vezes as pessoas já trabalham com Tecnologia Assistiva e não sabem, pois não têm o conhecimento da área e dos termos utilizados, mas, na prática, todo recurso que envolve adaptações com o objetivo de melhora da qualidade de vida pode ser considerado TA”,

esclarece Rafael Alves, especialista em Tecnologia Assistiva da Civiam.

De acordo com ele e para fins didáticos, os recursos são classificados em baixa, média e alta tecnologia e o que determinará a sua classificação é a ausência ou presença de componentes eletrônicos, o nível de complexidade que apresenta ao usuário e quão acessível é em termos de disponibilidade no mercado. “Vale ressaltar que não estamos comparando a efetividade do recurso. Por exemplo, um de baixa tecnologia pode ser tão eficiente quanto um de alta”, esclarece Alves.

Baixa tecnologia

Como o especialista explica, os recursos de baixa tecnologia são aqueles que não apresentam nenhum item componente eletrônico, não requer por exemplo pilhas e baterias, como as pranchas de comunicação alternativa, compostas por desenhos ou figuras, que podem ser montadas com recortes colados em papel para auxiliar pessoas com Necessidades Complexas de Comunicação (NCC) (leia aqui a matéria que fizemos sobre a TA e a CA). E, ainda que de baixa tecnologia, elas podem ser desenvolvidas por meio de softwares de alta tecnologia para depois serem impressas. São indicadas a pessoas com deficiência na fala, como Síndrome de Down, autismo, Paralisia Cerebral, entre outros, e têm como objetivo a inclusão social e o direito de expressar sentimentos e desejos.

Outros exemplos considerados recursos de baixa tecnologia são as bengalas e itens adaptados, como lápis, placa com resposta ocular de apontamento, engrossadores de canetas ou talheres, caderno com pauta aumentada, mesa escolar adaptada a cadeirantes, livros em Braille, regletes e sorobã, entre outros.

Média tecnologia

Já os recursos de média tecnologia, segundo o especialista, apresentam algum tipo de eletrônica, mas seu uso é de média complexidade, como os acionadores (que funcionam como o clique do mouse ou para acionar brinquedos adaptados) e vocalizadores (que, dependendo do modelo, permitem a gravação de inúmeras mensagens de voz, facilitando a comunicação do usuário). São indicados, respectivamente, para pessoas com mobilidade reduzida ou coordenação motora fina prejudicada, e para quem tem deficiência na comunicação oral. Há ainda os leitores de telas, indicados para as pessoas com baixa visão, que demandam aplicativos para seu uso, entre outros. 

Alta tecnologia

Os recursos de alta tecnologia são aqueles que apresentam componentes eletrônicos com maior nível de complexidade, tanto da tecnologia envolvida, como adaptação do usuário, e a disponibilidade de encontrá-los no comércio. Nesta categoria estão os softwares de desenvolvimento de pranchas de comunicação, controle ocular (para acesso ao computador por meio dos olhos – veja nesta matéria a história do recurso), dispositivos inteligentes, como pulseiras com a tecnologia sonar que auxiliam pessoas cegas em sua mobilidade, máquinas em Braille, entre outros.

“A Tecnologia Assistiva, por ser uma área muito ampla, traz algumas complexidades, como, por exemplo: uma cadeira de rodas pode ser um recurso de baixa tecnologia, mas se colocarmos um dispositivo eletrônico, como um joystick que facilite o seu controle da direção, tornando-a mais complexa e tecnológica, ela passará a ser de média a alta tecnologia. Por isso, é preciso entender todo o contexto para classificar um recurso”,

explica o especialista.

Ele complementa: “Se olharmos no dia a dia, vemos diversos exemplos de recursos de Tecnologia Assistiva e que as pessoas não sabem que se trata de TA: em um prédio, se o arquiteto e o engenheiro adaptam a estrutura da entrada para moradores idosos, estamos falando de TA. Ou seja, não é apenas uma área com a atuação de fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos. A tecnologia assistiva é interdisciplinar e abrange diversas profissões que muitas vezes as pessoas não sabem que fazem parte, como arquitetos, engenheiros, médicos, designers, entre outros”, diz Alves. Outro ponto que o especialista chama a atenção é para o fato de que é comum as pessoas entenderem que a TA é uma área que atende, em sua maioria, apenas pessoas com deficiência. “É preciso pensar que a acessibilidade e os recursos são para todos, como é o caso das esteiras de acesso da estação Consolação do metrô, em São Paulo – a grande maioria das pessoas prefere utilizá-las do que as escadas. Este é um clássico exemplo de recurso de tecnologia assistiva, acessível a todos, e que as pessoas não fazem ideia que seja TA. Outro exemplo é a Alexa, desenvolvido pela Amazon, que interpreta comandos de voz para realizar determinadas tarefas, como tocar música, falar a temperatura, entre outros. Assim como a automação residencial, também é considerada um recurso de alta tecnologia assistiva, que tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida pela facilidade que traz ao usuário em sua rotina”.

Tendências da TA

Rafael Alves, que ministra diversos treinamentos sobre tecnologia assistiva, ressalta que um dos principais desafios da área é fazer com que os profissionais possam pensar além dos recursos de tecnologia existentes e focar no atendimento ao paciente: “Precisamos pensar fora da caixa e focar como podemos melhorar a qualidade de vida dessa pessoa. Sempre menciono como exemplo a notícia de que um relógio smartwatch (da Apple) salvou a vida de um médico nos Estados Unidos por emitir um alerta pelo dispositivo por meio da função de detecção de queda. Além disso, a Inteligência Artificial também forneceu as coordenadas quase exatas de latitude e longitude para que o acidentado pudesse ser encontrado. Exemplos como esse que nos mostram o potencial da tecnologia assistiva, de salvar vidas, mas que poucas pessoas – até mesmo os profissionais que atuam na área -, pensam dessa forma”, explica o especialista.

Os recursos de tecnologia assistiva têm evoluído constantemente, mas, segundo Alves, é preciso que cada vez mais seja estimulada a cultura ‘maker’ (faça você mesmo), de que tanto profissionais da área da saúde, quanto os próprios usuários possam produzir suas próprias soluções: “Acredito que uma das tendências futuras que  é a ampliação e oferta das impressoras 3D, que estão revolucionando a forma como as pessoas com deficiência podem ter suas vidas facilitadas – imagine imprimir em um equipamento 3D um recurso que possa funcionar como um tipo de adaptação para degraus, que ajudará cadeirantes a terem acesso a estabelecimentos sem rampas de acesso e que pode ser levado em qualquer lugar. Eu sempre incentivo que as pessoas (usuários e terapeutas) pensem além do que já existe e busquem desenvolver o que for mais pertinente a cada paciente”, explica Rafael, que diz também que a Inteligência Artificial, como o caso do relógio da Apple, é uma das principais promessas do futuro da área de tecnologia assistiva. 

Para o especialista, pensar no acesso a todas as pessoas, não apenas a quem tem deficiência, ainda é um caminho que a sociedade tem muito a percorrer. “Trata-se ainda de uma conscientização das diversas áreas de atuação profissional. Exemplo disso, é a engenharia civil – às vezes observamos alguns prédios sendo construídos em um curto perímetro, mas, se as construtoras tivessem um olhar de tecnologia assistiva, poderiam se unir, dividindo os custos da estrutura do entorno e, assim, tornando as calçadas ao redor acessíveis”, exemplifica Rafael Alves, que faz um convite a todos pensarem sempre com o olhar da tecnologia assistiva como forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Rafael Alves, especialista em tecnologia assistiva na Civiam Brasil
Docente nas faculdades Hospital Albert Einstein e MultiAprimorar Instituto Educacional
MBA Health Tech – FIAP-SP
Pós-graduado em Terapia Ocupacional Aplicada à Neurologia – Faculdade Hospital Albert Einstein
Graduado em tecnologia da informação – IBTA-SP

Sigam-no: @rafaalvesz/

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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