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Quais cuidados tomar na hora de escolher um hotel acessível?

Foto em close de um rapaz oriental dentro de um banheiro acessível de hotel, mostrando a abertura da torneira monocomando.

A escolha do hotel ou da pousada para curtir as festas de fim de ano e as férias é um dos grandes desafios para pessoas com deficiência e seus familiares, uma vez que a acessibilidade ainda é um assunto que caminha a passos lentos em muitos estabelecimentos. 

Segundo Ricardo Shimosakai,  consultor especialista em acessibilidade, inclusão e turismo; criador da Turismo Adaptado, palestrante, instrutor e professor em cursos de graduação, pós-graduação e MBA, há pontos importantes a considerar na hora da escolha da estadia, que, caso não sejam checados antes, podem tornar a temporada um estresse. “A informação é o grande ponto de destaque, pois há estabelecimentos que se dizem acessíveis, por critérios próprios, quando, na verdade, não são”, enfatiza o especialista. 

Segundo ele, uma das formas de evitar surpresas desagradáveis é ligar para o hotel ou pousada de interesse, explicar as necessidades decorrentes da deficiência que a pessoa tem e informar se haverá equipamento disponível. “Exemplo disso, é a cadeira de banho, que, quando os hotéis disponibilizam, geralmente é no modelo mais simples, com rodas traseiras pequenas e braços fixos – que não é adequado no meu caso. Por isso, tento ser o mais específico possível, informando que preciso de uma cadeira com rodas traseiras grandes e braços removíveis. E, para evitar dúvidas, eu sempre envio uma foto do recurso que preciso, pois, muitas vezes, o atendente não faz a menor ideia das nossas necessidades, podendo até responder de forma irresponsável por falta de conhecimento”.

Por outro lado, Ricardo sugere também o contato com hotéis que não se identificam como acessíveis, mas que parecem ter uma boa estrutura. “Há hotéis que não estão identificados, seja porque a página na internet está desatualizada ou porque não há divulgação em relação à acessibilidade, mas apresentam estrutura acessível que pode ser suficiente para quem busca. Por isso, por mais que dê um trabalho a mais, vale a pena ligar para locais de interesse e checar”. 

O especialista ressalta ainda a importância de cada pessoa conhecer suas capacidades e seus limites, pois tendo esse autoconhecimento, saberá quais desafios conseguirá enfrentar pela falta da acessibilidade. Dessa forma, o hóspede não fica totalmente dependente apenas de locais acessíveis, o que diminui as opções de estadia. Ele exemplifica a questão com uma situação que vivenciou: “Em uma viagem para uma cidade do interior, soube que onde ficaria hospedado não era bem acessível. Ficaria difícil levar minha cadeira de banho, porque é grande e não é dobrável, o que ocuparia muito espaço no carro. Busquei, então, uma cadeira de banho de plástico dobrável. Testei antes em casa e vi que a cadeira escorregava um pouco, então adaptei algumas placas de borracha na base dos pés da cadeira e deu certo. Mas, vale lembrar que eu consigo fazer a transferência da cadeira de rodas para a de banho com certa facilidade, mas nem todo mundo consegue, daí a importância de nos autoconhecermos. E se eu não buscasse uma solução, eu não conseguiria viajar para tal destino com as pessoas que me convidaram”, explica. 

Ricardo destaca ainda a importância do hóspede ter o conhecimento do que é obrigatoriedade do hotel ou não, como, por exemplo, o assento de banho que, de acordo com ele, o estabelecimento é obrigado a oferecê-lo mediante solicitação prévia ou em até 24 horas após o pedido no local. 

Segundo o especialista, são diversos os problemas que os hotéis apresentam quanto à acessibilidade, como abertura de portas e de cortinas, de armários e da cama, entre outros. “Mas eu acredito que o banheiro é o grande desafio nas estadias, principalmente no caso de pessoas cadeirantes, por exemplo. Afinal, não queremos ajuda de ninguém do hotel para utilizarmos o banheiro. Detalhes como a aproximação do vaso sanitário, da pia, a altura do espelho, a presença de ducha higiênica, ou coisas que prejudicam os cadeirantes como canaletas para contenção da água, entre tantos outros aspectos, precisam ser pensados”, diz.  

Identificação da acessibilidade

Shimosakai salienta também a importância dos hotéis e pousadas identificarem o tipo de acessibilidade. “É muito difícil que os locais consigam atender a todos os tipos de necessidades das pessoas com deficiência. Por isso, é de suma importância que os estabelecimentos consigam listar tudo o que oferecem de acessibilidade, ao invés de mencionarem apenas se são ou não acessíveis. Dessa forma, é o hóspede que analisará se o local é suficiente ou não para ele”, sugere. 

Ricardo diz que outro grande problema está na hora da reserva das estadias: “Muitas vezes, os sites de turismo não oferecem a opção de quarto acessível. O mais seguro é entrar em contato diretamente com o hotel e confirmar a reserva específica. Vale lembrar que se as plataformas das agências forem atualizadas e disponibilizarem os quartos acessíveis, haverá maior agilidade na locação desses quartos, o que é lucrativo para os estabelecimentos”, orienta. 

Outra sugestão do especialista é verificar se há fotos atualizadas de quartos acessíveis nos sites dos hotéis e pousadas. Além disso, vale buscar por indicação de associações de pessoas com deficiência: “Muitas vezes, essas instituições acabam pesquisando as opções de estadias acessíveis para os visitantes, como no meu caso, que sou convidado a palestrar em diversas cidades e geralmente as reservas de hospedagem ficam por conta das associações que me contratam”, conta Ricardo.

Shimosakai ressalta ainda a falta de opção dos quartos acessíveis em diferentes categorias que alguns hotéis oferecem, para diferenciar o nível de conforto: “Os hotéis disponibilizam o quarto acessível como se essa fosse já a categoria entre os demais quartos e, portanto, só há uma opção – o que é um erro. Deveria haver também oportunidades de escolha de quartos acessíveis em todas as categorias que o hotel oferecer e, desta forma, ter a oportunidade de escolha como qualquer outro hóspede”, salienta.

Aos hotéis e pousadas que buscam tornar seus quartos acessíveis e funcionais, Ricardo Shimosakai oferece consultoria especializada: “Minha missão é inserir a prática correta da acessibilidade e inclusão na sociedade, buscando a acessibilidade e a inclusão da maneira mais funcional possível, de forma a beneficiar a todas as partes envolvidas”.

www.ricardoshimosakai.com.br – Em seu site, Ricardo posta diversas matérias sobre acessibilidade. Confira!

Instagram: @ricardoshimosakai/

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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