Pesquisar

Grupo Mulheres do Brasil, ISAAC-Brasil e Civiam promovem palestra “Comunicação Alternativa: dando voz às pessoas não oralizadas”

Foto do palco onde Eliana está com microfone na mão, ao lado está Samara em sua cadeira de rodas e ao fundo duas telas de TV com o slide da apresentação "CAA - O que é?"

No dia 7 de novembro, o Grupo Mulheres do Brasil, por meio do comitê Inclusão da Pessoa com Deficiência, liderado por Terezinha Silvestre Salamanca (@tsalamanca), foi palco da palestra “Comunicação Alternativa: dando voz às pessoas não oralizadas”, apresentada pela ISAAC-Brasil (capítulo brasileiro da ISAAC – International Society of Alternative and Augmentative Communication), em parceria com a Civiam, empresa com mais de 60 anos de fundação, que mantém até hoje o propósito de trazer ao mercado brasileiro os melhores recursos em Tecnologia Assistiva para melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência, e também soluções inovadoras para o aprimoramento da educação na área da saúde. 

A apresentação foi dividida em duas partes: a primeira foi conduzida pela fonoaudióloga Eliana Cristina Moreira, especialista em linguagem e membro do Conselho Consultivo na atual gestão da ISAAC-Brasil, que fez a sua autodescrição com o apoio dos pictogramas. Ela explicou o conceito sobre o que é a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), a quem se destina e de que forma é usada, segundo a ótica da ISAAC. “Vale salientar que a comunicação é um direito humano, assegurado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, assinado em Nova Iorque em 30 de março de 2007 aborda a comunicação no Artigo 2: ‘“Comunicação” abrange as línguas, a visualização de textos, o Braille, a comunicação tátil, os caracteres ampliados,  os dispositivos de multimídia acessível, assim como a linguagem  simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de  voz digitalizada e os modos, meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação, inclusive a tecnologia da informação e comunicação acessíveis’. Ou seja, podemos dizer que a CAA abrange todas as formas, seja um olhar, escrita, gestos, uso de símbolos ou pranchas ou livros de comunicação, e recursos tecnológicos, que permitem que uma pessoa com necessidades complexas de comunicação (PNCC) possa se comunicar além da fala – algo mais importante do que o recurso utilizado é a mensagem ser compreendida, permitindo, assim, a sua expressão”, ressalta Eliana.

Além disso, a especialista destacou os direitos básicos que a pessoa com deficiência tem de: escolher entre opções reais, dizer não e rejeitar escolhas, pedir o que quer, compartilhar seus sentimentos, ser ouvida e ter uma resposta ainda que seja ‘não’, ter um sistema de comunicação em ordem, ser um membro total e igual da comunidade à qual pertence, ser tratada com respeito e dignidade, que falem com a PcD e não sobre ela, e que as pessoas se comuniquem com sensibilidade quando se direcionarem à pessoa com deficiência.

Eliana abordou ainda alguns dos principais mitos em relação à CAA e que precisam ser constantemente explicados para que as barreiras ao uso da comunicação alternativa sejam quebradas:

  • CAA inibe o desenvolvimento da fala, quando, na verdade, ela estimula o desenvolvimento das funções comunicativas,
  • É necessário pré-requisitos para iniciar os trabalhos com a CAA, sendo que não há nenhum,
  • Existe idade limite para que a CAA seja iniciada, sendo que a CAA pode ser implementada em  qualquer idade,
  • Recursos de CAA são considerados a última alternativa, quando, na verdade, devem ser considerados uma das diversas alternativas.

A especialista ressaltou que não existe o melhor recurso de CAA, mas sim “o melhor recurso para aquela pessoa com necessidades complexas de comunicação”. Eliana exemplificou os diversos tipos de sistemas de CAA, destacando ainda que o uso de pranchas de comunicação não é válido somente para pessoas com deficiência: ela citou que durante a pandemia por coronavírus, a ISAAC-Brasil disponibilizou dois modelos de pranchas de CAA para os hospitais: “Lembrar desse fato muito me emociona, porque por meio das pranchas de CAA, os pacientes traqueostomizados puderam se comunicar com a equipe médica, bem como expressar suas emoções, como medo e angústia, entre outros aspectos que foram muito importantes naquele momento tão angustiante”. 

A segunda parte da palestra ficou por conta de Samara Andresa Del Monte, jornalista e vice-presidente da ISAAC-Brasil, que mostrou, juntamente com a sua mãe Claudia Del Monte, que tem ‘voz’ por meio da CAA e abordou os desafios que enfrentou e enfrenta por conta da paralisia cerebral. “Na hora do meu nascimento, tive falta de oxigênio porque o cordão umbilical se enrolou. Alguns neurônios morreram, mas não a minha vontade de viver”. Vontade essa que ela demonstrou e demonstra a cada fase de sua vida: iniciou sua jornada escolar na Escola de Educação Especial Quero-Quero, onde conheceu a CAA por meio do Bliss, um sistema de comunicação alternativa originário do Canadá. Com as terapias, a sua comunicação se deslanchou e até pranchas de CAA em inglês e espanhol foram providenciadas para que pudesse se comunicar em outros idiomas. Mas o seu sonho mesmo era frequentar uma escola regular, assim como sua irmã e seus primos. 

Foto de Samara no palco em sua cadeira de rodas junto com sua mãe Claudia com microfone na mão e no alto uma TV com uma tela da apresentação com a foto de Samara mais nova pintando com uma ponteira de cabeça

Aos 11 anos, Samara deu início à elaboração de uma revista, a “Mais dEficiente”, um projeto caseiro, que teve a primeira publicação em 2001, com o intuito de abordar os desafios das pessoas com deficiência e ressaltar as suas conquistas. E deu tão certo que, ao chegar à sua 9ª edição, recebeu apoio do governo federal e se tornou mais acessível com o Braille. Paralelamente à revista, quando Samara tinha 12 anos, as terapeutas que a acompanhavam acreditavam que ela estava pronta para realizar o sonho de estudar em uma escola regular e, assim, ela ingressou, após pesquisas da família sobre qual instituição tinha um viés acolhedor, na Escola Espaço Livre. “No início foi desafiador os professores entenderem a CAA, mas minha fonoaudióloga e terapeuta ocupacional orientaram a escola. Eu era o centro das atenções dos meus colegas, sentia-me uma ET, todos queriam saber como eu me comunicava, mas, com o tempo, essa curiosidade foi passando e, então, entendi: a inclusão estava feita: eu era igual a todos”.

Samara concluiu os estudos, prestou o ENEM e então, ingressou em Jornalismo na UNIP, conquista que rendeu à jovem matérias veiculadas na imprensa sobre a sua inclusão no ensino superior. Com o apoio das terapeutas na orientação à faculdade, Samara se formou na profissão, realizando mais de um dos seus sonhos. Assim,  com o MTB (sigla para o registro profissional de jornalista) em mãos, a sua revista “Mais dEficiente” foi ganhando um ar mais profissional e Samara passou a assinar como a editora responsável pela publicação. 

Foto de Samara olhando para sua prancha de CAA junto com sua mãe Claudia

Em 2020, em parceria com a mãe Claudia Del Monte, lançou o livro “Samara – Apaixonada Pela Vida: A paralisia cerebral não me impediu de ser a protagonista da minha própria história” – paixão essa que ela demonstra nas diversas atividades que têm que conciliar em sua vida: além das responsabilidades na ISAAC-Brasil, ela é atleta na modalidade Bocha Paralímpica pelo Clube ABPS/SP, adora dançar e está cursando Filosofia (que concluirá em breve): “Nunca vou desanimar ou desistir de fazer uma história diferente, espero que você também não!”.

Foto de uma mesa com diversos recursos de tecnologia assistiva sobre ela

Ao final da palestra, os participantes puderam conhecer alguns recursos de Tecnologia Assistiva, como controle ocular, vocalizadores e acionadores, que foram explicados por Tatiana Voivodic, diretora de Marketing da Civiam; e demonstrados por Bruno Bonfim de Oliveira e Mirella Boschini Bueno, do time de Tecnologia Assistiva da Civiam.

Confira todo o evento, que contou com transmissão ao vivo pelo YouTube do Grupo Mulheres do Brasil: https://www.youtube.com/live/sJbBtIQ3fBA

Foto do grupo que estava fazendo a palestra

Grupo Mulheres do Brasil

As mulheres são mais da metade da população brasileira: 104 milhões, que estudam, trabalham, são mães, filhas, esposas, funcionárias, empresárias, empreendedoras, artesãs – todas na busca pela conquista de um lugar mais digno e justo na sociedade. E foi pensando no protagonismo feminino e na potencialidade da força feminina unida, é que o Grupo Mulheres do Brasil foi criado em 2013 por 40 mulheres de diferentes segmentos com o intuito de engajar a sociedade civil na conquista de melhorias para o Brasil. Para isso, o GMB atua em parceria com diferentes esferas de poder para fomentar a adoção de políticas afirmativas e eliminar as desigualdades de gênero, raça e condição social.

Hoje, são 128.646 participantes no país e ao redor do mundo e o Grupo Mulheres do Brasil é presidido pela empresária Luiza Helena Trajano, que destaca: “O grupo não tem partido, apenas levanta a bandeira de uma causa: o Brasil”.

Logo do GMB com a tela do site.

Com o lema “fazer a roda girar”, o Grupo Mulheres do Brasil atua em 19 frentes, organizadas em comitês, a fim de que todas as questões prioritárias ao desenvolvimento do país sejam abordadas: Inclusão da Pessoa com Deficiência, 60+, Saúde, Vozes, Jurídico, Meninas do Brasil, Comunicação, Inserção de Refugiados, Igualdade Racial, Empreendedorismo, Educação, Cultura, Combate à Violência Contra a Mulher, Políticas Públicas, e  80 em 8 (visa diminuir as desigualdades entre homens e mulheres), entre outras.

O Grupo possui 150 Núcleos no Brasil e no exterior, já impactou positivamente mais de 943 mil pessoas e somente em 2023 realizou 205 projetos (acesse o link do Relatório de Atividades e Impactos 2023 clicando aqui).

As interessadas em fazer parte do Grupo Mulheres do Brasil devem preencher o formulário no link: https://app.grupomulheresdobrasil.org.br/cadastro/. A instituição recebe doações para manter as atividades do Grupo Mulheres do Brasil e fortalecer o seu propósito de transformar vidas. Saiba mais: https://www.grupomulheresdobrasil.org.br/contribuicao/

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

Artigos recentes