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O uso da metodologia PODD com o Tobii PCEye – entrevista com a fonoaudióloga Alessandra Buosi

Em julho do ano passado, publicamos uma entrevista com a fonoaudióloga Alessandra Buosi na qual ela falava sobre sua experiência com recursos de comunicação suplementar alternativa, em especial o Tobii PCEye Go. Recentemente conversamos com ela outra vez para saber mais sobre o PODD (Pragmatic Organisation Dynamic Display), uma “metodologia de estimulação de comunicação baseada nas funções de linguagem que a criança vai adquirindo durante seu desenvolvimento”, associado a outros tipos de recursos: pranchas de papel, tablets e o Tobii PCEye Go. Alessandra explica mais: “em linhas gerais o PODD é um método que estimula o desenvolvimento linguístico-cognitivo baseado no desenvolvimento natural, usando as palavras funcionalmente e de modo dinâmico. Ele parte do pressuposto que o modelo, ou seja a fala do adulto, deve ser representado por imagens também, para que a criança aprenda usá-las a partir daí”.

A fonoaudióloga iniciou sua formação neste metodologia em 2014, no Children’s Hospital at Montefiore – NY, Estados Unidos e, desde então, tem obtido muitas vivências dignas de serem compartilhadas. “Quando bem indicado e conduzido, o PODD possibilita a autonomia, independência e generalização de contextos comunicativos. Isso ainda surpreende a mim, às famílias e faz feliz a criança – que percebe que ela pode!” Ela nos dá alguns exemplos: “Tivemos uma situação de comentário seguida de pedido de ação em que a criança, de costas para o ar condicionado, usou o Tobii para dizer “estou com frio” e em seguida “acabou”. Ao perguntarmos: ‘você disse “acabou” porque quer que desligue o ar condicionado?’ imediatamente a criança respondeu “sim”. Outro caso interessante foi quando propus escolhermos um presente de Natal e a criança perguntou com o Tobii “quando?” e olhou para o calendário e voltou para o Tobii. Ficou claro que ela queria saber quanto tempo faltava para o Natal, e eu pude então mostrar isso no calendário.

Alessandra Buosi

Usar “mais” para pedir a repetição de uma brincadeira ou “não gosto” quando proponho uma atividade. Construir frases como “acho legal”, “acho ruim” ou “acho gostoso” permitem à criança demonstrar seus sentimentos sobre situações, pessoas, objetos, etc”. Não existe uma faixa etária especificamente mais adequada para uso deste método. Segundo Alessandra, isso depende de uma avaliação de vários fatores que englobam habilidades linguístico-cognitivas atuais, interação social e função visual, basicamente. “A criança mais nova que atendo iniciou com 1 ano e 11 meses e a mais velha iniciou com 11 anos, ambas com ótimos resultados! Mas, de modo geral, assim como em todo processo de intervenção, quanto mais precoce melhor.”

Na entrevista do ano passado, Alessandra enfatiza a importância da criança passar pelo processo de aprendizagem da linguagem oral expressiva paralelamente ao uso do Tobii PCEye e das outras ferramentas de acesso. Ela explica mais: “É preciso entender que, durante o desenvolvimento de linguagem, a criança vai explorando o universo ao seu redor com todos seus sentidos e a partir desta exploração, somada à interação com o outro, vai formando seu repertório linguístico. No caso de alguma dificuldade física ou funcional de realizar esses processos de exploração e interação, é preciso que o adulto dê ferramentas e auxilie de uma forma mais específica os caminhos da comunicação funcional e apropriada. O que acaba acontecendo é que no caso do desenvolvimento típico, isso é tão natural que os adultos nem percebem que estão “estimulando”.

uma das páginas usadas nos atendimentos

Quando existe uma desordem no desenvolvimento, apenas um profissional com formação na área consegue extrair o máximo que a tecnologia pode oferecer e tornar conversas possíveis, prazerosas e muitas vezes surpreendentes. Isso significa que com qualquer recurso, seja ele de baixa ou alta tecnologia, há que se pensar no desenvolvimento de linguagem com o auxílio de um profissional capacitado e não manter a crença de que simplesmente colocar um computador, tablet ou figuras diante da criança, possibilite que esta aprenda por si só”.

Após um primeiro período de experiência de uso do PODD em associação com o Tobii PCEye, ano passado, Alessandra observou ótimos progressos, alguns destes demonstrados nos gráficos abaixo, enviados por ela.

Neste mês de julho, Alessandra completará a segunda e última etapa da última fase do curso de formação em PODD. Que venham mais e mais novidades e boas notícias daqui pra frente!

Abaixo, alguns gráficos comparativos do uso do método sem e com o Tobii. Os nomes são fictícios. As avaliações e reavaliações que resultam nos gráficos são formadas por 20 perguntas respondidas pelos pais ou pelos pais com ajuda da  fonoaudióloga, acerca da forma que a criança utiliza para se comunicar no cotidiano e não apenas em situação isolada de terapia.

Entrevista de Alessandra para o Blog Civiam em 2015.

Até a próxima!

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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