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O ano letivo começa em Estiva/MG com a educação inclusiva ainda mais presente

Foto de uma sala de aula, onde professores estão sentados assistindo uma formação em educação inclusiva

Localizado na zona sul do Estado de Minas Gerais, o município de Estiva tem uma população de 10.340 habitantes, sendo 4.418 habitantes urbanos e 5.922 rurais. Conta com seis escolas municipais, sendo cinco de Ensino Infantil e de Ensino Fundamental I, localizadas na zona rural; e uma de Ensino Infantil na zona urbana, além de duas Escolas Estaduais também localizadas na cidade. O município tem em média hoje 40 alunos com deficiência e diversos alunos em avaliação para o diagnóstico correto.

Mas, mesmo sendo uma cidade pequena, Estiva mostra que tamanho não é argumento para deixar de lado a inclusão escolar de alunos com deficiência, pelo contrário: no ano de 2022, a Secretária de Educação do município, Rose Borges, com o apoio do prefeito Vagner Abílio Belizário, deu o primeiro passo criando o cargo de Professor de Apoio, que até o momento não existia, e, em seguida os contratou, não apenas para promover uma educação inclusiva, mas, principalmente, para mostrar a importância desse profissional junto ao aluno com TEA (Transtorno do Espectro Autista).

“Os grandes desafios que enfrentamos em nossas escolas com relação à inclusão de estudantes com deficiência são: o preconceito, e, às vezes, a falta de informação, tanto por parte dos familiares dos alunos, como também dos  profissionais”, salienta Rose Borges.

Foto de Jamila apresentando sua palestra

Em 2022, ela esteve presente na palestra “Autismo: desafios e possibilidades”, ministrada por Jamila Iara dos Santos, especialista em Transtorno Global do Desenvolvimento, fundadora da clínica Potencialize, mãe de Manuela e de Matheus, autista; fundadora do projeto Maternidade Autista e autora do livro de mesmo nome. Lançará em breve sua segunda obra: “Autismo, e se fosse seu filho?”.
Na ocasião, a especialista compartilhou com professores, pais e profissionais de equipes multidisciplinares sua história e sua incansável busca ao longo dos anos por informação e melhor qualidade de vida para o seu caçula.

Com os olhos cheios de brilho e emocionada com a história de Jamila, que representava e representa a de muitos pais que enfrentam diversos desafios para oferecer o melhor aos seus filhos com deficiência, Rose sentiu naquele momento o surgimento de um sonho: oferecer acolhimento não só às crianças com deficiência por meio da inclusão escolar em Estiva, mas também às famílias.

E, assim, em 2023, a Secretária levou o projeto de inclusão ao prefeito de Estiva, que prontamente abraçou a ideia, sendo um dos primeiros passos a organização do primeiro Seminário sobre autismo na cidade, realizado em abril. “A ideia foi trazer a informação para os pais de que um filho com autismo não vai ser uma criança esquecida em um canto. Assim como todas as crianças, ela tem suas possibilidades e suas limitações, mas ela é capaz, no seu tempo e na sua maneira, de se desenvolver. Além do que, o evento teve o intuito de permitir às famílias sonhar com um futuro melhor para essas crianças”, diz Rose.

Além disso, pensando em ofertar à equipe pedagógica mais conhecimento para sempre mantê-la atualizada, no mesmo ano, a Secretaria da Educação possibilitou a participação dos professores no curso de Atualização em Educação Inclusiva realizado pela Fundação Aprender para Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia de Varginha-MG.

O próximo passo foi a contratação, em agosto passado, de Jamila Iara para atender crianças com autismo das escolas municipais de Estiva, na Secretaria Municipal de Educação, com recursos de Tecnologia Assistiva (TA), como Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA): “Nossos professores conheceram a TA e a CAA nas apresentações da Jamila, o que os inundou de esperança de que, com os recursos certos, empatia e acolhimento, a inclusão acontece. Além do que, os materiais de CAA são fundamentais não apenas para pessoas com deficiência, mas também na área da saúde, aos pacientes que têm a comunicação prejudicada por alguma questão, como um acidente vascular, entre outros”, salienta a Secretária.

Segundo Jamila, foram iniciadas atividades com a avaliação dos marcos no neurodesenvolvimento das crianças com TEA e ou com suspeita do diagnóstico. Foram atendidas 23 crianças entre 2 a 12 anos. “Foram avaliados a socialização,  linguagem, autocuidado, psicomotricidade, desenvolvimento cognitivo, entre outros. As crianças não verbais, por meio do controle ocular, puderam expressar suas vontades e compartilhar seus sentimentos. Os resultados foram bastante positivos, como o caso de uma paciente de 8 anos que, por meio de pictogramas, comunicou: “Eu agradecer ajuda Tia”. Ver a evolução dessas crianças é muito gratificante. Já as verbais tiveram melhor repertório para comunicação, desenvolvimento de habilidades de vida diária, de aprendizagem, e desenvolvimento cognitivo e comportamental”, destaca.

Dessa forma, o sonho de Rose Borges foi ganhando forma e tomando proporções cada vez maiores, à medida em que, além do apoio do prefeito, mais pessoas passaram a sonhar juntamente com ela e com Jamila, como famílias e professores dispostos a fazer a diferença na vida dos alunos: “Assim, para melhor preparar as nossas escolas para a inclusão em 2024, fizemos uma capacitação com nossos professores de apoio e supervisores, ministrada pela Jamila, denominada “Autismo, me permita ser”, para melhor saberem lidar com os alunos com TEA, como momentos de crise, entre outros e, mais do que isso, conhecerem as particularidades de cada um para desenvolver suas potencialidades. Jamila organizou ainda uma oficina de criação de materiais inclusivos aos professores, o que os motivou bastante e possibilitou maior confiança para iniciarem o ano letivo com conhecimento e sabendo lidar melhor com a deficiência”, diz Rose, que ressalta: “Ter conhecido uma profissional como a Jamila, e tê-la contribuindo com a nossa equipe, foi uma das melhores coisas que nos aconteceu”.

Foto de vários professores preparando materiais inclusivos

“Os professores demonstraram abertura para trabalhar em equipe e a Secretária da Educação está focada em tornar Estiva uma cidade modelo em inclusão e acessibilidade às pessoas com necessidades específicas. Sabemos que quando falamos em escola inclusiva ainda estamos engatinhando, os desafios são diversos para todos que lidam com uma pessoa com deficiência, mas quando trabalhamos em equipe, a inclusão, de fato, é possível, desde que saibamos respeitar a essência de cada pessoa. Eu, como mãe atípica e profissional da área da Educação, estou extremamente orgulhosa de fazer parte dessa equipe, que caminha a passos firmes como ponte e parceira das famílias em prol do desenvolvimento e maior independência das pessoas com deficiência”, ressalta Jamila.

Rose Borges diz ainda que os próximos objetivos para este ano para a inclusão escolar em Estiva será a criação do CAEE (Centro de Atendimento à Educação Especial), que já está em andamento, com Sala de Recursos Multifuncionais (SRM), e uma equipe multidisciplinar onde as crianças com deficiência poderão receber todo apoio para a jornada escolar. “O espaço para funcionamento do CAEE já nos foi cedido pelo prefeito Vagner este ano. Atualmente o projeto Escola de Pais, acontece mensalmente na Secretaria Municipal de Educação com rodas de conversas com os pais dos alunos que são atendidos pela Jamila para compartilharem experiências, dúvidas e suas dores. Trazemos também especialistas para esclarecerem questões, mas principalmente para eles entenderem que não estão sozinhos. Afinal, nem sempre esse pai e essa mãe sabem lidar com o filho com deficiência, nem sempre têm paciência e entendimento sobre a condição da criança.  Então, buscamos ajudá-los, sendo também um local de acolhimento e ‘colo’ em muitos momentos. A ideia em termos uma sede exclusiva para o CAEE é ofertar terapias multidisciplinares, pois normalmente as famílias precisam buscar os atendimentos em outras cidades pela falta de profissionais especializados em Estiva”, ressalta. Ela complementa: “Estamos vivenciando um momento muito rico para a educação inclusiva em Estiva, construindo um caminho sólido para fazermos a diferença em nossa cidade, pois a inclusão é no dia a dia, enfrentando as dificuldades e sabendo acolhê-las. Temos certeza que ao oferecermos o melhor para os nossos alunos e nossos profissionais, o resultado será bastante positivo quanto à inclusão das pessoas com deficiência”.

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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