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Luísa, 7 anos, escreveu seu primeiro livro durante a pandemia com o uso do mouse ocular

Luisa escrevendo seu livro com a ajuda do mouse ocular


Luísa Peres Santos Rosa tem apenas 7 anos e a família aguarda ansiosa pelo lançamento do seu primeiro livro – “Boa Ideia” – neste final de ano como presente de Natal. A novidade poderia ser de qualquer lançamento de um livro infantil se não fosse o fato de que a pequena tem Paralisia Cerebral (PC) e desenvolveu o livro durante a pandemia com a ajuda do mouse ocular, permitindo expressar toda sua inteligência e potencial por meio da tecnologia assistiva. Luísa foi diagnosticada aos 8 meses de idade com PC, mas suas limitações motoras nunca foram barreiras para impedir o seu desenvolvimento.  

“Ela é uma menina muito alegre, esperta, inteligente! Ela adora ir à escola, conversar, estar com as amigas, ouvir música, ficar no computador, fazer passeios ao ar livre, andar com seu andador, brincar de faz de conta, ir à piscina e inclusive gosta de dias cheios de atividades. Tem preferência por massas, especialmente pizza, lasanha e espaguete. No computador, gosta muito de escrever, desenhar, ver vídeos e ouvir música no youtube”, dizem os pais Vinícius e Gina, que sempre buscam pelos melhores recursos que possam trazer melhor qualidade de vida à Luísa.

“ Tentamos a Comunicação Aumentativa e Alternativa quando ela tinha 2,5 anos, mas ela tinha muita dificuldade de apontar o item desejado. Além disso, apesar de falar devagar, ela era compreendida pelos que conviviam com ela na família, na escola e nas terapias. Por isso, acabamos descartando a CAA. Nossa busca incessante por possibilitar maior autonomia à Luísa, porém, continuava. Quando ela fez 5 anos e já pensando nos desafios de sua alfabetização, começamos a procurar recursos de tecnologia assistiva para leitura e escrita. Em 2018 encontramos o recurso do mouse ocular e a fonoaudióloga Cássia Feijó, que nos acompanhava, nos recomendou uma conversa com a terapeuta ocupacional Miryam Pelosi, que tinha o recurso assistivo de controle ocular Eye Tracker, da Tobii Dynavox, em seu consultório. Fizemos uma avaliação e ficamos muito felizes com o potencial da ferramenta, ainda que naquele momento a aplicação fosse limitada a jogos simples. Conseguimos comprar o equipamento no exterior e começamos a usá-lo de forma recreativa. Levamos a novidade à escola onde Luísa estudava, a Maple Bear, que se mostrou muito entusiasmada com o potencial da ferramenta. Contudo a aplicação era muito limitada, pois não havia o recurso do Windows Control, do Communicator, tampouco a acessibilidade do Windows 10. Em 2019, fomos em uma feira de tecnologia assistiva na UFRJ, por intermédio da Miryam Pelosi, e então tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre os recursos de tecnologia assistiva para uso com o computador. Inclusive, a escola da Luísa também levou alguns professores a este evento. Poucos meses depois fomos também à feira Reatech 2019 e conhecemos, através do Rafael, especialista da Civiam, o recurso do PCEye Mini, conjugado ao Windows Control, ao Communicator e ao Windows 10. Percebemos aí que tínhamos chegado a um recurso que atendia ao que a Luísa precisava. Nos organizamos, então, para a compra do PCEye Mini com Windows Control e Communicator. Solicitamos apoio ao Rafael da Civiam para treinar presencialmente a escola e a fonoaudióloga nas funcionalidades das ferramentas. Tivemos a preocupação de tornar o mouse ocular amigável a todos que têm interação com a Luísa de modo a aproveitar todo o potencial que a ferramenta oferece”, explica Vinícius.

A importância do alinhamento entre família, escola e terapeutas

E deu tão certo que o resultado não poderia ser diferente: a pequena passou a utilizar o mouse ocular todos os dias nas atividades escolares neste ano. Com o início das aulas on-line, em função da quarentena, o uso intensificou-se ainda mais. “Temos profunda gratidão à Maple Bear, filial da Freguesia (RJ). Pratica-se lá a inclusão verdadeira, onde Luísa se desenvolve em todo o seu potencial e é por isso o sucesso do uso do mouse ocular em sua alfabetização. O resultado que temos ocorre em função do comprometimento, da seriedade, da capacitação, do acolhimento, do carinho e da disponibilidade da escola em estar junto com a gente nessa empreitada”, agradecem Gina e Vinicius. Além disso, há frequentemente abertura no diálogo entre terapeutas e escola, com visitas da equipe às sessões de fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional e, por sua vez, as terapeutas também visitam a escola periodicamente para orientar toda a equipe.

“Nós já tínhamos alguns alunos com necessidades complexas de comunicação, mas a Luísa foi a primeira aluna com Paralisia Cerebral. Quando os pais dela nos falaram sobre os recursos de tecnologia assistiva para melhorarem seu desenvolvimento, algumas pessoas da equipe já conheciam tais equipamentos e já estávamos pensando em propor como alternativa para ela. Ou seja: ficamos felizes pois estávamos em sintonia com a família”, explica Lia Cardoso, coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental da Maple Bear Freguesia (RJ). Para melhor atender a pequena, a equipe resolveu fazer um treinamento na escola sobre o uso do mouse ocular, que foi ministrado pelo especialista da Civiam, Rafael Alves.

Segundo Vinícius, um dos principais benefícios que o mouse ocular trouxe à Luísa, em função de sua limitação motora fina, foi a agilidade de escrita sobre o teclado virtual, possibilitando maior autonomia. “Além disso, pela interação do mouse ocular com o Windows não somente a escrita é favorecida, também são facilitadas a seleção de alternativas e o apontamento de respostas. Assim, a verificação do aprendizado pela escola torna-se mais efetiva e a adaptação das atividades para a condição motora da Luísa torna-se tão trivial quanto incluir num arquivo de powerpoint algumas caixas de texto sobre as páginas do livro escaneado. Daí ela escreve as respostas nas caixas de texto com o teclado virtual do Windows utilizando o mouse ocular. Da mesma forma faz marcações de “X”, aponta respostas fazendo pontos na tela com a ferramenta de desenho do powerpoint, entre outros. Em matemática, realiza a contagem das unidades com auxílio motor e escreve as respostas nas caixas de texto. Com as aulas on-line na quarentena, hoje a maioria das atividades das aulas é realizada com o uso do mouse ocular”, diz. 

“Luísa é uma menina muito inteligente e empenhada e sempre nos surpreende positivamente! Com a tecnologia assistiva o seu desempenho foi além do esperado, porque tem domínio da ferramenta e tem utilizado diferentes recursos através do mouse ocular, o que possibilitou um desenvolvimento significativo na escrita durante esse ano de alfabetização. Luísa hoje é capaz de escrever textos e durante a pandemia escreveu um livro!”, encanta-se Anelise Portugal, professora assistente da Luísa.

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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