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Influencer Mariana Cândido é cega e inspira jovens a realizarem seus sonhos

Mariana usa vestido preto, bolsa rosa e pulseira Sunu, e está apoiada sobre parapeito, no fundo uma vista bonita da cidade
#pracegover: Mariana usa vestido preto, bolsa rosa e pulseira Sunu, e está apoiada sobre parapeito, no fundo uma vista bonita da cidade


“Você é especial do jeito que você é! Eu quero que vocês lutem pelos seus sonhos, que vocês nunca desistam de nada, mesmo que alguém fale alguma coisa que vocês não gostem, eu quero que vocês se sintam bem, mesmo sendo cegos ou baixa visão. Que vocês sejam felizes!”. É com essa mensagem que a estudante e influencer Mariana Cândido, 16 anos (fará 17 no dia 29 de setembro), busca motivar todas as pessoas na mesma condição que ela – cega – para que o fato de não enxergar não seja obstáculo para nada. Com a ajuda dos super pais Gleissy e Lucas, a adolescente sempre realizou – dentro de suas possibilidades – todos os seus sonhos.

“A Mari foi Miss Brasil Infantil em 2011 e tudo começou porque quando ela era pequena ela tinha duas amiguinhas no colégio que eram modelos de catálogos infantis e ela começou a ter essa curiosidade de como seria desfilar e ser modelo. Então, para melhorar a autoestima dela, mandei fotos para algumas agências de crianças e ela foi chamada pra fazer um catálogo e também foi convidada a participar de um concurso de Miss em Itajaí, aqui em Santa Catarina. Como ela foi a vencedora, ela foi pro Rio Grande do Sul para concorrer ao Miss Brasil Infantil, onde foi coroada. A partir daí surgiram muitas fotos pra ela fazer, desfiles que a chamavam só para marcar presença com o título de Miss Brasil e ela foi tomando gosto. Na época, ela tinha um Facebook e eu gerenciava a página, postando todas as fotos dos eventos que ela participava. Além disso, como a Mari sempre gostou muito de ir em shows de artistas e queria conhecê-los pessoalmente e o Lucas também trabalha aqui com eventos, conseguíamos sempre acesso ao camarim. Essas fotos com artistas também sempre rendiam muitas visualizações e, consequentemente, interações no Facebook”, explica Gleissy.

E, assim, naturalmente, sem que percebessem, o caminho como influencer já estava sendo trilhado. Em 2016 mãe e filha criaram o Instagram da Mariana e, desde então, convites para parcerias não param mais. Juntas, elas pensam em conteúdos, discutem a escolha de looks recebidos e as produções de roupas das marcas que fecham contratos com a jovem. Gleissy cuida de toda a produção e edição das fotos e a rotina da família é atarefada. 

“A Mari é quem responde a grande maioria dos comentários nos posts, directs e a única coisa que ela pede é que as pessoas coloquem a hashtag #paracegover e #textoalternativo para que ela possa acompanhar. Mas sempre conversamos e combinamos tudo que será postado”, diz Gleissy. A influencer é ainda embaixadora do Balneário Shopping, em Balneário Camboriú (SC), faz aula de teclado, terapia com psicólogo, atividade física com personal trainer e iniciará terapia ocupacional. E, assim, pai e mãe vão se alternando para ajudar no desenvolvimento pessoal e nos compromissos profissionais da adolescente.

História de vida

Mariana nasceu prematura de 26 semanas de gestação, condição que a tornou portadora de retinopatia da prematuridade, ocasionando a perda total da sua visão desde então. “A notícia não foi fácil, buscamos ainda oftalmos de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Quando ela tinha 5 meses, ela ainda tinha pressão alta no olho esquerdo e teve que fazer uma cirurgia onde os médicos tentaram ainda colocar uma prótese de vidro e colar a retina, mas sem sucesso. E então fomos encaminhados para o Instituto dos Cegos da região e a partir dali que passamos a conhecer esse mundo da deficiência visual e a fazer tudo com ela: terapias diversas, tratamentos, estimulação visual e tudo que estava ao nosso alcance para ajudá-la em seu desenvolvimento. Afinal, nós queríamos que ela tivesse uma vida o mais normal possível dentro das limitações dela, mas que ela tivesse todas as experiências que pudesse ter e não se privasse de nada que uma criança tinha direito. Não queríamos escondê-la do mundo por vergonha ou por medo do preconceito, apesar de ter passado muitos e por diversas situações desagradáveis. Mas nunca a deixamos escondida, pelo contrário, e então ela foi crescendo no Instituto dos Cegos”, explica Gleissy, que sempre lutou pelos direitos para uma vida mais justa e com qualidade para a Mariana. 

“Ela entrou no colégio no prezinho, na idade normal de qualquer criança. Porém, quando ela foi entrar no primeiro ano eu tive um problema com o Instituto dos Cegos da região, que fez uma avaliação que não condizia com a Mariana ao alegar que ela não estava apta a entrar naquele ano escolar. E assim foi um ano inteiro de muita luta, porque eu sabia de sua capacidade e, por isso, tive que solicitar análise ao Núcleo de Educação de Londrina, que constatou que realmente a avaliação do Instituto dos Cegos estava inadequada. Porém, somente no ano seguinte eu consegui matriculá-la no primeiro ano e por isso ela está um ano atrasada em relação aos estudantes de mesma idade, mas ela sempre cresceu entendendo a sua condição”, explica.

E assim, a vida da jovem seguiu com desafios e na adolescência não poderia ser diferente, segundo Gleissy: “ela estuda em um colégio inclusivo, com professores excelentes, mas ela fica muito triste quando ela gostaria de fazer alguma coisa, mas não consegue porque é cega ou quando alguém a discrimina ou a exclui de alguma atividade sem nem tentar fazer alguma coisa adaptável pra ela”, desabafa. 

Liberdade e autonomia

Para ajudá-la a ter mais segurança no dia a dia, principalmente nessa fase da adolescência em que ter mais autonomia é importante, Mariana tem contado com a ajuda da pulseira tecnológica Sunu Band, que tem o objetivo de detectar objetos distantes do usuário e, assim, fazê-lo desviar. “Como a Mariana não gosta de usar a bengala no colégio, a Sunu Band representou uma liberdade para ela, porque ela passou a se movimentar dentro do colégio com mais segurança e sem a utilização da bengala, o que a deixou muito feliz. Inclusive até a psicóloga do colégio disse que ela estava se sentindo mais segura, mais alegre”, diz a mãe da influencer. 

“Além disso, com a pulseira, agora em isolamento social dentro de casa eu tenho facilidades no dia a dia que antes eu não tinha, como achar o celular, me movimentar sem bater em nada que está no chão e isso tem me ajudado muito e eu tenho gostado demais da Sunu!”, comemora Mari. 

Pelo lado dos pais, Gleissy aborda também outros aspectos positivos do dispositivo: “para nós também nos trouxe mais segurança, porque na hora de deixá-la na porta de algum lugar, por exemplo, no dentista, ela consegue sair do carro sozinha e entrar na clínica, enquanto eu vou estacionar o carro. São pequenos trajetos e detalhes que com a Sunu ela se sente mais segura em fazer sozinha e nós também. Outra coisa é que ela não ficava de jeito nenhum sozinha dentro de casa, mas agora com a pulseira ela fica, porque sabe que não vai esbarrar em nada e se precisar sair de casa, por algum motivo, ela tem o GPS. Então percebemos que o psicológico dela melhorou bastante com a Sunu, trazendo mais confiança para ela e para nós!”, comemora a mãezona.

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Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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