No dia 24 de janeiro é comemorado o Dia Internacional da Educação, proclamado em dezembro de 2018 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, e tem o objetivo reforçar a importância da educação no desenvolvimento da humanidade em diversos aspectos.
No campo da área da saúde, a data ressalta ainda o quanto a educação continuada é um dos fatores primordiais para garantir a formação dos estudantes e a capacitação dos profissionais já formados, uma vez que precisam estar constantemente atualizados com as adversidades que surgem com as atualidades, vide a atual situação pandêmica trazida pela Covid-19 e suas variantes, além da H3N2.
A simulação clínica é um dos fatores que vem revolucionando a educação médica e, o que antes era considerado diferencial das instituições de ensino oferecer aos alunos o estudo da medicina por meio de simuladores, hoje já é considerado o fundamental para o preparo de um bom profissional da área da saúde.
“Quando falamos em formar Médicos, a simulação não deve ser vista como futuro da educação, pois sua contribuição é inquestionável e seu emprego já deveria fazer parte de todos os cursos de Medicina. De certa forma, em um momento em que discutimos o uso de outras tecnologias, como a inteligência artificial e outras estratégias educacionais de vanguarda para formar médicos competentes, ouso dizer que a simulação médica é o presente e será considerada passado da forma como a praticamos hoje, tendo em vista o grande desenvolvimento que podemos esperar que ocorra nesse campo em pouco tempo. Acredito que a instituição de ensino que não utiliza a simulação médica, no mínimo, peca em ofertar oportunidades de aprendizagem aos seus alunos, pois considero que não exista substituto equiparável para o desenvolvimento de uma série de competências requeridas ao futuro profissional. Desta forma, as instituições que ainda não tenham incorporado o uso de simulação em sua matriz curricular, a meu ver, devem, em primeiro lugar, olhar para sua proposta de formação profissional e avaliar se conseguem realmente graduar seus alunos com os atributos requeridos pela sociedade para um bom médico e, como acredito que a resposta a esse questionamento será negativa, devem compreender o potencial da simulação na formação em saúde e caminhar no sentido de assumir a responsabilidade de entregar o que todos precisamos, que é uma educação médica comprometida e responsável. Vale ressaltar que para aproveitar todo o potencial da simulação é preciso capacitação pedagógica e planejamento educacional para incorporar a simulação médica no momento certo, com o objetivo estruturado e da forma correta para permitir o adequado desenvolvimento do aluno. O simulador não ensina, mas um bom trabalho com o uso de simuladores apropriados permitirá o aproveitamento real de todo o potencial que o instrumento pode oferecer”, explica o médico Dr. Marco Aurélio Marangoni*, Coordenador e Professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Integrado (Campo Mourão/PR), onde também é responsável pelo Programa de Simulação no Curso de Medicina e pelo Hospital Simulado, em entrevista à matéria “Centro Universitário Integrado (PR) inova sua metodologia de ensino ao investir em plastinados von Hagens”, que fizemos para o nosso blog. Confira na íntegra aqui.
História da simulação médica
A origem da simulação médica, como é conhecida hoje, surgiu na aviação em meados de 1929 com Edwin Albert Link, que criou o primeiro simulador de voo: um protótipo denominado ‘Blue Box’, que era um dispositivo composto por cabine e controles, com capacidade para reproduzir movimentos e sensações de voo. Durante um ano, Link conseguiu ensinar o seu irmão a aprender a voar por meio do protótipo.
E, então, em 1930 a simulação passou a ganhar visibilidade como ferramenta de ensino, sendo a Link Aviation Devices (hoje CAE) pioneira na fabricação de simuladores para a capacitação de pilotos de forma segura. Hoje, no mundo todo é obrigatório o treinamento em simuladores e a manutenção de habilidades de pilotos em simuladores de voo.
Percebendo os benefícios da prática em simuladores, a área médica passou a enxergar na simulação realística uma importante ferramenta de ensino e treino com segurança aos estudantes no salvamento de vidas. E, então, em meados de 1968, durante as sessões científicas da American Heart Association, o Dr. Michael Gordon, da University of Miami Medical School, apresentou o primeiro simulador cardiopulmonar de paciente para a reprodução de quase todas as doenças cardíacas, variando a pressão arterial, sons e sopros cardíacos, pulsos e respiração.
Simulação médica no Brasil
O Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, é um dos pioneiros em simulação realística no país: em 2007 implantou o seu primeiro centro de simulação, tendo à frente o médico Dr. Marco Aurélio Marangoni que, na época, fez treinamento no Chaim Sheba Medical Center, em Israel, referência mundial em simulação médica, para a implantação no Einstein.
Hoje, a simulação realística é utilizada para a educação e capacitação contínua dos profissionais. Durante o auge das internações pela Covid-19, diversas instituições de saúde utilizaram a simulação como treino dos protocolos de segurança para diminuir as brechas da contaminação em relação ao uso e troca de equipamentos de EPI, utilizados pelas equipes de enfermagem no manuseio de pacientes infectados, por exemplo. Assim, com o ambiente controlado, os profissionais puderam treinar detalhes que, na situação de estresse e insegurança trazida pelas incertezas da pandemia, passavam despercebidos e se tornavam brechas de contaminações.
Pelo lado das instituições de ensino, cada vez mais, a simulação vem ganhando importância como essencial na formação dos profissionais da área médica, principalmente porque vem revolucionando a forma de ensino ao compreender não apenas as práticas de das habilidades técnicas, mas também como importante treino de capacidades fundamentais, como o gerenciamento de crises, trabalho em equipe e o raciocínio clínico com agilidade em situações emergenciais.
Por isso, a utilização da simulação no ensino médico tem sido vista com uma forma de aprendizagem completa, desde que a instituição de ensino tenha profissionais capacitados que saibam utilizar adequadamente os simuladores à grade curricular para extrair do recurso o seu máximo potencial para o desenvolvimento dos requisitos essenciais para que os estudantes estejam aptos a exercer a profissão.
Novas tecnologias: paciente virtual
Com o avanço das tecnologias, a educação médica também vem ganhando novos recursos para que os estudantes da área da saúde possam estar mais bem preparados em relação à sua atuação na vida real. O treinamento da tomada de decisões, que é fundamental no salvamento de vidas, vem sendo realizado com simuladores de paciente virtual, que simulam cenários e contam com a pressão do tempo para a resolução de uma emergência, possibilitam o treino do raciocínio ágil que comumente os estudantes serão exigidos em prontos atendimentos reais. A Body Interact, por exemplo, é um software de paciente virtual, que pode ser utilizado pelas instituições de ensino de forma individual ou em grupo. Há ainda a possibilidade de promover campeonatos entre equipes. Ao final, é realizado o debriefing, uma das fases mais importantes que apontará os acertos e erros dos usuários nas tomadas de decisões.
Durante a pandemia e com a migração das aulas para o formato 100% on-line, diversas instituições de ensino adotaram o paciente virtual como forma de manter o treino de raciocínio clínico, enquanto as atividades presenciais nos laboratórios de simulação não eram permitidas. Hoje, o que se considera como futuro da educação médica no país e no mundo é a inserção, cada vez maior, das tecnologias nas rotinas dos alunos, ainda que as atividades presenciais retornem após a pandemia.
Fontes:
https://www.abrassim.com.br/blog-rodape/134-simulacao-medica-um-grande-avanco-na-medica