Miryam Bonadiu Pelosi é uma profissional de Terapia Ocupacional que, há 28 anos, trabalha com pesquisas em recursos de Tecnologia Assistiva – que promovem ampliação de independência nas atividades cotidianas de pessoas com deficiência. Ela tem parte ativa na evolução desta área no Brasil e, na entrevista que você lê abaixo, Miryam nos conta um pouco sobre seus trabalhos, sobre a profissão de Terapia Ocupacional e informa os locais de atendimento para crianças de 0 a 13 anos aqui citados.
Terapeuta Ocupacional formada pela Universidade Federal de São Carlos (SP), especializada em Psicopedagogia Clínica; com mestrado e doutorado na área de Educação – pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Miryam Bonadiu Pelosi atua há 28 anos na área e, dentre os vários projetos que criou e/ou que ajuda a realizar, Miryam é também professora na UFRJ.
Ela iniciou seu trabalho na área de Tecnologia Assistiva, com mais ênfase na Comunicação Alternativa: “Sempre trabalhei com crianças motoramente muito graves, muitas com dificuldade de comunicação oral e me inquietava o fato delas estarem com seus sentimentos, desejos e necessidades aprisionados pela falta de comunicação”.
A Tecnologia Assistiva, nas palavras da especialista, define-se como um conjunto de recursos, estratégias, técnicas e serviços que possibilitam que pessoas com perdas funcionais ampliem sua participação em independência em suas atividades do dia a dia. É uma grande aliada dos profissionais da terapia ocupacional. À frente, Miryam explica mais sobre esta profissão, com informações sobre sua definição na Organização Mundial de Saúde e dados sobre seu histórico no Brasil.
A Evolução da área de Tecnologia Assistiva
“Historicamente, a Terapia Ocupacional tem utilizado adaptações para auxiliar pessoas com perdas funcionais na realização de atividades em diferentes áreas de ocupação. Com o avanço da tecnologia, surgiram recursos que podem favorecer mais autonomia, assim como ampliou-se a gama de serviços que podem ser prestados pelos terapeutas ocupacionais. Os recursos de Comunicação Alternativa, por exemplo, inicialmente baseados em baixa tecnologia, tinham as pranchas de comunicação em papel como seu principal instrumento. Com o desenvolvimento de novos recursos de TA (Tecnologia Assistiva), surgiram os comunicadores, computadores dedicados, softwares e aplicativos para diferentes plataformas, incluindo os dispositivos móveis.”
Andando junto com tais evoluções, existe o LabAssistiva (Laboratório de Tecnologia Assistiva) que, em 2014, passou a integrar o Núcleo de Pesquisa em Tecnologia Assistiva da UFRJ – ligado ao Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva, do Governo Federal. Do qual Miryam Pelosi faz parte desde o início. “O LabAssistiva é um espaço de intercâmbio de ideias, experiências, práticas, informações, produção e disseminação de conhecimento na área de TA. Seus objetivos incluem: pesquisar, desenvolver e implementar ações nesta área, para apoiar os diferentes segmentos da universidade e da comunidade; investigar o uso de diferentes recursos; programar e executar atividades na área de formação de recursos humanos, por meio de assessorias, cursos e seminários; desenvolver produtos e serviços e manter uma rede de comunicação com outros centros de estudo, visando a disseminação de informação.” Dentre os trabalhos realizados lá, há uma pesquisa que objetivou determinar o recurso mais adequado para favorecer a comunicação alternativa de 34 pacientes hospitalizados, do qual fez parte o Vocalizador S32 da Tobii que, segundo Miryam, era o único que possibilitava acesso por meio de varredura.
A Professora Doutora também trabalha no projeto ‘TO Brincando’, uma brinquedoteca terapêutica desenvolvida pelo curso de Terapia Ocupacional da UFRJ, em parceria com o Movimento Down e com o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira. E tem como objetivo desenvolver e disseminar conhecimento acerca do brincar adaptado, para crianças com deficiência. A equipe do ‘TO Brincando’ desenvolve novos jogos e realiza adaptações de jogos comerciais e brincadeiras que os envolvem: adaptações físicas do jogo; simplificação de regras; escrita de orientações com símbolos pictográficos; descrição de outras maneiras de jogar; desenvolvimento de recursos de comunicação alternativa, e atividades pedagógicas que facilitem o aprendizado dos conceitos apresentados no jogo. “Todo o material produzido é reunido em um Caderno de Atividades, com orientações para as famílias e brincadeiras para as crianças, e um Guia para profissionais da Saúde e Educação com o detalhamento de todas as sugestões. As publicações são distribuídas gratuitamente na forma impressa e disponibilizadas online no site do Movimento Down (www.movimentodown.org.br). As atividades criadas ficam disponíveis no Portal do Laboratório de Tecnologia Assistiva do Departamento de Terapia Ocupacional da UFRJ (www.portalassistiva.com.br). O material produzido apoia a assistência às crianças com deficiência atendidas no setor de Terapia Ocupacional do IPPMG.
Mais recentemente, como uma das iniciativas do Projeto TO Brincando, iniciamos um trabalho interdisciplinar entre a Terapia Ocupacional, a Fonoaudiologia e a Pedagogia para a elaboração de recursos que possam auxiliar o desenvolvimento do processo de leitura e escrita de crianças com deficiência.”
Os recursos de jogos virtuais Timocco e de controle ocular PCEye
Nos atendimentos da brinquedoteca terapêutica há crianças com Síndrome de Down que experimentaram os jogos Timocco. São jogos virtuais interativos que auxiliam no desenvolvimento de habilidades como: coordenação bilateral; coordenação óculo motora; treino de cruzamento da linha média; atenção; discriminação visual; memória de curto prazo; trabalho em grupo, entre outras habilidades. Segundo Miryam: “as observações iniciais mostraram potencial para um estudo mais aprofundado sobre as possibilidades dos jogos interativos no desenvolvimento de crianças com deficiência, no qual será incluído o Timocco.”.
Miryam conta também sobre seu trabalho com o dispositivo de controle ocular: “recentemente iniciamos o teste do PCEye no Centro de Referência em Tecnologia Assistiva do IPPMG. O dispositivo permite controlar qualquer computador apenas com o olhar, é fácil de usar, portátil e permite a utilização com máxima precisão. A calibragem é bastante simples para pessoas que tenham uma boa atenção visual, posição simétrica dos olhos e uma boa compreensão da tarefa a ser executada. Diferentes pranchas e jogos estão disponíveis para facilitar o treinamento, e o profissional pode criar suas próprias pranchas ou customizar modelos existentes. A ferramenta é incrível para pessoas com dificuldade motoras importantes, pois é infinitamente mais rápida do que o acesso por sistema de varredura.”.
Ela está atualmente trabalhando para conseguir mais funcionalidade deste recurso com crianças muito incoordenadas e que possuem pouca atenção visual. “Como todo recurso de Tecnologia Assistiva novo, o terapeuta deve se familiarizar com o mesmo para conseguir a melhor maior funcionalidade para o usuário.”
Esperamos que os bons resultados apareçam!
A Terapia Ocupacional
“No Rio de Janeiro, até 2009, não havia nenhum curso de Graduação em Terapia Ocupacional ofertado por uma universidade federal. Atualmente o curso é oferecido pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, à qual eu estou vinculada. A profissão de terapeuta ocupacional é reconhecida oficialmente no Brasil pelo Decreto-Lei 938/69. Em vigência até hoje, o Decreto regulamenta a profissão e a define como uma profissão exclusivamente de nível superior. O terapeuta ocupacional é um profissional essencial em várias áreas de assistência e há um déficit de profissionais no mercado brasileiro.
Para a Organização Mundial de Saúde, a Terapia Ocupacional é a ciência que estuda a atividade humana e a utiliza como recurso terapêutico para prevenir e tratar dificuldades físicas e/ou psicossociais que interfiram no desenvolvimento e na independência do cliente em relação às atividades de vida diária, trabalho e lazer.”
Locais de Assistência em Tecnologia Assistiva
O Centro de Referência na área de Tecnologia Assistiva para crianças de 0 a 13 anos. Ele está na Brinquedoteca TO Brincando, do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG.
O serviço é gratuito e fornece orientações nas áreas de Comunicação Alternativa e inclusão escolar para as famílias e profissionais.
Atendimento de Terapia Ocupacional
Atendimento gratuito, em grupo, de crianças de 0 a 13 anos, com Síndrome de Down, na Brinquedoteca terapêutica TO Brincando, no IPPMG.
Atendimento no ambulatório de Terapia Ocupacional do IPPMG.
Atendimento gratuito individual de crianças de 0 a 13 anos, com qualquer deficiência, no ambulatório de Terapia Ocupacional, no IPPMG.
Para agendamento:
Escreva para miryam.pelosi@gmail.com
Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG, Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, Rio de Janeiro – RJ.