Como professores podem ajudar alunos com este transtorno de aprendizagem
No dia 16 de novembro é comemorado o Dia Nacional de Atenção à Dislexia, definida pela International Dyslexia Association como um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por algumas dificuldades, como:
Na linguagem oral
Atraso no desenvolvimento da fala;
Problemas para formar palavras de forma correta, como trocar a ordem dos sons (popica, ao invés de pipoca) e confundir palavras semelhantes (umidade/humanidade);
Erros de pronúncia, incluindo trocas, omissões, substituições, adições e misturas de fonemas;
Dificuldade para nomear letras, números e cores;
Dificuldade em atividades de aliteração e rima;
Dificuldade para se expressar de forma clara.
Na leitura
Dificuldade para decodificar palavras;
Erros no reconhecimento de palavras, mesmo as mais frequentes;
Leitura oral devagar e incorreta. Pouca fluência, com inadequações de ritmo e entonação, em relação ao esperado para a idade e a escolaridade;
Compreensão de texto prejudicada como consequência da dificuldade de decodificação;
Vocabulário reduzido.
Na escrita
Erros de soletração e ortografia, mesmo nas palavras mais frequentes;
Omissões, substituições e inversões de letras e/ou sílabas;
Dificuldade na produção textual, com velocidade abaixo do esperado para a idade e a escolaridade.
Há diferentes graus de dislexia, normalmente descritos como leve, moderado e severo, de acordo com a severidade das dificuldades apresentadas pelo indivíduo. “A identificação precoce e o adequado processo interventivo são essenciais para minimizar os efeitos negativos da dislexia. Para tanto, há necessidade de conhecimento sobre a diversidade encontrada no transtorno, bem como a capacidade de adequar a intervenção à dificuldade da criança”, citam Sônia das Dores Rodrigues (pedagoga, psicopedagoga, psicomotricista, Mestre e Doutora em Ciências Médicas-Neurologia) e Sylvia Maria Ciasca (professora associada do Departamento de Neurologia – FCM/UNICAMP, Coordenadora do DISAPRE/FCM/UNICAMP) no artigo “Dislexia na escola: identificação e possibilidades de intervenção”, de autoria de ambas.
As autoras citam ainda que a compreensão da leitura envolve uma série de habilidades, que devem ser identificadas e trabalhadas no contexto escolar, de maneira sistematizada: “Essa conduta certamente favorece não só alunos com transtornos da aprendizagem, mas também todos os demais. Nesse sentido, chama-se a atenção para o que se denomina de Resposta à Intervenção (RTI), abordagem que vem se mostrando eficiente para intervenção da dificuldade de aprendizagem no contexto escolar”.
A RTI é um programa instrucional, multinível, voltado para prevenção, identificação e intervenção das dificuldades de aprendizagem, por meio do qual é possível identificar crianças com fatores de risco para transtornos de aprendizagem, como é o caso da dislexia. A abordagem exige que se realize avaliação, monitoramento do progresso dos alunos, bem como ajustamento das necessidades e intensidade do processo de intervenção, segundo a capacidade de resposta do aluno. “Ressalta-se que o RTI requer rigor na avaliação e intervenção, com o uso de método sistemático, cientificamente comprovado. Com relação à avaliação, por exemplo, testes e instrumentos específicos devem ser utilizados, não com o intuito de se fazer diagnóstico, mas sim para identificar áreas que necessitam ser trabalhadas por meio de intervenção dirigida.”, explicam as autoras.
Segundo as especialistas, feita a identificação das dificuldades de aprendizagem, é preciso realizar uma série de adaptações no contexto escolar, de modo que o aluno possa evoluir no seu processo acadêmico, de acordo com suas características e necessidades. Elas citam ainda, para fins de orientação geral, algumas recomendações, que foram baseadas na proposta da International Dyslexia Association, como dar tempo extra para completar as tarefas; oferecer ao aluno ajuda para fazer suas anotações; esclarecer ou simplificar instruções escritas, sublinhando ou destacado partes importantes para o aluno; reduzir a quantidade de texto a ser lido; destacar (com caneta apropriada) as informações essenciais em textos e livros, se o aluno tiver dificuldade em encontrá-las sozinho; utilizar tecnologia assistiva e meios alternativos, como “tablets”, leitores eletrônicos, dicionários, audiolivros, calculadoras, papéis quadriculados para atividades matemáticas, entre outros.
As autoras concluem: “Procurou-se demonstrar neste artigo que o professor, na sua prática diária, é elemento essencial não só para a identificação dos fatores de risco da dislexia, mas também para o seu diagnóstico e intervenção. O sucesso do processo interventivo dependerá, em grande parte, da atuação da escola, já que é nesse contexto que a criança permanece a maior parte do seu tempo. Intervenções com especialistas são fundamentais e, certamente, serão necessárias no curso do desenvolvimento da criança com dislexia. Entretanto, deve-se ter clareza que se trata de um trabalho de parceria. Sem a mesma, corre-se o risco de se produzir fracasso escolar, com todas as consequências que isso envolve”. Elas enfatizam ainda: “O processo de intervenção escolar não se encerra quando a criança com dislexia aprende a codificar e decodificar palavras e textos, já que a compreensão na leitura geralmente está prejudicada. Assim sendo, durante todo o processo educativo, a criança e/ou adolescente pode necessitar de atenção, muitas vezes individualizada”.
A terapeuta ocupacional Rayssa Béder sugere o uso de recursos lúdicos em sala de aula para potencializar as práticas inclusivas, como o “Discriminação Auditiva e Treino Articulatório”, que auxilia na compreensão dos sons das palavras, apoiando também na alfabetização dos pequenos. Neste contexto, a especialista indica ainda o uso de vocalizadores, que são dispositivos que permitem a gravação de mensagens de voz, como estratégia para potencializar a discriminação auditiva e aquisição de consciência fonológica durante a construção da aprendizagem. “Como mencionado pela International Dyslexia Association, os recursos de Tecnologia Assistiva são fundamentais na jornada escolar adaptativa de estudantes com dislexia. Utilizar os vocalizadores como apoio aos jogos para ouvir e gravar mensagens, como o que mencionei sobre a discriminação auditiva, contribuirá positivamente no desenvolvimento desses estudantes durante as aulas”, salienta a terapeuta ocupacional.
Além disso, a especialista reforça o uso de brinquedos pedagógicos no contexto escolar: “são uma ótima forma de auxiliar a aprendizagem de estudantes com esta dificuldade de aprendizagem, pois a forma lúdica de ensino e a diversão são estímulos bastante eficientes no ensino, não só para alunos atípicos, como também para os típicos”, ressalta.
Rayssa destaca ainda: “Os jogos de memória com correspondência entre letras e palavras, como “Memória do Alfabeto de A a Z”, ou ainda os que enfatizam o ditado com apoios de imagens, como “Cartas para ditado” e “Ditado mundo si-lá-bi-co”, entre outros, também são excelentes para que os professores consigam trabalhar em sala de aula com toda a turma, enfatizando a aprendizagem inclusiva e significativa, essencial para o desenvolvimento de alunos com dislexia”.
Confira esses e outros jogos educativos em:
https://www.lojaciviam.com.br/escola-inclusiva/brinquedos-pedagogicos
Fontes:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0103-84862016000100010&script=sci_arttext
https://bvsms.saude.gov.br/outubro-mes-de-conscientizacao-sobre-a-dislexia/
https://institutoneurosaber.com.br/rti-como-utilizar-esse-modelo-como-proposta-inclusiva/