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Dia Mundial de Conscientização do Autismo: quando o diagnóstico acontece na fase adulta

Dia 2 de abril é o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, data criada pela ONU em 2007 com o objetivo de promover conhecimento sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), bem como sobre as necessidades e os direitos das pessoas autistas. O autismo é um distúrbio do neurodesenvolvimento, sendo característico o desenvolvimento atípico, além de manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social; e padrões comportamentais repetitivos e estereotipados.

 Apesar de ser mais comum o diagnóstico na infância, há pessoas que são diagnosticadas na fase adulta. É o caso de Carolina Valomim, 40 anos, que criou o canal @umamulherautista (hoje tem mais de 76 mil seguidores), após ser diagnosticada com TEA aos 35 anos, a partir do diagnóstico de autismo de uma de suas filhas, Maria. “Iniciamos a investigação do diagnóstico de Maria aos 7 anos, mas a confirmação veio somente quando ela tinha 8 anos e meio. No dia em que a terapeuta veio conversar comigo para falar que o diagnóstico da minha filha era de autismo, eu quis entender mais a fundo a questão. Ela então foi me contando as características inerentes a uma pessoa com autismo e, nesse momento, eu me identifiquei em muitas dessas características. Relatei para a terapeuta, que me recomendou, na época, a buscar um psiquiatra para investigar o meu caso”, conta.

Carolina diz que ainda demorou alguns meses para marcar uma consulta com o profissional indicado: “No fundo eu tinha vergonha de estar buscando descobrir o que fazia eu me sentir diferente. Porém, a partir do momento que o consultei, passaram algumas horas de atendimento, testes clínicos e o diagnóstico foi confirmado”. Apesar da resistência inicial, ela afirma que o diagnóstico foi extremamente importante: “Eu sempre digo que o diagnóstico salvou a minha vida. Foi uma existência inteira sem me entender, me achando estranha, diferente da maioria”. E tal sensação de estranheza era por conta de alguns dos sintomas que ela apresentava, como comportamentos compulsivos, como comer algo que gostasse ou ouvir uma música favorita de forma exagerada (mais de 300 vezes em um dia). Além disso, Carolina cita ainda a sensibilidade extrema com alimentos, texturas e superfícies (tais como não conseguir pisar descalça no chão – ela anda de meias até hoje); e com barulhos e sons. Outro sinal que ela destaca era a grande dificuldade em fazer amigos e se conectar às pessoas, e ser sempre a última pessoa a entender uma piada. Muitas vezes, ria para fingir que tinha compreendido, além de apresentar ‘manias’, como a de afinar a voz para conversar com as pessoas ou fazer um tom estilo desenho animado. Segundo ela, são características comportamentais inerentes ao autismo.

Carolina cita também o hiperfoco, que sempre teve em temas relacionados com artes, viagens, bandas, músicas e lugares, e que, de acordo com ela, sempre foi algo positivo em sua vida. O hiperfoco mais recente que ela diz ter é a Coreia, que, curiosamente, iniciou ao conhecer a cultura coreana por meio do K-pop e dos doramas (bandas de músicas e novelas coreanas, respectivamente), apresentados por sua enteada. “Em 2017, a Ana Julia veio passar férias conosco e me apresentou a esse universo coreano. Foi amor à primeira vista, que dura até hoje. Inclusive minha primeira viagem pra fora do Brasil foi pra Coreia do Sul, em 2018 e depois novamente em 2022”, diz. “A Coreia é só um deles, já tive centenas de hiperfocos ao longo da vida. Todas as vezes que um hiperfoco surgiu, teve a ver com arte, música ou viagens. E quando criança meu grande hiperfoco também era Inglês, tanto que aprendi cedo e aos 13 anos já era fluente”, relembra. Ela conta ainda que já teve hiperfoco nos EUA, que a fez batalhar pelo visto e visitar o país duas vezes.

Carolina destaca ainda que o diagnóstico de autismo a fez também dar uma guinada em sua vida profissional: “Sempre foi um sonho ter meu próprio negócio, mas até pela minha falta de diagnóstico e autoconhecimento, eu jamais me achei capaz de realizá-lo. Há 3 anos, após muita terapia, que foi fundamental para me ajudar a entender minhas potencialidades; fazer análise neuropsicológica, que me trouxe essa clareza de que eu poderia, sim, gerir uma empresa própria, é que decidi realizar meu sonho: abri uma empresa de consultoria em vistos e estou no terceiro ano empreendendo”, diz ela, que trabalhou como professora de inglês por anos, secretária bilíngue e também com fotografia.

“A partir do diagnóstico de TEA, outros diagnósticos vieram, como o de ansiedade crônica, o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) e a fibromialgia. Ou seja, o diagnóstico de autismo foi o pontapé inicial para que eu começasse a me conhecer de verdade e começasse a buscar qualidade de vida”, destaca.

Neste Mês Mundial de conscientização do Autismo, Carolina ressalta: “Ainda falta muita vontade das pessoas em aprender sobre neurodiversidade, deficiências e afins. A falta de conhecimento leva ao preconceito e ao capacitismo, infelizmente. Eu ainda sonho em ver uma sociedade mais consciente sobre esses temas, principalmente porque tenho 3 filhas inseridas nessa sociedade, sendo uma delas autista. Que as pessoas parem de julgar o que consideram estranho e olhem para nossas potencialidades. Somos capazes, e muito. Que não nos subestimem e principalmente que nos respeitem!”.

Em seu Instagram @umamulherautista, ela compartilha a rotina da sua família (o marido Paulo e suas filhas: Gi, 17 anos, Maria, 14 anos, e Aninha, 8 anos) “para mostrar os desafios, vitórias e derrotas de alguém que, pela própria história, tinha tudo pra “dar errado” mas decidiu trilhar o caminho contrário e buscar o melhor”. Confira!

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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