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Dia dos Namorados: Gabrielle Ramos fala sobre os desafios do autismo no namoro e como foi o casamento adaptado!

Foto de um casal jovem saindo do altar após o seu casamento.

No Dia dos Namorados, nada melhor do que uma história de amor para inspirar aqueles que já estão desacreditados de que é possível ‘encontrar a alma gêmea’. Gabrielle Ramos, 24 anos, e Lucas França, 31, mostram que paciência é um dos segredos para que uma relação dê certo: ela é autista e ele teve que compreender e se adaptar a várias peculiaridades do autismo, inclusive para a cerimônia de casamento dos pombinhos, que aconteceu em maio!

Gabrielle conta que apenas aos 17 anos é que recebeu o diagnóstico de autismo: “Desde que eu era criança, tomava medicamentos e sempre tive acompanhamento de neurologista, psiquiatra, psicólogo, além de várias adaptações na escola, como fazer prova em sala separada, ter um crachá que me permitia ficar fora da sala por um tempo, porque eu não conseguia permanecer muito tempo na classe, mas não havia um diagnóstico. Como eu sempre tive bastante suporte e adaptação, a questão do diagnóstico não tinha tanta importância. Mas, quando ingressei na faculdade tive o acompanhamento de uma nova profissional e a instituição de ensino solicitou um laudo. Foi então que a neuropsicóloga deu o diagnóstico de autismo e me explicou tudo sobre a condição”, relembra.

E essa leveza com que sempre tratou as questões inerentes às suas peculiaridades é que também permeou a relação do casal: “Nos conhecemos em 2019 no trabalho, na 123 Milhas – primeira empresa que me acolheu e me proporcionou tudo o que eu precisava para me desenvolver e onde permaneci até 2021. Na época, eu fui para o setor de tecnologia e o Lucas era programador. Iniciamos uma amizade que evoluiu para o namoro, que não foi nada fácil para ambos. Da minha parte, conviver com outra pessoa era um desafio por conta da seletividade alimentar e da questão da rigidez cognitiva. Para exemplificar, o Lucas queria comer alguma coisa e eu só comia brócolis, então no começo ele teve que aceitar e se adaptar a comer só brócolis também, mas aos poucos, com muita paciência, ele foi me mostrando outros alimentos, a provar algo que eu não me sentia confortável; ou conhecer lugares novos a pedido dele. Por isso, uma das coisas que foram essenciais em nosso namoro foi entender os sentimentos de cada um, porque, muitas vezes, as pessoas não falam o que estão sentindo ou pensando, acham que as coisas estão subentendidas. O Lucas precisou ser bem mais direto em muitos pontos, expor o que estava sentindo ou pensando, porque eu não ia adivinhar”, ressalta Gabrielle.

Casamento adaptado

Passado um ano de namoro, o casal noivou em 2023 e Gabrielle conta os desafios durante o planejamento do casamento, que aconteceu em maio deste ano: “No início, o Lucas queria muito fazer festa, mas eu detesto ambientes com muito barulho e tivemos que chegar a um acordo – que foi não ter festa, mas uma comemoração também cheia de adaptações, como o tempo reduzido da cerimônia; a música com duração menor do que tradicionalmente teria, além da maquiagem: a maquiadora preparou um ambiente exclusivo para mim, silencioso, com um preparo rápido, já que eu não conseguiria ficar sentada por muito tempo. Foi ainda uma make leve, sem muitas texturas e sem cílios postiços. O preparo do penteado demorou um pouco mais, porque foram feitas várias pausas para eu poder levantar e me movimentar”, diz.

Ela destaca ainda que a escolha do vestido também exigiu cuidados, pela questão sensorial: “Primeiro, eu me recusei a experimentar qualquer vestido. Falava que ia comprar pela internet e até cheguei a escolher alguns modelos. Buscava um vestido liso, sem renda e com tecido leve. Mas, depois me convenceram a experimentar em loja e então escolhi um estabelecimento bem tranquilo. Teve vestido que não quis experimentar por conta do tecido, mas, assim que escolhi o modelo ideal – com um tecido que não me incomodava tanto -,  as atendentes tiraram rapidamente as medidas para eu não ficar com o vestido no corpo por muito tempo, além de tomaram o cuidado de não deixar a costura encostando na pele. O sapato social deu lugar a um tênis feito sob medida para ficar confortável. O véu também foi colocado de forma que não me incomodasse”.

Foto de um casal de noivos de costas, e no tapete o símbolo do Atlético mineiro

Gabrielle conta ainda que os fotógrafos também respeitaram bastante a questão da rapidez, juntamente com a cerimonialista. “Além de tudo isso, também foi bastante importante a questão da previsibilidade, como ler todo o roteiro antes, ter a explicação da cerimonialista sobre como aconteceriam os momentos e ensaiarmos a cerimônia. Ou seja: foram diversas pequenas e grandes adaptações fundamentais para que eu conseguisse participar do ‘grande dia’ de forma tranquila”, destaca. E, como ela brinca em seu instagram @de.tudo.autista/, o hiperfoco também não ficou de fora do casamento e fez parte da decoração: o tapete do caminho dos noivos estava estampado com o símbolo do Atlético Mineiro, o time de futebol do qual é torcedora.

Por isso, neste Dia dos Namorados, Gabrielle diz às pessoas que, como ela, têm TEA e sonham em ter um relacionamento: “Procurem uma pessoa que aceite vocês como vocês são e que as ajudem a evoluir! Porque se encontrarem uma pessoa que não está disposta a compreender as suas limitações e a fazer algumas concessões, a relação se torna um fardo grande e um relacionamento não é para ser assim! Claro que eu e o Lucas tivemos muitos desafios como citei, como na questão alimentar, nas saídas, nas rotinas. Por isso, escolham uma pessoa que tenha muita paciência e que vocês consigam, juntos, fazer combinados entre vocês para que estejam sempre alinhados. E, não se sintam inseguros, deixem claro à outra pessoa as suas limitações, mas focando mais nas qualidades de ambos do que nos desafios e em tudo o que vocês, como casal, têm para viver!”

Hoje, Gabrielle é Product Owner em uma empresa de locação de carros e compartilha em seu instagram @de.tudo.autista/ os desafios que enfrentou e enfrenta em diversas áreas, como a busca pelo primeiro emprego, as amizades, as frases capacitistas que os autistas costumam ouvir, entre outros.

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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