O dia 1º de maio, comemorado no domingo e internacionalmente considerado como Dia do Trabalhador ou Dia do Trabalho, propõe reflexões sobre o mercado de trabalho e, mais especificamente, em relação às oportunidades profissionais às pessoas com deficiência.
Apesar da inclusão social e a acessibilidade estarem cada vez mais em pauta nas grandes empresas, a existência da Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência (8213/91), que exige que empreendimentos a partir de 100 funcionários tenham um número mínimo (de 2% a 5%) do total de trabalhadores com deficiência em seus quadros, ainda está longe de cumprir a verdadeira função da sua origem: permitir a inclusão social ao dar a real oportunidade de emprego às pessoas com deficiência. “A Lei de Cotas é extremamente importante. É o principal instrumento de inclusão de pessoas com deficiência no mercado formal de trabalho, mas cumpri-la deveria ser consequência de um Programa de Inclusão estruturado e pensado a longo prazo e não o objetivo em si. Costumo dizer que contratar é diferente de incluir. Apenas contratar pessoas com deficiência para cumprir a Lei de Cotas é a estratégia errada, pois dessa forma rotula as pessoas que entram na empresa e impedem que sigam e desenvolvam uma carreira na organização. É como se a empresa estivesse fazendo um favor em contratá-las e dessa forma não conseguem desenvolver um ambiente organizacional realmente acessível e inclusivo. O correto é encarar a inclusão como algo estratégico para o negócio, entendendo que uma empresa inclusiva vai ao encontro dos preceitos ESG (ambiental, social e governança) da organização. Ou seja, ainda são muitas as dificuldades da inclusão nas empresas, como falta de acessibilidade física e digital, mas a barreira cultural é a maior delas. A sociedade e o mercado de trabalho ainda são muito capacitistas e enxergam os profissionais com deficiência pelo ângulo das suas limitações e não dos seus potenciais. O olhar está ainda muito centrado naquilo que a pessoa não consegue fazer e não nas possibilidades e qualificações das pessoas com deficiência, no valor que esses profissionais trazem para a empresa ao tornar o ambiente mais diverso e, principalmente, inclusivo”, explica Jaques Haber, fundador da iigual, juntamente com sua esposa Andrea Schwarz, empreendedora social, 1ª mulher com deficiência Linkedin Top Voices e palestrante do TEDxSavassi Vivendo e Aprendendo 2020. (Confira a matéria que fizemos sobre a Andrea, clicando aqui). A empresa é especializada em recrutamento e seleção de talentos diversos, inclusão no mercado de trabalho e consultorias a empresas que têm o interesse na contratação de pessoas com deficiência.
Para Andrea, “enquanto não se enxergar valor em ser uma empresa inclusiva, essa realidade não irá mudar. E para isso acontecer é preciso muita informação, que pode ser obtida com palestras, treinamentos e ações de comunicação e employer branding para atrair os melhores profissionais. Esse processo poderia ser acelerado se tivéssemos mais líderes com deficiência nas organizações, com poder de influência, verba e decisão, o que ainda é praticamente inexistente”.
Jaques e Andrea acreditam que pelo fato do tema sobre a inclusão da pessoa com deficiência estar mais em evidência nas mídias é que eles têm notado na iigual um aumento da demanda nos últimos três anos nas contratações pelas empresas. “Porém, ainda vemos muito discurso no mercado e poucas ações práticas. Tornar uma empresa inclusiva exige investimento, tempo, dedicação e envolvimento por parte da alta liderança. Deve ser algo transversal ao negócio e não apenas um projeto do RH. É preciso enxergar o valor de ter pessoas com deficiência na empresa. Valorizar a experiência de vida, as diferentes perspectivas que trazem, a melhoria do clima organizacional, o senso de propósito e pertencimento, bem como entender que pessoas com deficiência ajudam a melhorar os produtos e serviços da empresa tornando-os mais acessíveis e inclusivos. Tudo isso gera mais conexões com o público que a empresa se relaciona e naturalmente traz ganhos de imagem institucional e mais negócios”, explica Jaques.
O fundador da iigual cita ainda a acessibilidade digital como outro tema urgente que precisa de destaque para que a inclusão social no ambiente de trabalho possa avançar ainda mais rapidamente. “No mundo em que vivemos atualmente temos grandes possibilidades de incluir melhor e mais rapidamente contando com a transformação digital que foi acelerada nos últimos dois anos. Exemplo disso é que já existem tecnologias como a EqualWeb, que usa inteligência artificial para transformar sites em ambientes acessíveis e inclusivos de forma simples, rápida e barata. Porém, cerca de 99% dos sites no Brasil não são acessíveis, o que aumenta ainda mais a desigualdade e diminui as oportunidades das pessoas com deficiência. Vale ressaltar que a tecnologia é uma grande aliada da inclusão e da equidade de oportunidades”, enfatiza.
Andrea finaliza deixando uma mensagem aos gestores e lideranças e também às pessoas com deficiência que buscam uma oportunidade no mercado de trabalho: “Incluir pessoas com deficiência na empresa não pode ser encarado como favor e nem com uma visão assistencialista. É preciso colocar esse tema na agenda ESG e entender que as empresas do futuro são acessíveis e inclusivas. Inclusão é estratégico para o negócio e gera muito valor para todas as partes envolvidas, não apenas para as pessoas que estão sendo incluídas”.
Para as pessoas com deficiência, ela orienta: “eu diria para não aceitarem empregos que as rotulam, que as tratam apenas como uma cota, que não oferecem perspectiva de carreira. Busquem sempre se qualificar e se valorizar que as portas do mercado estão cada vez mais abertas para bons profissionais com deficiência. Entenda que você é muito mais que a sua deficiência e que pode agregar muito valor à organização. Ah, e não se definam como “PcD”. Eu sou contra essa sigla que só ajuda a nos rotular ainda mais. Tenham orgulho de quem são e entendam que são muito mais que aquilo que não conseguem fazer. Como costumo dizer nas minhas palestras: É muito fácil dizer o que eu não consigo fazer. O desafio é enxergar tudo o que eu POSSO fazer!”.
Quem tiver interesse em conhecer os serviços da iigual, acesse: www.iigual.com.br
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Ricardo Shimosakai, especialista em acessibilidade, inclusão e turismo, palestrante, consultor, professor de pós-graduação e cursos de MBA (Master in Business Administration) em Hotelaria de Luxo e referência em acessibilidade funcional, é cadeirante e ressalta que a Lei de Cotas contempla apenas uma pequena parcela da realidade do mercado de trabalho, uma vez que é voltada apenas às grandes empresas, enquanto exclui todas as demais. “A grande maioria das empresas existentes no mercado brasileiro é de pequenas e médias organizações, ou seja, com menos de 100 funcionários no quadro de empregados, o que já as exclui das exigências das contratações de pessoas com deficiência. É por isso que até mesmo o SEBRAE incentiva o empreendedorismo para as pessoas com deficiência, mas vale lembrar que empreender em nosso país é desafiador”, pondera.
De acordo com Shimosakai, a acessibilidade no mercado de trabalho para que ocorra a inclusão social vai muito além das normas da ABNT. “É por isso que uso o termo ‘acessibilidade funcional’, pois, as empresas costumam seguir apenas as regras e normas da ABNT e nem sempre estas são funcionais para a pessoa com deficiência. É preciso validar a acessibilidade com as próprias pessoas com deficiência, que serão as usuárias do local que se diz acessível. Além disso, outra questão é que, muitas das vezes, a acessibilidade nas empresas é resumida apenas a rampas de acesso, mas, na realidade, vai muito além disso e está relacionada a detalhes que aos olhos de quem não tem deficiência passam despercebidos, como largura de portas, altura de mesas; botões de acesso de elevadores, piso tátil, banheiros acessíveis (nos quais as pessoas devem ter autonomia de verdade para utilizá-los)”. Ricardo diz que essas são algumas das muitas questões que corriqueiramente analisa em consultorias in-company.
Além disso, o especialista promove treinamentos de equipes para saberem lidar com as pessoas com deficiência, que, segundo ele, trata-se de uma questão cultural e, por isso, é preciso, cada vez mais que haja capacitação sobre o tema para que sejam combatidos o preconceito, o capacitismo e o olhar diferenciado à pessoa com deficiência dentro dos ambientes corporativos. “Logo no início do local, é preciso que as pessoas saibam receber as pessoas com deficiência de forma correta e para isso é preciso que haja treinamento de equipes e uma mudança comportamental da organização”, explica. Shimosakai concorda também com os benefícios citados por Jaques Haber e Andrea Schwarz às empresas quanto à contratação de pessoas com deficiência. “Além da convivência, que proporciona a diversidade, as pessoas passam a nos enxergar como iguais e não como pessoas diferentes”, explica. Até por isso que o especialista, por conversar com muitas pessoas com deficiência, incentiva a vida social, mesmo com as dificuldades da acessibilidade. “Muitas vezes quando eu saía na rua, as pessoas ficavam me olhando como se eu fosse alguém de outro mundo. Por isso é importante que sejamos vistos mais vezes para que não nos estranhem e nos olhem com normalidade. Além disso, diversos colegas cadeirantes desanimam com a falta de acessibilidade que encontramos nas ruas, em estabelecimentos e acabam até mesmo preferindo ficar em casa do que enfrentar tais dificuldades. Mas eu sempre digo que nós devemos nos desafiar e irmos onde quisermos e, caso encontremos barreiras em estabelecimentos, por exemplo, que façamos a nossa parte de relatar, de modo cordial, com os donos e gerentes, informando os entraves da acessibilidade. Se a pessoa for inteligente, ela promoverá a melhoria daquele local para que a pessoa com deficiência possa voltar e outros clientes com deficiência também possam desfrutar daquele estabelecimento quando estiver acessível. Mas, caso ela não esteja aberta a promover a inclusão, quem deixará de lucrar será ela, pois estará restringindo o seu atendimento”.
Shimosakai diz ainda que outro grande equívoco que o mercado de trabalho enfrenta é realizar projetos de acessibilidade deixando de lado as pessoas com deficiência. Por ser especialista em acessibilidade, inclusão e turismo, o empreendedor cita o exemplo de uma consultoria que prestou a um empreendimento turístico que havia feito adaptações a um quarto para pessoas com deficiência que, no entanto, não estava recebendo reservas. “O projeto tinha sido desenvolvido por uma arquiteta especializada em acessibilidade. No entanto, ao analisar o que acontecia com aquele quarto, constatei que a especialista, ao invés de manter cama de casal, talvez para ganhar espaço para a locomoção de uma cadeira de rodas, resolveu substituir por uma cama de solteiro. Pessoas com deficiência costumam se hospedar acompanhadas, seja por necessidade de ajuda do acompanhante ou conveniência de estar ao lado de seu companheiro, amigo ou familiar e, por isso, o projeto não agradou aos hóspedes com deficiência. Por isso que sempre ressalto: se a pousada tivesse contratado pessoas com deficiência para participarem do projeto antes, teriam aplicado as nossas considerações, que são as nossas necessidades básicas para uma estadia”, analisa.
Por isso, Shimosakai enfatiza que as empresas façam pesquisas de mercado com as próprias pessoas com deficiência. “Falamos tanto em inclusão, mas estamos a passos lentos para que a sociedade comece a nos incluir de fato. Que as empresas possam perceber o quanto precisam evoluir nessa questão, dando a oportunidade às pessoas com deficiência e vendo o quanto podemos agregar com nossas expertises, experiências de vida e, assim, contribuir para uma acessibilidade funcional e não a acessibilidade das normas. E essa é a nossa grande luta”, diz.
Shimosakai, que se tornou cadeirante aos 33 anos após receber um tiro ao tentar fugir de um sequestro relâmpago, também realiza palestras técnicas e motivacionais e fala sobre a importância da aceitação – um dos grandes segredos para vivermos a vida com leveza e felicidade. “Muitas pessoas me perguntam como eu aceitei a condição de ser cadeirante ainda jovem. Logo no hospital, eu passei a entender que nada mudaria aquela situação e ficar lamentando o ocorrido só pioraria. Então passei a aceitar o que tinha acontecido e a pensar e a planejar o dali em diante. E aceitação é o grande segredo que muitas pessoas com deficiência não entendem e que é a grande virada de chave para vivermos em busca do que nos faz feliz. Por isso, passei a me adaptar à nova condição e ver como eu poderia continuar fazendo o que mais amava, que era viajar e, por isso, tornei-me referência em turismo adaptado. Descobri ainda nos esportes, como no tênis de mesa, a forma de voltar a ter motivação com a competição, a dar o meu melhor e a socializar com outras pessoas na mesma condição que a minha. Assim aprendi a levar a disciplina e o senso da competição para o meu dia a dia, para cada desafio que preciso enfrentar. Por exemplo: se tenho a meta de ir ao mercado, quais são os meus grandes competidores hoje? Os obstáculos que encontro na rua, as prateleiras altas que não são acessíveis, entre outros. E então, sem desanimar por conta dos obstáculos e com foco nos meus objetivos, é que vou adaptando as ferramentas que tenho hoje e enfrentando cada barreira. Por isso, o que oriento é que as pessoas com deficiência busquem sempre como melhorar as suas condições hoje para que consigam praticar atividades que as façam felizes!”.
O especialista oferece ainda cursos on-line de acessibilidade e inclusão, atendimento inclusivo e banheiro e sanitário acessíveis. As empresas interessadas em treinamentos, palestras e cursos in-company podem entrar em contato pelo celular (11) 99854-1478 ou por e-mail: ricardo@ricardoshimosakai.com.br
Instagram: @ricardoshimosakai/ @turismoadaptado
YouTube: www.youtube.com/ricardoshimosakai