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Dia do Orgulho Autista

Das internações psiquiátricas ao diagnóstico tardio de autismo: a jornada de Fernanda Fialho

Foto de Fernanda sorrindo e fazendo sinal de "paz e amor" com as mãos sentada em frente a um luminoso escrito: "Tudo aqui já foi um sonho"

Quinze internações psiquiátricas ao longo da adolescência. O motivo? A ausência do diagnóstico de autismo. Essa é parte da história de vida de Fernanda Fialho, palestrante, escritora, criadora de conteúdo e ativista, que foi diagnosticada tardiamente, aos 25 anos, autista nível 2 de suporte. Na época, em 2022, o diagnóstico de autismo veio logo após o de sua filha Ana Laura, aos 17 meses de idade. 

Fernanda lançará o seu primeiro livro “A História que meus pais não contariam – sobrevivendo sem o diagnóstico de autismo” (Editora Escrita Nobre), em um dia e local para lá de especiais: 18 de junho, data em que se celebra o Dia do Orgulho Autista; e será na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro (RJ), que acontece de 13 a 22 de junho no Riocentro (Avenida Salvador Allende, 6555, Barra da Tijuca). “O Dia do Orgulho Autista não é sobre se orgulhar por ser autista ou se sentir melhor que os neurotípicos. É sobre amor próprio, aceitação, empoderamento. Sobre a liberdade e o orgulho de podermos ser quem somos, ser aceitos como somos. Sobre entendermos que somos diferentes sim, não inferiores. E que ser diferente tem sua própria beleza”, destaca.

O livro está à venda no link: https://escrita-nobre.pay.yampi.com.br/pay/RATROSGPPG

História de vida: os desafios de uma jovem sem o diagnóstico

“Até o ensino fundamental eu estudei em uma escola pequena e muito acolhedora, algo que é raro de se encontrar hoje em dia. Eles eram mais sensíveis e empáticos às minhas dificuldades, o que me ajudou muito a passar por essa fase com o mínimo possível de desafios, mesmo sem diagnóstico. A partir dos 14 anos, com a mudança de escola para um colégio maior, conteudista e focado no vestibular, eu não tinha o menor acolhimento, sofria muito bullying e parei de frequentar a escola. Terminei o ensino médio de dentro do hospital psiquiátrico, nessa época já estava na minha 5° ou 6° hospitalização. E as internações continuaram até os 22 anos. Meus maiores desafios, além de frequentar a escola, eram me manter em sala, ter algum suporte da escola com um todo, lidar com o bullying que sofria, fazer amizades, aprender, acompanhar a metodologia que eu não conseguia me adaptar”, destaca Fernanda. 

Ela chegou ainda a ingressar no Ensino Superior, no curso de psicologia, mas não conseguiu concluí-lo pelas diversas internações: “Eu estive matriculada na faculdade de psicologia por sete anos. Durante esse tempo, concluí sete semestres. Tranquei a faculdade três vezes, sendo duas delas para ser internada. A faculdade não era nada inclusiva e, apesar de eu sempre ter sido uma boa aluna em notas, eu reprovava por faltas e a instituição, mesmo quando eu levava laudos e atestados médicos, não abonava minhas faltas, cujo limite era de 25%. Por isso, infelizmente eu acabei desistindo da graduação no 7° período”.

Durante as hospitalizações psiquiátricas, ela conta que sofreu diversas formas de abuso, tendo desenvolvido como consequência o Transtorno do Estresse Pós-Traumático Complexo (TEPT-C). “Foram anos de violências sistemáticas vividas dentro e fora de internações psiquiátricas. Hoje, eu faço acompanhamento com uma neurologista e uma psicóloga que me ajudam a lidar com o TEPT-C, mas os pesadelos e flashbacks ainda me assolam frequentemente”, diz a jovem, que relata que criou o perfil no Instagram @paraquetabu, em 2018, para contar sobre o dia a dia repleto de tratamentos de saúde mental, crises, busca por alternativas de tratamentos e terapias, medicações que pudessem ajudá-la. 

Foto de Fernanda e sua filha Ana Laura em um aparelho de ginástica em uma praia do Rio sorrindo para a câmera. Ambas usam o cordão de girassol.

Após o diagnóstico de mãe e filha, o perfil passou a ter a finalidade de compartilhar sobre autismo e neurodiversidade em geral: “Sem romantismo, nos nossos momentos bons e de alegria e também nos nossos momentos de dor e de sofrimento. Falo sobre o maternar de uma autista mãe de autista, sobre a luta antimanicomial, sobre TEPT-C, trauma e ressignificação, sobre a dificuldade da falta de rede de apoio, sobre meu trabalho palestrando pelo Brasil, escrevendo, contando minha história, torcendo para que ela nunca mais se repita”, diz. 

Após o diagnóstico de mãe e filha, o perfil passou a ter a finalidade de compartilhar sobre autismo e neurodiversidade em geral: “Sem romantismo, nos nossos momentos bons e de alegria e também nos nossos momentos de dor e de sofrimento. Falo sobre o maternar de uma autista mãe de autista, sobre a luta antimanicomial, sobre TEPT-C, trauma e ressignificação, sobre a dificuldade da falta de rede de apoio, sobre meu trabalho palestrando pelo Brasil, escrevendo, contando minha história, torcendo para que ela nunca mais se repita”, diz. 

E, com bom humor e leveza, inerentes ao seu jeito de lidar com a vida, ela destaca também em seu Instagram: “Acompanhando esse perfil, você provavelmente vai chorar, vai rir, vai ter raiva de mim, vai sentir empatia, vai querer me bater e depois querer me acolher (e depois querer me bater novamente kkkkk), vai adorar meu pai porque ele é muito gente boa, vai acompanhar as peripécias de Dona Moça (o apelido carinhoso da Ana Laura), vai descobrir que tenho um irmão mais novo lindooo e uma meia irmã mais nova muito parecida com minha filha, vai entender que falar sobre minha ‘mãe’ e sobre o ‘pai’ da Ana Laura é um assunto doloroso para mim e que eu não costumo falar sobre isso, vai comemorar com a gente as pequenas conquistas, possivelmente se identificar nos perrengues e dificuldades”.

Entre 2023 e 2024, Fernanda palestrou mais de 20 vezes e em diversas cidades do país, como São Paulo, Ceará, Pernambuco, Santa Catarina e Paraná; além de participar de diversos podcasts e entrevistas para sites, revistas e programas de TV. “O diagnóstico de autismo me trouxe autoconhecimento e entendimento sobre como eu funciono e porque eu reagia de determinadas formas em tantas situações. E, principalmente, trouxe autoperdão, pois passei a me perdoar por tanta culpa que sempre carreguei por não conseguir ser quem a sociedade esperava que eu fosse, como conseguir estudar, concluir a faculdade, trabalhar, ter relacionamentos, independência, autonomia, funcionalidade. Enfim, pude começar a  me aceitar. Continuo buscando evoluir, sim, mas não mais me odiando por não ser quem eu acredito que deveria ser. Consegui também começar a respeitar meus limites, me colocar menos em risco por não conseguir dizer não, e pedir ajuda”, salienta.

Foto de Fernanda com um microfone na mão dando uma palestra

Fernanda Fialho tem hoje 28 anos, reside no Rio de Janeiro e conta com o apoio do pai, Ivan, com quem mora. Ela ressalta ainda sobre os desafios do trabalho remunerado e a falta de oportunidades a pessoas com autismo: “Nunca consegui trabalhar em uma empresa. E, mesmo sendo criadora de conteúdo digital, na maior parte do tempo, não existe remuneração financeira. Mas, com certeza, o trabalho que faço nas redes sociais e como palestrante significa muito para mim e isso faz toda diferença”

A escritora conta também com o apoio da amiga Daniela Vianna, sua assessora/contato para quem quiser contratar Fernanda para palestras e eventos: (21) 98307-5468.

Convite do lançamento de seu livro que foi postado no instagram

Lançamento do livro “A História que meus pais não contariam – sobrevivendo sem o diagnóstico de autismo” (Editora Escrita Nobre)

Data: 18 de Junho (quarta-feira)

Local: Bienal do Livro do Rio de Janeiro – Riocentro (pavilhão 4, stand Z09)

Horário: 13h às 16h30, com sessão de autógrafos e fotos.

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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