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Como aproveitar a última semana de férias escolares praticando a CAA

Foto de uma cabana dentro da sala de uma casa, construída com lençol e cadeiras. Sentado no chão em frente a cabana está um menino de uns 3 anos, vestindo uma camiseta azul listrada, sorrindo e olhando para o tablet que está em sua frente. No chão vemos também alguns brinquedos espalhados.

As férias escolares estão chegando ao fim, mas a fonoaudióloga Valeria Santos*, especialista no atendimento a autistas, dá dicas de como aproveitar a última semana de diversão e também manter em casa o estímulo à Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) na volta às aulas. 

A fonoaudióloga parte do princípio que as famílias podem preparar em casa diversas atividades com materiais de fácil acesso, como os recicláveis, para garantir a diversão com os filhos e ainda praticar a CAA. “Todas as atividades que eu crio são para ajudar na modelagem e enfatizar o uso de palavras essenciais. Algumas são focadas em palavras únicas, outras em frases contendo dois a três elementos e podem ser utilizadas para qualquer pessoa”, diz a especialista. 

Esbanjando criatividade com diversos materiais que cria e posta em suas redes sociais (seu Instagram @fga.valeriasantos tem mais de 17 mil seguidores), Valeria ressalta que todas as atividades que desenvolve não têm idade específica e são adequadas aos objetos que a família tem em casa, como garrafas pet, tampas de garrafa, entre outros;

Segundo a fonoaudióloga, “os apoios visuais, como as pranchas de CAA e as rotinas, devem ser trabalhados diariamente, até mesmo durante as férias, quando também é necessário manter uma rotina se a criança ainda apresenta dificuldade nas atividades de vida diária, como ir ao banheiro de forma independente, por exemplo”, explica Valeria.

Crédito da imagem: instagram @fga.valeriasantos

Em seu Instagram, a especialista mostra que a diversão é o caminho para não estressar a criança na tênue linha entre a modelagem e a sobrecarga que muitos pais fazem com os filhos, que é enchê-los de perguntas para, de certa forma, obrigá-los a falar. “Para chamar a atenção das crianças para os símbolos, utilizo oclusores, enquanto é feita também a modelagem para o sistema de CAA e sem exigir que a criança se sinta somente recebendo ordens. Por isso,  indico os oclusores para quem está começando com o uso da CAA com seus filhos, que são um ótimo e divertido recurso e que podem ser criados de forma personalizada, de acordo com os interesses da criança”, esclarece a especialista.

Valeria orienta que as famílias lembrem sempre do seguinte pensamento quando forem criar algum material que irá ajudar seus filhos na comunicação com a CAA, por exemplo, ou quando estiverem fazendo a modelagem: “a criatividade é a imaginação sendo usada para resolver problemas”. E ressalta quanto à criatividade: “Muitas pessoas me elogiam pelos materiais que crio para os meus atendimentos, mas vale ressaltar que a criatividade é treinável e eu tento ver todas as coisas por outra perspectiva: a inspiração para criar atividades geralmente vem de um objetivo terapêutico, então eu penso: ‘como posso deixar esse objeto divertido e motivador para as crianças, mantendo sempre a estimulação, que é o objetivo “problema” que me inspirou? Muitas mães já compartilharam comigo as atividades que foram criando em suas casas com esse foco. Portanto, minha dica para os pais é: se você tem um objetivo terapêutico, é possível torná-lo mais divertido? Então faça!! Atividades divertidas também geram aprendizagem!”, destaca a fonoaudióloga.

Dicas para quem vai viajar

Às famílias que têm viagens programadas, Valeria orienta a trabalhar a viagem com antecedência, criando uma história social para cada etapa. “As histórias sociais são escritas com o propósito de fornecer informações e ensinar o que as pessoas em uma determinada situação fazem, pensam ou sentem, e mostrar a ordem dos eventos. Elas podem ser construídas com diferentes propósitos, por exemplo, criamos uma para uma família que iria viajar para a praia de avião. Colocamos todos os detalhes, como a necessidade do uso de máscara durante o voo, transformando todas essas informações em símbolos. Essa criança em questão ama praia e já estava muito ansiosa pela viagem. Então, junto com as histórias sociais, fomos trabalhando a quantidade de dias que faltava para a viagem, tudo com apoios visuais. E claro, é essencial levar o sistema de CAA em todos os lugares que vocês forem, pois ele é a “voz” das pessoas com necessidades complexas de comunicação (NCC) e deve sempre estar disponível, afinal ninguém deixa a boca em casa ao sair! E as pessoas com NCC têm o direito de se comunicar em qualquer lugar, como todos nós!”, enfatiza a especialista.

A fonoaudióloga ressalta ainda que os pais foquem no ensino do uso de palavras essenciais antes da viagem. “Essas palavras são de alta frequência na nossa fala e são muito poderosas, podendo ser usadas em qualquer ambiente e para qualquer atividade, ainda que em uma situação mais desafiadora, como uma viagem de avião. Em atividades que sejam motivadoras e divertidas, a probabilidade de sucesso é maior, mas lembre-se que comunicação é uma troca, não é uma atividade! Então foque na sua criança e em todas as modalidades por meio das quais ela se comunica!”, orienta Valeria às famílias.Aos pais interessados em aprender mais sobre a comunicação alternativa para aplicar com um filho com NCC, a especialista ministra um curso on-line de educação com a CAA chamado “Palavras de Poder”: “São abordadas todas as etapas que são necessárias para implementar a CAA. O curso é também destinado para profissionais da saúde e educação que queiram aprender a utilizar a comunicação alternativa com alunos e pacientes”, salienta. Mais informações em seu instagram: @fga.valeriasantos (ela compartilha também diversos materiais gratuitos, que podem ser acessados pelo link da Bio e baixados)  ou pelo telefone: (31) 97364-9096.

*Valeria Santos é Fonoaudióloga, pós graduada em Transtorno do Espectro Autista especialista em Neurociências, Qualificação profissional em Uso Terapêutico de Tecnologias Assistivas: direitos das pessoas com deficiência e ampliação da comunicação, curso de core words (projet core) pelo Center for Literacy and Disability Studies, a unit in the Allied Health Sciences Department at the University of North Carolina at Chapel Hill, treinamento introdutório e avançado em LAMP (Language Acquisition Through Motor Planning).

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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