
Quem participou do Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia (CBFa) 2025, da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), vivenciou uma das edições mais dinâmicas do evento. Entre as diversas áreas da Fonoaudiologia que compuseram a programação, a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) teve um espaço significativo, com destaque em diferentes momentos ao longo dos três dias de congresso (27 a 29/11), no Transamérica Expo Center, em São Paulo.
“Nos últimos anos, a CAA vem se destacando como uma das áreas mais procuradas e comentadas do Congresso. As mesas e atividades científicas pautadas pela comunicação alternativa em salas diversas, somadas ao Ecossistema de CAA, foram estruturadas para oferecer algo além de conteúdo: experimentação, evidências científicas, inovação, produtos, práticas reais e diálogo aberto com diferentes setores. Essa transversalidade reflete exatamente o momento em que vivemos a CAA”, destaca Ana Cristina de Albuquerque Montenegro, Doutora em Linguística, Diretora Científica da SBFa e Coordenadora do Ecossistema de CAA. A especialista salienta ainda: “O CBFa (Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia) é mais do que um evento, é o encontro anual que renova nossa identidade profissional e nos possibilita um ambiente rico em trocas, descobertas e construção coletiva”.
Para Montenegro, o fonoaudiólogo, ao participar do CBFa, compreende que tecnologia, ciência e cuidado caminham juntos: “Cada nova solução apresentada tem potencial de mudar vidas. E é por isso que seguimos fortalecendo esse espaço que, a cada ano, se torna mais completo, mais diverso e mais conectado às necessidades dos usuários e dos profissionais que trabalham com CAA”.
Tatiana Lanzarotto Dudas e Rosana Mingrone, respectivamente, Coordenadora e Vice-Coordenadora do Comitê de Comunicação Alternativa do Departamento de Linguagem da SBFa, ressaltam também o espaço conquistado pela CAA entre os principais destaques desta edição do evento. “Rosana e eu assumimos, com entusiasmo, o desafio de coordenar o Comitê de CAA do Departamento de Linguagem da SBFa nesta gestão (2025–2026). Contamos com o apoio de um amplo time de fonoaudiólogos que integram o nosso grupo de trabalho e que têm atuado em diversas frentes: ações como a elaboração de materiais e documentos, discussão de políticas públicas, organização de espaços científicos, campanhas, entre outras ações que contemplam a CAA no que diz respeito à clínica, inclusão escolar, acessibilidade comunicacional, inovações tecnológicas, SUS, formação profissional do fonoaudiólogo, pessoas com TEA, adultos, entre outros temas. O Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia 2025 reforçou mais uma vez seu papel essencial no avanço científico e profissional da área, especialmente ao ampliar o espaço dedicado à CAA. As mesas organizadas pelo Comitê e o Ecossistema de CAA foram decisivos para reafirmar a comunicação como um direito humano e aproximar os fonoaudiólogos de práticas contemporâneas que respondem às demandas clínicas e sociais de pessoas que não se comunicam oralmente por diferentes razões. O Congresso também evidenciou que, independentemente da área de atuação — escolar, clínica, hospitalar, disfagia, entre outras — compreender e utilizar recursos de CAA torna o atendimento mais inclusivo, ético e efetivo. Isso possibilita maior autonomia e participação dos pacientes em seus processos terapêuticos e na tomada de decisões”, destacam Dudas e Mingrone.
A CAA em diversos contextos nas mesas durante o CBFa
Tatiana salienta ainda as diversas mesas voltadas ao contexto escolar que trouxeram discussões fundamentais sobre inclusão de crianças que não falam oralmente, aquisição da linguagem escrita e estratégias para apoiar a participação plena desses estudantes; além das diversas outras mesas que abordaram avanços científicos, inovações tecnológicas e atualizações da clínica de linguagem, assim como o uso da CAA nos casos de Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Outro ponto central foi a intervenção precoce: diversos palestrantes reforçaram a necessidade de desconstruir o mito de que não se pode iniciar o trabalho de CAA muito cedo, apresentando evidências e práticas que demonstram benefícios claros no desenvolvimento comunicativo quando a intervenção é iniciada ainda nos primeiros anos de vida”, destaca Dudas.
Ainda quanto à atenção à pessoa com TEA com a CAA, Rosana ressalta sobre a importância em diferentes abordagens teóricas, preconizando a linguagem, a comunicação efetiva e a atuação fonoaudiológica na interdisciplinaridade: “A CAA esteve presente nas atividades científicas dirigidas à atenção de crianças, jovens e adultos no espectro do autismo; nos cuidados para ampliar as oportunidades de comunicação, participação e autonomia, para além da função de pedido. Os profissionais puderam discutir a respeito de questões significativas como: as particularidades e especificidades do atendimento da CAA nos Transtornos do Espectro do Autismo dentro da clínica linguagem, a inserção da CAA na escola inclusiva, as dificuldades e possibilidades de engajamento de parceiros de comunicação, na família, na equipe multidisciplinar e na escola, além de conhecer estratégias terapêuticas fonoaudiológica na baixa e alta tecnologia”.
Segundo Tatiana, também foram explorados temas sobre as relações entre as questões visuais e o uso da CAA, tanto a questão do processamento visual, como também da deficiência visual cortical que podem interferir na implementação da CAA. “Além disso, tivemos mesas sobre a especificidade do trabalho com adultos e idosos, e a reabilitação de pacientes disfágicos que utilizam recursos de comunicação para participar das decisões sobre seu cuidado. Houve ainda mesas sobre deficiência múltipla e CAA, pluralidade linguística no Brasil e implicações para a prática fonoaudiológica, além de discussões sobre atendimento domiciliar em equipes interdisciplinares — um campo em crescimento que exige alinhamento entre diferentes profissionais da saúde, educação e tecnologia. A formação do fonoaudiólogo em CAA, tanto na graduação quanto na pós-graduação, também foi uma pauta forte, demonstrando que a área demanda preparo técnico consistente, embasamento teórico e prática clínica”.
Dudas destaca também como um dos grandes diferenciais dessa edição o fortalecimento das atividades conjuntas entre departamentos e comitês da SBFa, como os de Formação Profissional, Saúde Coletiva, Disfagia, Fala e Linguagem do Adulto e Idoso, entre outros. “Essas mesas interdepartamentais evidenciaram a transversalidade da CAA e reforçaram a ideia de que a CAA não é um tema restrito a um único campo da Fonoaudiologia. Para áreas como a disfagia, por exemplo, ficou evidente o quanto é essencial que o profissional conheça e incorpore recursos de CAA, garantindo que o paciente tenha meios de expressar escolhas, dúvidas e desconfortos durante seu processo de reabilitação”.
Mingrone também ressaltou a relevância dos momentos de protagonismo das pessoas com necessidades complexas de comunicação e das famílias: “Ter o privilégio de ouvir diretamente as pessoas que têm na CAA seu principal meio de comunicação e ouvir os familiares, especialmente as mães de pessoas com necessidades complexas de comunicação, absorver diferentes pontos de vista, narrativas repletas de desafios e protagonismo, são experiências extremamente enriquecedoras para o fonoaudiólogo, e o CBFa 2025 mais uma vez garantiu esse protagonismo, tanto na sala “Nada sobre nós, sem nós”, quanto no Ecossistema e em outros espaços do evento”.
As tecnologia assistivas também marcaram presença no CBFa
De acordo com Ana Montenegro, o Ecossistema de CAA também ganhou maior protagonismo em 2025: “As empresas apresentaram tecnologias assistivas mais acessíveis, atualizadas e integradas, mostrando avanços importantes nas soluções disponíveis. Diferentemente do ano anterior, houve participação ampliada de usuários de CAA no espaço do Ecossistema, que compartilharam experiências de uso na vida pessoal, na escola, na universidade e no trabalho — uma oportunidade única para aproximar profissionais das vivências reais. As atividades práticas “mão na massa” foram ainda mais numerosas, apresentando diferentes recursos, estratégias com leitura compartilhada, metodologias de intervenção e possibilidades de implementação da CAA em múltiplos contextos”.
Em relação ao uso da inteligência artificial na prática da fonoaudiologia, Tatiana diz: “o debate reforçou que a IA pode ser uma aliada importante, desde que utilizada de forma ética, responsável e sempre em benefício da autonomia comunicativa do usuário, nunca esquecendo de que não é somente focar na ferramenta ou tecnologia, mas na pessoa, após uma avaliação de linguagem individualizada e embasada teoricamente”.
Comitê de CAA no Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia
Segundo a Coordenadora, o trabalho estruturado do Comitê de CAA na SBFa teve início formal em 2006, com as fonoaudiólogas Débora Deliberato e Maria de Jesus Gonçalves, durante o Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia, em Salvador, na reunião do Departamento de Linguagem em que foi apresentada a necessidade da criação do comitê. A partir dessa data, o Comitê acumulou diversas conquistas que têm reverberado ao longo dos anos e das diferentes gestões com diferentes profissionais, resultando na produção de e-books da área, oferta de formações em EAD, campanhas de conscientização, elaboração de documentos técnicos e promoção de inúmeras ações que fortaleceram a CAA no cenário nacional.
“Atualmente, o Comitê de CAA mantém o compromisso de alcançar cada vez mais fonoaudiólogos, evidenciando que a prática com CAA exige raciocínio clínico em linguagem, avaliação cuidadosa, mesmo na ausência de fala oral, e intervenção qualificada para garantir avanços reais no processo de aquisição da linguagem. O Comitê tem recebido importante apoio de outros comitês e departamentos da SBFa, assim como da própria diretoria, consolidando um trabalho conjunto e contínuo em prol da comunicação como direito de todos”, destaca Dudas.Além disso, a Coordenadora cita a importância das parcerias – como com a ISAAC-Brasil, ComunicaTEA e Abrapraxia -, cujo objetivo é “alcançar ainda mais novos públicos, profissionais e familiares na conscientização da CAA em diferentes frentes, como a acessibilidade comunicacional, por exemplo, que agora é lei, mas que carece ainda ser debatida entre as associações para que essa acessibilidade se dê de forma responsável e efetiva”.


