Neste mês de conscientização sobre o autismo, compartilhamos a história de Carla Ramos de Almeida, 19 anos, que foi diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA) quando estava prestes a completar 17 anos. Em 2021, Carla lançou o livro “Âmago Absorto” (editora Ramalhete), que reúne 38 poesias no estilo haicai (ou ainda haikai ou haku), que é um subgênero literário de origem japonesa, que apresenta uma estrutura fixa de três versos.
“Sou uma grande amante da cultura, mas meu interesse pela literatura japonesa, especialmente pelo ‘haiku’ ou ‘haikai’, cresceu depois de encontrar os escritos do artista Matsuo Basho em um fórum online. Ele foi o poeta mais famoso do período Edo do Japão e viajou pelo país em busca de inspiração para seus escritos e haicais. Sua poesia é influenciada por sua experiência direta do mundo ao seu redor e muitas vezes assume a forma do sentimento de uma cena e algumas passagens simples”, destaca a autora.
Carla explica que descobriu o talento para a poesia por meio dos elogios dos professores aos seus escritos. “Sempre tive um forte apego à arte desde a minha infância. Mas há algo na poesia que sempre me fascinou. Como disse Aristóteles, a poesia seria o ‘impulso do espírito humano para criar algo a partir de imaginação e dos sentimentos’”, enfatiza.
Segundo ela, o processo do desenvolvimento de “Âmago Absorto” teve início em meados de 2017, quando começou a selecionar os poemas que mais gostava. “Naquela época, nem pensava em publicar. Em 2019 dois amigos do meu pai tiveram seus livros publicados. Em uma conversa com eles, meu pai solicitou uma opinião mais fundamentada sobre os meus escritos. Então, entrou em contato com a editora que os publicou. O editor retornou ao meu pai com elogios, uma vez que eu havia incorporado a síntese do haicai, e pediu autorização para conversar comigo. Ele foi me incentivando e, dessa forma, nasceu o projeto. Tudo isso aconteceu durante a pandemia, inclusive o lançamento do livro”, explica Carla.
A capa e os elementos de “Âmago Absorto” foram também cuidadosamente desenvolvidos por ela, juntamente com a designer da editora: “O intuito foi transmitir a delicadeza e resvalar das diversas passagens nele contidas. Uma metáfora para a natureza efêmera da vida, curta e transitória”.
Moradora de Cambuí (MG), Carla diz que nunca pensou no que suas poesias podem despertar nos leitores: “Acho que foi justamente por isso que quis publicar, para compartilhar e saber (risos). Cada pessoa é única, e é isso o que torna as diferentes perspectivas ainda mais interessantes”.
O livro pode ser adquirido pelo site da editora Ramalhete, pelo link: https://www.lojaeditoraramalhete.com.br/amago-absorto/p
Quanto à descoberta do TEA na adolescência, ela explica: “Embora o diagnóstico tenha sido tardio, eu já tinha consciência do transtorno e da possibilidade de tê-lo, pois tinha conhecimento sobre o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). A vinda do diagnóstico somente esclareceu algumas questões”. Aos jovens que acabaram de receber o diagnóstico de autismo, a escritora salienta: “Lembrem-se que nenhum autista é igual ao outro. Aprendam a respeitar seus limites e acima de tudo, respeitar nossas diferenças. E lembrem-se, a informação é a chave do respeito”.