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Dia Nacional da Educação de Surdos e Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais: a importância do acesso aos surdos à educação pela Libras

Ilustração de um garotinho surdo e ao seu lado ilustração de 6 mãos, formando a palavra Libras em libras.

No dia 23 de abril é comemorado o Dia Nacional da Educação de Surdos e, no dia 24, o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras), data que marca o dia em que a Libras foi reconhecida e regulamentada em lei.

Para celebrar ambas as datas que propõem uma conscientização da população sobre a inclusão efetiva de pessoas surdas na sociedade e o reconhecimento da Libras como língua oficial e língua de instrução das pessoas surdas no Brasil, trazemos a história de duas profissionais que, com muito amor, têm como missão de vida a disseminação da Língua Brasileira de Sinais.

Quando o propósito de vida vai muito além de apoiar um familiar

Foto de um rapaz alto, usando óculos e segurando um saxofone em frente a um sofá verde.

Vladimar, irmão da Tatiana – foto: arquivo pessoal

Tatiana Milanez é Pedagoga, Pós Graduada em Educação Especial com ênfase em Surdez pela Faculdade Presbiteriana Mackenzie e Agente Bi Cultural – Tradutora, Intérprete e Instrutora de Língua Brasileira de Sinais (Libras) pelo grupo educacional da Universidade Internacional (UNINTER). Sua motivação para trilhar sua jornada profissional em Pedagogia, em especial na Educação Especial com foco em pessoas surdas, foi por conta do seu irmão Vladimar, hoje com 35 anos: “Aprendi Libras para apoiar o meu irmão e sempre o acompanhei. Externamente iniciei no âmbito religioso fazendo acessibilidade dos cultos para ele. Como sempre digo: A Educação Especial e as Libras me escolheram…E eu sou muito feliz!!!”, ressalta.

A especialista ingressou na Secretaria Municipal de Educação em 2005 e, desde então, leva como propósito de vida propagar as Libras a todo lugar por onde passa: aos estudantes das Unidades Educacionais onde atuou e também aos colegas de trabalho. “E graças a esta propagação da Libras, um Coordenador Pedagógico me convidou para atuar no Ensino Superior e esta primeira oportunidade me abriu portas em várias instituições. Em uma delas, uma das minhas alunas (também da Rede Municipal de Ensino – RME), me solicitou um currículo e para minha surpresa fui convidada para atuar no CEFAI (Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão) da Diretoria Regional de Educação Guaianases. Fiquei sete anos respondendo pela Educação Bilíngue dos estudantes com surdez desta região, e também criei um personagem chamado Vladi para disseminar a Libras em toda a Rede, além de homenagear o meu irmão e todos os estudantes com surdez. Este trabalho desenvolvido na Diretoria de Educação Guaianases me trouxe a honra de ser convidada para atuar na Secretaria Municipal de Educação, onde estou até hoje e atuo na Divisão de Educação Especial, onde sou responsável pela Educação Bilíngue para os estudantes com surdez”, diz Tatiana, que também faz parte do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência.

Ilustração de um garotinho usando óculos e vestindo bluca e shorts roxo e tenis verde. Ele está com um braço esticado para frente fazendo um gesto com a mão.

Personagem Vladi – arquivo pessoal

Segundo ela, os desafios da inserção dos estudantes com surdez no contexto escolar são muitos, mas um dos principais é viabilizar um diálogo entre a Política Nacional que incorre na Perspectiva Inclusiva, com os documentos oficiais que garantem o direito destas pessoas à Educação Bilíngue, e dissipar as barreiras capacitistas que estão enraizadas na sociedade. “Como sempre digo: “Ter deficiência não é um problema, o problema é ter deficiência nesta sociedade capacitista”, ressalta.

Ela enfatiza a sua paixão por Libras e pela Educação Especial no texto abaixo, em forma de poesia:

“Trabalhar na Educação Especial…
Trabalhar na Educação Bilíngue…
Pode se comparar a um emaranhado com muitos fios…
Fios de Conhecimento (Tão necessários), tanto do ponto de vista científico como do ponto de vista legal.
Fios de vivência…
Fios das marcas desta vivência…
Fios de empatia, afinal de contas, conhecimento sem se colocar no lugar das pessoas e sem o propósito de mudar a vida delas são palavras jogadas ao vento…
Fios de ações nos mínimos detalhes…
Pois já dizia o ditado: As palavras até convencem, mas o exemplo arrasta…
Somos ESPELHOS;
E…Pregar sem viver é como ir ao restaurante às 14h, depois de uma manhã inteira sem comer e só se alimentar lendo o cardápio.
É sobre isso…”.

Nestas datas tão importantes (Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais e Dia Nacional da Educação para Surdos), que têm o objetivo de conscientizar a população sobre a inclusão dos surdos, Tatiana deixa a seguinte mensagem:

“Quem sou EU?!

Sou a minha causa
Sou a persistência por um mundo melhor
Sou a esperança pela inclusão efetiva
Sou o amor pela Língua Brasileira de Sinais – Libras
Muito prazer
E você, quem é?!
O que podemos fazer juntos para que tenhamos uma sociedade verdadeiramente inclusiva?!
Que este texto te esclareça o quanto você leitor é importante para juntos construirmos um mundo verdadeiramente justo e inclusivo para todos!!!
Conto com você!”.

Foto de uma mulher loira de cabelos compridos e enrolados, vestindo uma camiseta branca. Ela está com as mãos em sua frente fazendo um sinal de libras. Ao lado um logotipo de duas mãos formando um coração e o texto: libras com Tati Milanez

Tatiana Milanez – foto: arquivo pessoal

A especialista disponibiliza o quadro “Vamos aprender Libras”, onde ensina a Língua Brasileira de Sinais em seu Instagram @/libras.tatimilanez/. Confira!

Quando o destino nos apresenta a nossa missão de vida

Soraya Donini Freitas Gonçalves, por um acaso do destino, acabou trilhando mais que uma jornada profissional: descobriu sua missão de vida como professora em Educação Especial, especialista na Língua Brasileira de Sinais e focada na educação de surdos. 

“Por volta de 1992, na Igreja Batista da qual eu fazia parte, recebemos um casal de irmãos que eram surdos. Na época, não conhecíamos a Língua Brasileira de Sinais, ninguém sabia nada sobre o assunto. Fomos buscar formação e, assim, os irmãos surdos iam nos corrigindo e nos ajudando na aprendizagem da Libras. Com o tempo, fomos recebendo mais pessoas surdas na igreja e essa inclusão por meio da Língua Brasileira de Sinais foi me encantando”, diz Soraya, que é formada em Publicidade e Propaganda e, na época, atuava na área administrativa/financeira: “Já não estava feliz em trabalhar na área em que eu atuava e senti que precisava mudar. À medida que fui conhecendo mais a Comunidade Surda, meu desejo de trabalhar na área da educação começou a tomar conta do meu coração. E, mais precisamente, conhecer sua Cultura e Língua dos surdos me fez querer buscar a formação em Educação Especial. Busquei então a segunda graduação, que foi Pedagogia, e a partir daí percebi que era essa minha missão de vida – trabalhar com pessoas, ser mediadora  do conhecimento, conforme afirma Vygotsky (1998): “o papel do professor é o de ser mediador, apresentando-se como um importante parceiro no decorrer do processo de ensino e aprendizagem”. Cursei pós-graduação em Educação Especial, onde no curso foram abordadas todas as deficiências e me especializei em deficiência auditiva/surdez”, relembra Soraya, que é Tradutora Intérprete de Libras e certificada pelo primeiro Prolibras (2006), que assegura proficiência no uso e no ensino de Libras ou na tradução e interpretação da língua, sendo aceitos por instituições de educação superior ou básica. 

No mesmo ano em que recebeu a certificação, a especialista prestou concurso público e ingressou na Rede Municipal de Ensino (RME) como professora do Ensino Fundamental I e, após um ano, foi convidada a iniciar o atendimento em uma Sala de Recursos em Deficiência Auditiva (antiga SAAI – Sala de Apoio e Acompanhamento à Inclusão, cuja nomenclatura atualmente é SRM – Sala de Recursos Multifuncionais), onde permaneceu por 7 anos. Naquele ano ainda, o CEFAI (Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão) estava sendo criado, área onde atua há 3 anos, tendo como uma das suas frentes de trabalho a Educação Bilíngue para Surdos.

“Na época,  fui convidada para fazer o acompanhamento e dar apoio à inclusão de surdos em uma Unidade Educacional da RME, onde atuo até hoje como professora de apoio no acompanhamento, tanto da contratação de instrutores de inclusão, como das demandas dos estudantes surdos da região”, explica Soraya.

Foto de um estúdio de gravação com um fundo verde e uma mulher vestindo preto está fazendo sinais de libras com as mãos.

Soraya Gonçalves – foto: arquivo pessoal

Com o passar dos anos, Soraya passou a ser reconhecida pelo seu trabalho de inclusão dos surdos, sendo chamada para ministrar aulas presenciais de Libras em Licenciaturas e Pós em instituições como UNIBAN/Anhanguera, UNIFEO, Educa Osasco, além de diversas aulas no formato on-line. Atuou ainda como intérprete de Libras em renomados eventos: “Quando a Dilma era presidente, ela fez uma campanha de lançamento da vacina HPV em uma Unidade Educacional da RME e eu fui convidada para interpretá-la. Nessa trajetória, interpretei também o Fernando Haddad, o Gabriel Chalita e, recentemente, em um podcast, interpretei o ex-presidente Jair Bolsonaro”, diz, mencionando alguns dos seus diversos trabalhos como intérprete de Libras ao longo de sua carreira.

“Poder ensinar Libras para crianças, adolescentes e adultos que não têm acesso à sua língua materna, muitas vezes nem através da família, e contribuir para a eliminação da barreira da comunicação, podendo ser “ponte” entre dois mundos, entre a língua oral e a língua de sinais, entre ouvintes e surdos. Ser instrumento para a garantia da Comunidade Surda ter acesso à informação é muito gratificante e me faz feliz e realizada”, emociona-se. 

Segundo ela, o Decreto Federal 5.626/05, que diz respeito à inclusão da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como disciplina nos cursos de formação de professores, foi um grande ganho: “Incluir Libras na grade dos cursos de licenciaturas significa dar acesso aos futuros professores ao conhecimento da Cultura Surda e em relação à própria Libras para quando atuarem na educação poderem garantir uma comunicação no mínimo básica com os estudantes surdos”, explica Soraya. 

Para a especialista, os principais desafios da educação para surdos no Brasil, são:  “acesso à língua;  garantia da comunicação e acesso ao currículo nas escolas por meio da contratação de tradutores e intérpretes de Libras e instrutores surdos (o que gera um custo a mais para as instituições e um desafio pela falta desses profissionais capacitados); inclusão da Libras como disciplina curricular na educação básica; maior número de escolas bilíngues, onde há o ensino das duas línguas, sendo o ensino da primeira língua a Libras com professores surdos e o ensino do Português como segunda, na modalidade escrita; e combater a evasão escolar  e o baixo acesso ao ensino Superior. Além disso, na minha visão, a educação de surdos poderia avançar com mais acesso às EMEBS (Escolas Municipais Bilíngues para Surdos) e Escolas Polo (que são escolas regulares de Educação Infantil e Ensino Fundamental que contam com os serviços de Tradutores e Intérpretes de Libras nas aulas do ensino regular, Instrutores Surdos para o ensino da Libras para toda a comunidade escolar e Sala de Recursos no contraturno)”, enfatiza Soraya.

A especialista deixa a seguinte mensagem nestas datas comemorativas do Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais e Dia Nacional da Educação dos Surdos: “Parabenizo a Comunidade Surda, Movimento Surdo pelas conquistas em meio a tantas lutas e desafios enfrentados para reconhecimento  e legalização da Libras e pelos avanços conquistados na trajetória da Educação para Surdos”.

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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