Essencial no desenvolvimento de crianças atípicas
Diversos estudos mostram a importância do brincar na infância: muito além do que somente diversão, trata-se de um direito fundamental, tão importante quanto os outros considerados essenciais, por estar relacionado, principalmente, ao desenvolvimento saudável – cognitivo, físico, de expressão e comunicação, redução do estresse e aumento do bem-estar.
Sobre o direito de brincar – A Declaração Universal dos Direitos da Criança prevê, em seu princípio VII, que “a criança deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras. Os quais deverão estar dirigidos para educação, sociedade, e as autoridades públicas se esforçarão para promover o exercício desse direito”.
A Infância é a principal etapa da vida do ser humano, é justamente nesta fase que se aprende valores que serão levados para vida. Faz-se necessário pensar sobre os espaços e oportunidades que estão sendo dadas a elas com seus direitos e deveres assegurados. E que cada uma delas precisam ser reconhecidas como sujeito de direitos individuais, além de que as crianças necessitam ser respeitadas dentro de seu processo de aprendizagem.
Brincar adaptado
No caso de crianças com deficiência, o brincar adaptado ganha destaque, uma vez que nem sempre as adaptações das brincadeiras promovem, de fato, tal direito. Pensando nisso e diante da demanda da sociedade civil feita para o Laboratório de Tecnologia Assistiva (LabAssistiva) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre estratégias e recursos de Tecnologia Assistiva que pudessem ampliar a participação social de crianças com deficiência intelectual, é que surgiu, em 2012, o TO Brincando – um projeto de Ensino, Pesquisa, Extensão e Assistência do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sediado na Brinquedoteca Terapêutica TO Brincando, do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ).
“O objetivo é produzir conhecimento acerca do brincar adaptado para crianças com deficiência por meio da adaptação de brinquedos, jogos físicos e virtuais e de livros multiformato, criando recursos que ampliem a participação e as oportunidades comunicativas de crianças com deficiência. Esta demanda foi feita a partir do Movimento Down (uma rede de produção e disseminação de conteúdos sobre a síndrome de Down), apoiada pelo Mais, Movimento de Ação e Inovação Social (organização que desenvolve estratégias e metodologias de inovação para projetos sociais) ao LabAssitiva”, esclarece Miryam Pelosi, Terapeuta Ocupacional, doutora em Educação, Profa Associada IV do Departamento de Terapia Ocupacional/FM/UFRJ e Profa. do Mestrado em Ciências da Reabilitação – PPGCR/FM/UFRJ.
“A brinquedoteca terapêutica funciona como um laboratório do Brincar para o curso de graduação em Terapia Ocupacional e, neste sentido, recebe estudantes de diferentes disciplinas do curso. Abriga pesquisas na área da infância, é local de assistência terapêutica ocupacional para as crianças com deficiência, e campo de estágio para estudantes da Terapia Ocupacional. As atividades extensionistas do projeto envolvem estudantes de diferentes cursos como: fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia, nutrição, pedagogia, história e outros, além dos estudantes de terapia ocupacional”, explica a especialista.
Ações do TO Brincando desde 2012
De acordo com Miryam Pelosi, o TO Brincando desenvolveu diferentes projetos ao longo desses anos: “No período de 2012 a 2014, construímos um acervo de 40 jogos adaptados, entre eles “Pizzaria Maluca”, “Cara a Cara”, “Memória”, “Floresta Encantada”, “Pula Macaco”, “Comprando Certo”, “Tapa Certo”, “Corrida dos Bichos”, “Quebra Gelo”, “Olho Vivo”, “Boca Rica”, que resultaram em 950 atividades relacionadas aos jogos trabalhados.
O lúdico é um instrumento pedagógico que possui liberdade de trabalhar, de maneira mais prazerosa, o aprender. Assim, a criança desenvolve sua capacidade de explorar, refletir e imaginar os conteúdos e adquirir conhecimento necessário para uma aprendizagem significativa”, ressalta.
De acordo com ela, nos anos de 2015 e 2016 os objetivos concentraram-se na criação de atividades adaptadas para leitura e escrita com a criação de jogos, brincadeiras, músicas e atividades baseados nos livros da Coleção Estrelinha 1, da autora Sônia Junqueira, da Editora Todo Livro. Ao todo foram utilizados seis livros, sendo o primeiro “O pato e o sapo”, seguido de “O macaco e a mola”, “O galo maluco”, “A foca famosa”, “O peru de peruca” e “Regina e o mágico”.
Nos de 2017 e 2018 foram desenvolvidos jogos e atividades adaptadas com o uso dos aplicativos personalizáveis, como o TinyTap, para serem usadas no tablet ou celular, e o software Prancha Fácil foi utilizado para construir jogos e atividades no computador. “Além desse período, nos anos de 2020 a 2022, com a pandemia de Covid-19, intensificamos a produção de atividades on-line desenvolvendo jogos acessíveis em plataformas gratuitas na internet, como o WordWall”, destaca.
A especialista explica que nos dois últimos anos, 2023 e 2024, o projeto trabalhou com ações que pudessem favorecer a transição para a vida adulta de jovens com deficiência, utilizando-se de estratégias e recursos de tecnologia assistiva para melhor prepará-los para o mercado de trabalho.
“Todos os materiais que produzimos estão disponíveis para a comunidade. O Portal Assistiva é um repositório de atividades, jogos, livros adaptados e pranchas de comunicação que reúne todos os materiais produzidos no projeto TO Brincando. São mais de 4000 atividades e o acesso é gratuito, bastando se cadastrar com um e-mail e senha para fazer o download dos materiais. As atividades do TinyTap estão disponíveis na página do TOBrincando UFRJ, no link: https://www.tinytap.com/community/profile/tobrincando-ufrj/ e as atividades do WordWall também, estão disponíveis em uma página do TOBrincandoufrj”, diz.
Para este ano, Miryam Pelosi diz que o foco do projeto é a construção de livros de história multiformato com textos simples e escritos com símbolos que possibilitem escolhas e tenham pranchas de comunicação acopladas às histórias.
Ela destaca ainda que profissionais de diversas áreas interessados no brincar adaptado podem fazer parte do Projeto TO Brincando, que, segundo ela, faz parte das ações do Grupo de Pesquisa do CNPq, denominado: Terapia Ocupacional e Tecnologia Assistiva em diferentes contextos que congrega estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores e profissionais, de diferentes áreas, interessados no tema.
Confira a apresentação da especialista do trabalho Jogos com Acessibilidade Comunicacional, realizado no âmbito do TO Brincando e apresentado no Congresso Brasileiro de Comunicação Alternativa – ISAAC Brasil 2023: https://www.youtube.com/watch?v=vE26cT1kWNI
Acompanhe: https://www.instagram.com/projetotobrincandoufrj/