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SBFa ressalta o protagonismo da pessoa com deficiência durante o 32º Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia

Foto de Luciano, Juliano, Regina Chun, Eliana, Eduardo, Ana Montenegro e Alex

A sala “Nada Sobre Nós Sem Nós”, do 32º Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia, recebeu a discussão de caso “Como a CAA avançou no dia a dia das pessoas?” – um espaço organizado pela diretoria da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), que acredita que os fonoaudiólogos podem refletir e aprender muito ao ouvir as pessoas com deficiência que não falam oralmente. Nesta edição, a intermediação contou com as fonoaudiólogas especialistas em linguagem Eliana Cristina Moreira (Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente, membro da SBFa com atuação no grupo de trabalho do Comitê de Comunicação Aumentativa e Alternativa, Departamento de Linguagem da SBFa e também membro do Conselho Consultivo e Conselho Científico da ISAAC-Brasil) e Regina Yu Shon Chun (livre docente do Curso de Graduação em Fonoaudiologia da UNICAMP e do Programa de Pós-graduação Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, membro do Conselho Científico da ISAAC Brasil, membro da SBFa, com atuação no grupo de trabalho do Comitê de Comunicação Aumentativa e Alternativa, Departamento de Linguagem e também do grupo de trabalho da CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade, Departamento de Saúde Coletiva da SBFa).

O destaque do painel ficou por conta da apresentação, a convite da SBFa, de Eduardo Montans de Sá (jornalista, escritor e poeta), Luciano de Almeida Moura (empresário e profissional de marketing digital), e Juliano Guerreiro Peinado (membro da ISAAC Brasil, formado em Rádio, TV e Internet e paratleta de bocha e natação). Eles têm paralisia cerebral e deram um show ao mostrar as suas trajetórias de vida com o uso da Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) em suas rotinas, além dos desafios enfrentados por conta do capacitismo da sociedade.

Dado, como é carinhosamente chamado Eduardo Sá, destacou que as limitações causadas pela paralisia cerebral não o impediram de mostrar a sua talentosa escrita ao mundo: cursou Jornalismo na Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP) sendo o único entre seus diversos primos a seguir os passos do seu avô Sebastião de Sá, também poeta e jornalista, saudoso proprietário e editor do jornal Folha do Povo, de Guaxupé/MG. Como forma de homenageá-lo, Dado escreveu o livro “O homem além do tempo” (Editora Lauda, 2023), seu mais recente lançamento, contabilizando, assim, cinco obras de sua autoria: “Magia Poética” (Editora Com Arte, 1994), “Abrindo o Baú” (Editora Com Arte, 2002), “O Desprezível” (Editora Com Arte, 2010), “Voo Perigoso” (Editora Lauda, 2016). O jornalista foi ainda o primeiro usuário no Brasil a utilizar o Bliss – o primeiro sistema gráfico aproveitado e readaptado como instrumento de comunicação no campo da educação especial e da reabilitação (“Escola Inclusiva – linguagem e mediação”, Lucia Reily).

Apreciador de whisky 12 anos, o jornalista salientou em sua apresentação o papel primordial que o ambiente desempenha na vida da pessoa com deficiência a partir de, como ele salienta, ‘seu ponto de vista e não de como os outros o vêem’: “As pessoas têm muita dificuldade em me ouvir. O trabalho é uma questão que fica afetada pela forma como a sociedade me vê: as portas estão sempre fechadas. É muito frustrante perceber que, de uma forma geral, não acreditam, não aceitam ou não compreendem que por trás deste corpo que não funciona como o da maior parte das pessoas, tem um homem, um sujeito que sente, sofre, deseja e se emociona!”.

As dificuldades no mercado de trabalho também foram destaque na apresentação de Luciano: “Saliento que conhecer e valorizar a CAA no mercado de trabalho é de extrema importância por vários motivos: a inclusão e a diversidade vão muito além do cumprimento de cotas. Temos diversas habilidades, como conhecimento técnico, criatividade e resiliência; empresas que investem em CAA descobrem que podemos ser valiosos colaboradores, capazes de realizar tarefas complexas e de trazer perspectivas únicas e criativas, uma vez que buscamos soluções aos desafios de comunicação que enfrentamos diariamente”.

O jovem citou ainda as primeiras oportunidades de emprego oferecidas por pessoas que acreditaram mais em seus talentos do que na deficiência: por meio da internet, ele fazia resenhas de notas musicais, mergulhando no mundo da música e da arte – caminho que o fez descobrir a sua paixão pelo rock, por isso, é carinhosamente chamado por amigos de “Luck Rock”, que é também o nome da sua marca: com estampas autorais, ele comercializa camisetas, canecas, moletons, sacolas, bermudas e botons.

Foto de Luciano em frente ao banner da sala 13: Nada de Nós Sem Nós

Luciano comumente publica em suas redes sociais vídeos elaborados com a inteligência artificial, como se ele estivesse ‘falando’ e, claro, não poderia deixar a IA de fora de sua palestra: resultado dos diversos cursos em IA e em marketing digital que vem realizando para aprimorar a sua atuação profissional. Assim como Dado, o jovem iniciou a CAA com o sistema Bliss na infância. Ele cita ainda a perseverança como uma das características principais para conseguir realizar seus sonhos: “No ENEM consegui uma bolsa integral. Concluí o curso superior de Tecnologia e Marketing pela UNIP e hoje trabalho também na agência de marketing Quantik, além de administrar a minha marca. Cada obstáculo se tornou uma prova da minha resiliência. Não importa as dificuldades que você enfrenta. A força interior é o farol que ilumina o caminho de superação e das realizações. Acredite em si mesmo e abrace o extraordinário!”,  destaca.

Juliano também salientou a questão do capacitismo: neste ano, prestou o Concurso Nacional Unificado, acertando 52% da prova, que, segundo o jovem, tornava-o apto a concorrer a três cargos. “No entanto, a minha redação foi zerada porque, pelo tempo de prova, não conseguiu completar o número mínimo de linhas. Contratei uma advogada, entramos com recurso e estamos aguardando uma resposta. Nada de nós sem nós!”, salienta.

O jovem se candidatou ao cargo de vereador na eleição deste ano em Itatiba/SP, sendo considerado o candidato com o maior grau de deficiência no Brasil – limitações que Juba Guerreiro Pezinhos, como é conhecido por fazer tudo com os pés, mostrou que não foram impeditivas durante o período eleitoral: com determinação, enfrentou as barreiras de acessibilidade nas ruas e, por meio do recurso de CAA, ele pedia votos às pessoas e discursava sobre seus ideais: “Pude mostrar que lugar de PcDs é onde quisermos ir e não onde a sociedade deixa. E pretendo continuar a vida política para lutar pelos direitos das pessoas com deficiência e minorias”. Juliano é também paratleta profissional de bocha e natação e é com os pés que ele toca percussão e utiliza um acionador para se comunicar com seu recurso de tecnologia assistiva.

Os palestrantes mencionaram também as barreiras enfrentadas na área amorosa por conta do foco das mulheres na deficiência, ao invés de os valorizarem como seres humanos. E, ao serem questionados pelo público sobre o que caracteriza um parceiro de comunicação ruim na visão de cada um, os palestrantes responderam de forma unânime: quando as pessoas não se direcionam a eles em uma conversa, perguntando a quem está ao lado, como pais, cuidadores e amigos, como se eles fossem incapazes de compreender. Dado exemplificou com uma situação recente que o deixou indignado: em uma consulta médica para avaliação do seu joelho, além do fato do médico direcionar o olhar e a conversa apenas ao seu cuidador, tampouco demonstrou interesse em avaliá-lo fisicamente.

Os palestrantes atualmente fazem parte do grupo “Vamos Papear?”, que acontece dentro da ISAAC-Brasil (um capítulo brasileiro da ISAAC – International Society of Alternative and Augmentative Communication), e cujo objetivo é criar um coletivo para refletir, discutir e pensar ações que possam trazer melhorias na qualidade de vida das pessoas com deficiência e que utilizam a CAA em seu cotidiano.

Parceiros de comunicação de pessoas que utilizam a CAA

Foto do palco com as 3 palestrantes

A programação do 32º Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia contou com o talk show “Como preparar parceiros de comunicação de pessoas que utilizam a CAA?”, com a participação das fonoaudiólogas Eliana Cristina Moreira (Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente, membro da SBFa com atuação no grupo de trabalho do Comitê de Comunicação Aumentativa e Alternativa, Departamento de Linguagem da SBFa e também membro do Conselho Consultivo e Conselho Científico da ISAAC-Brasil), Ana Cristina de Albuquerque Montenegro (Doutora em Linguística, docente do Departamento de Fonoaudiologia e do Programa em Saúde da Comunicação Humana, ambos da UFPE, vice-coordenadora do Comitê de CAA da SBFa e membro do Conselho Científico da ISAAC-Brasil). A moderação do painel ficou por conta da fonoaudióloga Tatiana Lanzarotto Dudas (Mestre e Doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, membro do grupo de trabalho Comitê de CAA do Departamento de linguagem da SBFa, e membro da Diretoria Expandida e Conselho Científico da ISAAC-Brasil).

“Em nossas práticas clínicas, nos preocupamos muito com a técnica, mas, muitas vezes esquecemos de olhar além da família. É preciso considerarmos toda a rede de parceiros de comunicação, advinda dos círculos sociais do indivíduo, e que podem mudar ao longo da vida”, salienta Ana Montenegro.

“Primeiro, precisamos nos conectar com o paciente e, se considerarmos que os parceiros de comunicação são referentes a qualquer indivíduo com quem a pessoa que utiliza a CAA possa interagir, as estratégias precisam englobar também as ferramentas que utilizamos em nossa rotina e que podem criar contextos para estimular a interação entre falantes e pessoas com necessidades complexas de comunicação”, diz Eliana, que cita um caso de sucesso com o uso das redes sociais: “Ajudei um paciente jovem a criar uma conta no Facebook, ele pertence a uma família expandida muito potente que para interagirem com ele usavam os pais como mediadores, após começarem a postar a sua rotina – os lugares que ia, o que gostava de comer, entre outros temas – as pessoas começaram a comentar sobre as postagens diretamente com ele. Ou seja, a rede social trouxe contexto para que as pessoas se direcionassem a ele, tornando-o mais ativo na interação”. Tatiana Dudas destaca também, neste exemplo, a mudança de posição na linguagem como mais um benefício ao jovem: “De alguém que não era visto como um sujeito falante anteriormente, mas que agora ocupava esse lugar no diálogo – o que nos mostra a importância dos parceiros de comunicação. Vale também refletirmos sobre quantas pessoas, muitas vezes, que nem tentam se comunicar com uma pessoa com prejuízos na fala oral”.

Ana Montenegro cita ainda os desafios enfrentados pelos fonoaudiólogos na compreensão da família em relação à CAA. “O papel do fonoaudiólogo é fundamental no combate ao capacitismo na espera da fala, uma vez que a comunicação vai muito além da oralidade. Além disso, é preciso apoiar e dar espaço aos parceiros de comunicação, validando até mesmo aquela comunicação única que o sujeito tinha com a avó, por exemplo”. Ela aborda também a questão da observação como fator primordial em relação aos bons parceiros de comunicação em todos os ambientes. “Durante uma pesquisa na Universidade tive a oportunidade de realizar uma imersão no ambiente escolar e observei que a acompanhante pedagógica do aluno acabava podando, sem perceber, a interação dessa criança com os demais colegas da sala. Por isso a importância de estarmos presentes nos diversos ambientes para podermos sugerir detalhes que podem fazer diferença na relação paciente-parceiro de comunicação e, principalmente, na interação social que é tão importante à pessoa com deficiência”, salienta a especialista.

Eliana destaca ainda a importância de, durante o processo terapêutico, assim como o profissional acolhe os pais, é necessário também apoiar os parceiros de comunicação, pois, muitas vezes, estes não sabem lidar com a pessoa com necessidades complexas de comunicação: “É preciso lembrar que muitos parceiros de comunicação ficam angustiados por não saberem como interagir com uma pessoa com severo comprometimento na fala. Além disso, nós, como profissionais de fonoaudiologia, devemos, além de orientar esses parceiros de comunicação e validá-los, empoderá-los, para que percam a insegurança e dialoguem, aconteça interações nos mais variados contextos, destacando sempre que o propósito é a melhoria da qualidade de vida e a inclusão da pessoa com necessidades complexas de comunicação”

32º Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia

Considerado o maior evento de fonoaudiologia da América Latina, o 32º Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia aconteceu de 28 a 30 de novembro no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo. Foram mais de 5 mil inscritos e mais de 650 palestrantes, reunindo profissionais e especialistas de diferentes áreas para discutir os avanços e desafios da fonoaudiologia, profissão essencial para a comunicação, a cognição e a alimentação ao longo de toda a vida. Promovido pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), e tendo como tema “Conectando Pessoas, Construindo o Futuro”, o congresso destaca o poder transformador da área para desenvolvimento humano.

“Reabilitar funções como comunicação, cognição e alimentação é viabilizar a capacidade das pessoas se conectarem em sociedade, garantindo sua existência e qualidade de vida, e é por isso que o evento é uma oportunidade única de aprofundamento dos conhecimentos que colaboram com a construção de uma Fonoaudiologia de excelência, baseada em evidências científicas”, relata Dr. Leonardo Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.

A programação contou com diversos espaços e atividades – todos sinalizados com Comunicação Aumentativa e Alternativa por meio de pictogramas – voltados para a troca de experiências e aprendizado prático, como arenas e salas temáticas, e com uma grande variedade de temas relacionados aos desafios da profissão aos dias atuais.

Fonte: Assessoria de imprensa 

Foto de Mariana, Mirella, Bruno e Caio posando em frente ao estande da Civiam

A Civiam marcou presença no 32º Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia com um estande, onde os nossos especialistas puderam mostrar diversos recursos de Comunicação Aumentativa e Alternativa e Tecnologia Assistiva. Alguns ítens como canecas, bottons e camisetas com a CAA fizeram o maior sucesso, mostrando, assim, o desejo dos visitantes de vestiram ‘literalmente’ a causa da comunicação alternativa!

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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