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Férias mais tranquilas: veja as dicas do casal Rui e Shirley de como a Comunicação Alternativa ajuda o filho João a ter menos crises de ansiedade

Foto em preto e branco do casal Rui e Shirley viajando de carro com seu filho João

Shirley e Rui Lima, ao longo dos anos de aprendizado de como aplicar a Comunicação Alternativa com o filho caçula João, 11 anos, diagnosticado com autismo aos 4 anos, desenvolveram diversas estratégias e técnicas para a rotina da família, ainda mais em período de férias: o casal prepara todo o material de antecipação para que João consiga desfrutar desse período com mais tranquilidade. 

“Quando pensamos nas férias, a primeira coisa que consideramos para preparação do material é definir para onde iremos, a partir daí o que terá nesse lugar, quais serão as principais atividades e também considerar algumas situações que poderão trazer frustrações – situações essas que fogem do nosso controle e nos impedirão de realizar a atividade pré-determinada e que ele esperava muito realizar,  como exemplo, ir à praia ou piscina quando o dia amanhece chovendo”, explica Rui.

“Também buscamos avisá-lo na semana que viajaremos, porque já percebemos que avisá-lo com poucos dias da viagem não gera tanta ansiedade nele como se falarmos com mais tempo de antecedência”, diz Shirley, que ressalta a importância dos pais sempre levarem os apoios visuais da criança com necessidades complexas de comunicação (NCC) para serem fixados no local onde ficarão durante a viagem, como, por exemplo, com os temas “rotina de banheiro”, “hora das refeições”, entre outros.

O casal costuma viajar de avião, no trajeto Chile (onde residem) – Brasil, por isso, desenvolveram diversos materiais específicos para esse tipo de situação, que, na maior parte das famílias com crianças autistas, é vista como desafiadora – seja pelo tempo demorado de embarque, seja pelas crises que acometem os autistas em ambientes com muitas pessoas.

“Quando viajamos de avião sempre utilizamos a história social no antes e durante a viagem e, para isso, as imagens são selecionadas de acordo com a nossa necessidade. Mostrar o passo a passo de como chegaremos no aeroporto, passar pelo check-in, sala de espera e embarque é importantíssimo para que as crises não aconteçam. Outra coisa que funciona muito bem é deixar para entrar no avião só na hora da última chamada para o voo, que diminui o tempo de espera na decolagem”, detalha Rui.

Imagens: arquivo pessoal @autismouniversal

Shirley diz que outra grande dica às famílias é reservarem assentos estratégicos, como, por exemplo, no caso da família Lima, sempre um dos dois fica sentado na poltrona em frente ao João. “Assim, caso ele tenha alguma crise ou inquietação durante o voo e chute o assento da frente, não haverá problemas com nenhum passageiro. Antes de pensarmos nessa estratégia, costumávamos reservar assentos um ao lado do outro, mas já passamos por situações bem desagradáveis com passageiros nesse tipo de situação, em que o João começou a chutar o assento da frente. O fato é que nem todo mundo entende o autista, mesmo quando você explica o que acontece”, alerta.

Rui destaca ainda a importância dos pais se atentarem a levar lanches para a viagem, que ajudam a amenizar o desconforto da pressurização do avião: “temos sempre em mãos também chiclete, assim ele mastiga alguma coisa durante a viagem, o que diminui possíveis incômodos comuns durante o voo, que podem desencadear crises”, alerta.

Foto do Google maps com um trajeto longo assinalado

Shirley ressalta também que, nestas férias, além da viagem de avião, pela primeira vez a família fez também uma viagem muito longa de carro – 30 horas de estrada. “Foi um grande desafio, uma prova de fogo para nós, porque nunca tínhamos viajado tanto tempo de carro assim com o João e, para a nossa surpresa e alegria, aconteceram dois momentos isolados em que ele estava iniciando uma crise, mas conseguimos identificar o motivo a tempo e controlamos a situação. Para nós foi muito mais estressante e nos causou muita ansiedade, porque não sabíamos que passaria a crise, mas precisávamos expor nosso filho a essa situação”, relembra Shirley. 

Quanto às festas de fim de ano, Rui ressalta que o casal antecipa todas as situações por meio de pranchas temáticas e também com o uso de aplicativos de comunicação. “Assim como passeios em praias ou shoppings, também utilizamos a estratégia da antecipação e levamos as pranchas em todos os lugares”.

A família mantém ainda os estímulos durante as férias de acordo com as orientações das terapeutas de João. “Buscamos aproveitar as oportunidades que alguns lugares proporcionam para reforçar e treinar novas habilidades de maneira natural”, destaca Shirley, que ressalta ainda o quanto a Comunicação Alternativa proporcionou a João a autorregulação: “Os recursos e ferramentas são fundamentais para que ele não se desregule, porque o permitem  dizer o que quer, o que sente e o que precisa em qualquer lugar ou situação, lembrando que tais recursos precisam estar sempre disponíveis, seja em média e alta tecnologia (equipamentos eletrônicos), como impressos (baixa tecnologia),  porque temos que ter a consciência de que o sistema de comunicação faz parte da vida dele”, diz Rui.

Foto de uma prancha de CAA no banco de uma igreja

A família mantém ainda os estímulos durante as férias de acordo com as orientações das terapeutas de João. “Buscamos aproveitar as oportunidades que alguns lugares proporcionam para reforçar e treinar novas habilidades de maneira natural”, destaca Shirley, que ressalta ainda o quanto a Comunicação Alternativa proporcionou a João a autorregulação: “Os recursos e ferramentas são fundamentais para que ele não se desregule, porque o permitem  dizer o que quer, o que sente e o que precisa em qualquer lugar ou situação, lembrando que tais recursos precisam estar sempre disponíveis, seja em média e alta tecnologia (equipamentos eletrônicos), como impressos (baixa tecnologia),  porque temos que ter a consciência de que o sistema de comunicação faz parte da vida dele”, diz Rui.

A todos que ainda têm receio quanto à Comunicação Alternativa (CA), Shirley deixa um conselho: “Costumamos dizer que a chegada da CA foi um divisor de águas na nossa história familiar. Não é uma tarefa fácil, no nosso caso, expor o João a diferentes ambientes e situações foi de forma gradual, o que fez toda a diferença. Também estar preparados para olhares e comentários alheios, mas ter sempre em mente de que o que importa é o bem estar do seu filho e de sua família e não do que as pessoas ao redor vão pensar. Além disso, lembrar também que a CA não é só montar uma prancha de comunicação ou disponibilizar um tablet com um comunicador e achar que como um  passe de mágica o seu filho passará a se expressar de forma efetiva. Para que isso aconteça, é necessário muito trabalho, paciência, treino, choro, muitas vezes desânimo, e vontade de desistir. Mas, nessas horas, o ideal é respirar fundo, seguir em frente porque o resultado é libertador para você, seu filho e todos os que estão à sua volta”, aconselha.

O casal, que é inspiração de muitas outras famílias na criação de recursos de baixa tecnologia de CA, está desenvolvendo um curso com base em toda a expertise que Shirley e Rui vêm aprimorando cada vez mais nos materiais aplicados a João. O objetivo é  ensinar pais e profissionais na preparação e aplicação de materiais de CA, como pranchas de comunicação alternativa. A previsão de lançamento é para o primeiro semestre de 2023. Mais informações serão divulgadas no insta do casal @autismouniversal.

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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