A afasia ainda é pouco conhecida pela maioria das pessoas, embora tenha sido bastante citada pela mídia quando a família do ator americano Bruce Willis anunciou, em março, a aposentadoria do astro, aos 67 anos, por estar afásico.
A condição tem como principal característica o comprometimento da linguagem após um dano cerebral, sendo a causa mais comum o acidente vascular cerebral (AVC) no lado esquerdo do cérebro, que é o dominante para a função da linguagem. Outras causas podem ser o traumatismo cranioencefálico (TCE), tumor cerebral, aneurisma, infecções cerebrais e alguns tipos de demência, como as afasias progressivas primárias. Casos raros de afasia podem ocorrer devido a um dano no lado direito ou em regiões subcorticais do cérebro.
A pessoa que se torna afásica apresenta alteração em sua capacidade de se comunicar de forma adequada, pois pode afetar tanto a linguagem oral quanto a escrita, a compreensão de diálogos, além de dificuldades para ler e selecionar palavras dentro da sua narrativa. A afasia pode ser de diferentes graus, como mais leves (por exemplo: o afásico tem dificuldade para lembrar uma palavra específica durante uma conversa ou não compreender um contexto ou ditado popular), até as mais graves (a pessoa não consegue elaborar uma frase para falar ou escrever, nem ler e compreender o que os outros falam).
Apesar de a alteração de linguagem ser predominante na afasia, alterações em outras habilidades cognitivas, como a memória e funções executivas (processos cognitivos que incluem a memória), podem ocorrer, em maior ou menor grau. Tais funções se referem ao armazenamento de informações por curto período, como, por exemplo, o número de um telefone, raciocínio, flexibilidade, planejamento e execução de tarefas, resolução de problemas, entre outros.
Quando o dano cerebral afeta também áreas responsáveis pela produção da fala, podem ocorrer outras alterações juntamente com a afasia, que são a apraxia de fala (falha na programação e planejamento motor da fala) e a disartria (falha na coordenação e mobilidade dos movimentos articulatórios). Alterações específicas de leitura (dislexia ou alexia) e escrita (disgrafia ou agrafia) também são comuns em afásicos.
Quem tem afasia expressa suas ideias de forma única, afinal, por isso, a forma como os afásicos encontram para lidar com a condição é reconstruir a capacidade de se comunicar, podendo ser por gestos, expressão facial ou reinventando um jeito próprio de dizer as coisas.
Tipos de afasias
Existem diversos tipos de afasias, que são classificadas em dois grandes grupos, de acordo com o nível de fluência da comunicação do afásico:
Fluentes: o indivíduo é capaz de produzir fala encadeada. A estrutura das frases está relativamente intacta, mas há falhas nos significados.
Não fluentes: a produção da fala é pausada e com esforço. A gramática está prejudicada, mas o conteúdo das palavras pode estar preservado.
A partir do nível de fluência é que são verificadas as dificuldades principais do afásico e, então, cada tipo de afasia recebe uma nomenclatura específica, como, por exemplo, afasia de condução, que está no grupo dos fluentes: dificuldades para encontrar palavras e para repetir frases. Já a afasia progressiva primária (dificuldade progressiva de linguagem resultante de um processo demencial) está classificada no grupo dos não fluentes. Por isso, são diversos os tipos de afasia, mas, é importante ressaltar que os sintomas podem se apresentar em menor ou maior grau em cada indivíduo. Em alguns casos, é difícil classificar a afasia rigorosamente em um dos tipos, porque cada pessoa tem características únicas e está sujeita a ambientes muito particulares que influenciam no funcionamento da linguagem.
Reabilitação
A partir de uma avaliação profissional das possibilidades de recuperação é que é escolhida a abordagem terapêutica para a reabilitação da linguagem do afásico. São consideradas suas necessidades, desejos, metas e particularidades da pessoa com afasia e dos familiares, o tipo e a gravidade do comprometimento da linguagem e de fatores prognósticos. O objetivo da intervenção é ajudar o indivíduo a alcançar o mais alto nível possível de autonomia em sua vida diária.
Em linhas gerais, as abordagens de reabilitação da linguagem para pessoas com afasia podem ser divididas em duas principais categorias: as terapias centradas no déficit, que visam melhorar as funções da linguagem por meio da estimulação direta dos grupos de habilidades que estão alterados, como a compreensão oral, expressão oral, leitura e escrita; e as terapias compensatórias (ou centradas na comunicação), que objetivam aprimorar a comunicação por qualquer meio (fala, escrita, gestos, imagens e outros meios alternativos), além de incentivar o apoio dos familiares e cuidadores a serem parceiros de comunicação neste processo.
Essas terapias geralmente aproveitam as oportunidades de comunicação que surgem nas interações naturais do dia a dia, contudo, estratégias mais dirigidas e controladas também podem ser utilizadas. Tanto as terapias centradas no déficit quanto as compensatórias contemplam métodos específicos de tratamento, que são reconhecidos no meio fonoaudiológico e têm sua eficácia comprovada por pesquisas.
É possível ainda trabalhar simultaneamente aspectos de ambas as abordagens. A decisão sobre a escolha do método e a forma de sua aplicação cabe ao profissional fonoaudiólogo, o qual deve levar em conta as evidências científicas, as características da afasia e as particularidades do afásico e sua família.
Como ajudar um afásico a se comunicar
- Dê mais tempo para o afásico se expressar e compreender você,
- Use frases curtas e simples,
- Converse em um ambiente tranquilo,
- Use desenhos, gestos e imagens, se necessário,
- Fale sobre um tema de cada vez,
- Mostre que você se interessa pelo que a pessoa tem a dizer e que, apesar das dificuldades, é muito bom conversar com o afásico,
- Tenha um papel à mão para escrever as palavras importantes da sua conversa, com letras grandes, para que o indivíduo consiga compreender o que você diz;
- Evitar pedir para repetir palavras, pois pode frustrar a pessoa com afasia e não tornará a comunicação funcional.
Onde buscar apoio e informações:
A Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia disponibiliza um e-book gratuito com todas as informações sobre a afasia, cujo título é: “Conversando sobre Afasia: Guia Familiar”. Basta fazer o download no link: https://lp.sbfa.org.br/guia-afasia/
O Portal da Afasia é outra fonte de orientações onde as famílias se informar a respeito da patologia, pois a alteração da linguagem provocada pela afasia impacta a vida familiar, social, profissional e escolar e em suas relações sociais e afetivas. A condição do afásico também atinge o seu entorno, impactando as pessoas com quem convive em sua vida familiar e social.
Fontes:
E-book Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia: “Conversando sobre Afasia: Guia Familiar”.
http://redeafasiabrasil.com.br/
https://otomed.pt/noticias/articles/Afasia
https://sp.unifesp.br/epe/noticias/afasia
https://www.einstein.br/guia-doencas-sintomas/afasias
https://www.sbfa.org.br/portal2017/arquivos_/afasia20-oque-e-campanha.pdf