
“Na cadeira de rodas descobri o meu propósito de vida”, diz Andrea Schwarz, empreendedora social, palestrante, mãe do Guilherme e do Leonardo, esposa do Jaques Haber, fundadora da iigual, 1ª mulher com deficiência Linkedin Top Voices e palestrante do TEDxSavassi Vivendo e Aprendendo 2020.
Vaidosa, apaixonada por viajar, por moda e pela vida, Andrea é inspiração a todas as mulheres, principalmente neste Dia Internacional da Mulher, celebrado hoje, 8 de março. Aos 22 anos de idade, ficou paraplégica devido a uma má formação na medula espinhal e, como ela brinca, foi apresentada à sua melhor amiga: a cadeira de rodas. “Era muito jovem e comecei a entender: o que eu posso fazer com essa representatividade pelos outros?”.
A leveza, o olhar positivo são, inclusive, características que Andrea aprendeu a levar para a sua vida para encarar a sua nova condição, com aceitação e com o apoio da família e o amor do namorado na época com 20 anos e atual esposo, Jaques Haber, passou a entender o poder de escolher viver o aqui e agora e deixar de se preocupar com o futuro. “Eu nunca acho que um obstáculo é um ponto final, eu sempre acredito que há um objetivo maior e eu vou superá-lo. Por isso, sempre quando vejo algo grandioso que quero concretizar, lembro de tudo que passei de superação com a cadeira de rodas como motivação para as minhas novas conquistas. Ao mesmo tempo, vejo as pessoas discutindo por tão pouco e perdendo tempo com coisas insignificantes na vida”, diz.
Propósito de vida
O olhar de julgamento por conta da cadeira de rodas a fez pensar sobre sua missão de vida e, a partir daí que começou a entender o importante papel que desempenharia na sociedade: de conscientizar as pessoas sobre deficiência, inclusão, pré-julgamentos e aceitação. “Quando passei a me locomover com a cadeira de rodas, eu me via igual às pessoas, mas a sociedade passou a me enxergar diferente, com o olhar da invisibilidade e a olhar mais para a cadeira do que para a Andrea, mais para a deficiência do que para a pessoa que eu sou e, principalmente, a me colocar em caixinhas, que são os rótulos e os julgamentos. Porque quando as pessoas já nos rotulam como PcDs, já estão nos limitando pela deficiência, que nos limita no ir e vir, limitando a vaga no mercado, o tipo de roupas que vamos vestir, porque nem isso é pensado para as nossas condições. Mas nós somos muito mais do que a deficiência, que é apenas uma das muitas características que nós temos. Eu sou empreendedora social, tenho uma agenda atribulada de trabalho, sou palestrante, mãe, esposa, cuido de tudo em casa, como toda mulher, e sou cadeirante. Ou seja, a cadeira de rodas deveria ser enxergada como uma característica depois de mim e não antes da pessoa que sou, com todas minhas potencialidades, talentos e habilidades”, diz.
E, assim, logo que se tornou cadeirante, juntamente com o marido Jaques, que na época era seu namorado, Andrea começou a olhar para as dificuldades de acessibilidade como uma oportunidade para falar sobre o assunto da mobilidade das pessoas com deficiência. Um ano depois, conseguiram patrocínio do Grupo Pão de Açúcar e no final de 1999 lançaram o Guia São Paulo Adaptada, a primeira publicação voltada a pessoas com deficiência que trouxe informações de acessibilidade de mais de 1000 estabelecimentos em São Paulo, além de mapear todos os serviços essenciais, como por exemplo a questão de como conseguir isenção para compra de automóveis e como conseguir emprego por meio da Lei de Cotas.
Dessa forma, percebendo o importante papel de dar e ser voz das pessoas com deficiência, principalmente no mercado de trabalho, é que Andrea e Jaques, há 21 anos, fundaram a iigual, empresa de inclusão e diversidade que faz a ponte entre os profissionais e as empresas que querem contratar pessoas com deficiência. A iigual presta ainda consultoria para que as contratações dessas pessoas sejam de acordo com os perfis e habilidades e não apenas para cumprir a Lei de Cotas. “Ao mesmo tempo que a Lei de Cotas é um benefício às pessoas com deficiência, quando vista pelos gestores como um mero cumprimento dessa lei, passa a ser o maior erro estratégico que uma empresa pode cometer, pois a inclusão deve estar pautada na valorização da pessoa, da sua capacidade profissional e dos seus talentos e não das suas limitações”, ressalta a empresária. E complementa: “uma empresa inclusiva é aquela que oferece igualdade de oportunidades para todos, mas sabemos que para isso a cultura organizacional deve ser trabalhada”.
Andrea ressalta que um dos maiores ganhos para as empresas que contratam pessoas com deficiência é conviver com a pluralidade. “Quando me perguntam o motivo de grandes capitais, como São Paulo, terem tantos pontos falhos em termos de acessibilidade, o que eu sempre trago à reflexão é que quando a sociedade não convive com uma pessoa com deficiência, a questão da acessibilidade e a empatia pelo outro é praticamente inexistente. Por isso, quando as empresas incluem profissionais plurais e todos passam a conviver com as diferenças, o olhar para o outro e a empatia se expandem daquele ambiente de trabalho. Por isso é tão benéfica e importante a contratação de pessoas com deficiência, não apenas para uma sociedade ser mais inclusiva, mas passa a ser uma das principais formas de combater os rótulos dos julgamentos e do capacitismo. A sociedade precisa ser pensada para todos e estamos vivendo um momento em que as pessoas estão percebendo que a inclusão é boa para todo mundo, não apenas para as pessoas com deficiência. Quando todo mundo joga, todo mundo ganha. E um dos grandes desafios da humanidade é enxergar a pessoa antes da sua deficiência”, esclarece Andrea.
Maternidade
O fato de ser cadeirante não tirou o sonho da maternidade, pelo contrário. Andrea estudou como poderia viabilizar a gravidez e buscou médicos que pudessem apoiá-la. “Chegaram a duvidar que eu ia conseguir ser mãe, mas eu não. Ser mãe foi o maior sonho que eu consegui realizar”, orgulha-se ao mencionar os dois filhos, Guilherme (15), e Leonardo (13).
Em seu Instagram, Andrea cita a força da maternidade em um post de homenagem ao mais velho na data do seu aniversário: “Eu achava que era forte por enfrentar a deficiência, aquilo que havia acontecido comigo, até me tornar mãe e sentir o que era a força materna. Eu achava que sabia o que era amar, até sentir o amor que uma mãe sente pelo filho. Eu achava que era uma pessoa responsável, até ter uma criança para cuidar. Eu achava que era uma boa profissional, uma boa pessoa, até aprender com a maternidade que poderia ser muito melhor”.No Dia Internacional da Mulher, a empreendedora deixa a mensagem a todas as mulheres para que escolham sempre o caminho da positividade: “A nossa cabeça é determinante quando acontecem as adversidades, por isso, devemos sempre escolher como queremos viver os fatos. Não controlamos a vida e as melhores mudanças acontecem quando saímos do estado de conforto. Por isso, devemos aceitar as adversidades, quem nós somos e trabalhar as escolhas que nós vamos fazendo sobre o que queremos para nós! Eu nunca perguntei à Andrea se os meus sonhos eram possíveis, mas, sim, se os meus sonhos eram suficientes. Então, que não nos limitemos por nada, por nenhuma deficiência, pois nós devemos ocupar o nosso espaço, afinal a nossa felicidade pertence a nós, assim como o nosso destino. E nós podemos ser felizes em qualquer condição!”.
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