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Tonturas: de um simples deslocamento de cristais a sintomas de problemas mais graves

mulher jovem sentada com a cabeça para trás e mão na cabeça. O ambiente atras, uma sala, parece estar rodando.

Quando acontece uma tontura, é comum as pessoas logo a associarem à ‘labirintite’, sendo esta uma condição rara de inflamação do labirinto, que normalmente é desencadeada após uma infecção causada por um resfriado ou gripe. De acordo com o otorrinolaringologista Renato Cal*, certificado pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia, pós-graduado em Otologia e Neurologia pela Harvard Medical School e professor na disciplina de otorrinolaringologia do Centro Universitário do Pará, “uma das causas mais comuns da tontura é a vertigem posicional paroxística benigna (VPPB), que ocorre pelo deslocamento de fragmentos de otólitos, que são cristais responsáveis pelo equilíbrio que ficam dentro da orelha interna, e que acontece por movimentos bruscos da cabeça como, por exemplo, ao deitar ou ao levantar da cama, trocar de posição quando deitado e estender o pescoço para olhar para o alto. E o deslocamento dos cristais pode causar, além da tontura, náuseas e vômitos”. Segundo o especialista, a VPPB é tratada com manobras de fisioterapia, de modo que os cristais retornem aos locais e às posições corretas de onde saíram e, assim, retomem o equilíbrio da pessoa. “Aproximadamente 17 % dos casos de vertigem correspondem a VPPB, sendo mais comum entre mulheres de 40 a 60 anos. Os demais casos de tontura podem estar associados a diversas situações patológicas, desde um problema otoneurológico, ou seja, um problema que envolve os labirintos, como diversas outras patologias, como doenças neurológicas, cardiovasculares, endócrinas, psiquiátricas, além de alterações hormonais”, esclarece.

“A grande maioria dos pacientes, segundo a literatura e a minha experiência pessoal, cerca de 80% nos atendimentos a VPPB, em uma única manobra de fisioterapia têm o problema resolvido e os cristais retornam ao posicionamento adequado dentro da orelha, cessando a tontura. Mas,  20% dos atendimentos exigem mais manobras, podendo ser duas, três, quatro. Eu já tive algumas exceções, que são casos mais raros de pacientes que tiveram que fazer muitas manobras para que os cristais voltassem ao local correto. Há também a reabilitação vestibular, que apenas é indicada para condições específicas, como, por exemplo, em casos de hipofunção vestibular pós neurite (ou labirintite), ou seja, quando há um desequilíbrio do sistema vestibular causado por uma inflamação do labirinto; ou até em casos de hipofunção vestibular bilateral, quando há um desequilíbrio de atividade e o sistema vestibular precisa ser compensado, a fim de restaurar a simetria de informação ou o retorno da função do equilíbrio. Em ambas as situações, o número de sessões de reabilitação vestibular depende de aspectos, tais como: idade e grau de mobilidade do paciente, se a hipofunção é unilateral ou bilateral, se há comorbidades, entre outros”, avalia o especialista.

Identificação da tontura

De acordo com o médico, uma das dificuldades principais no diagnóstico do que causa a tontura é o paciente saber identificá-la e explicá-la ao médico. “A tontura é um sintoma que muitas vezes é difícil a pessoa descrever de uma forma precisa, tanto que é bem comum o paciente contar uma história de um tipo de tontura e quando ele vai em outro médico, conta outro enredo, sobre outro tipo de tontura. Ou seja, as pessoas têm dificuldade, realmente, de descrever a tontura e por isso é muito comum a confusão entre tontura, vertigem e, até por isso, generalizam qualquer tontura como ‘labirintite’. Mas, a vertigem seria qualquer sensação anômala de movimento, que geralmente se caracteriza pela sensação do ambiente ou do paciente rodando; enquanto que a tontura seria mais uma instabilidade. Já a labirintite, como mencionado, é uma condição bastante rara, de inflamação do labirinto e em condição específica de pós gripe ou resfriado. E, hoje em dia, os trabalhos e as pesquisas mais atuais da neurologia estão mostrando que cada vez mais é menos importante, do ponto de vista médico, a caracterização do tipo da tontura, mas, sim, da sua duração, dos seus gatilhos e os sintomas relacionados, como enjôos, dor de cabeça, visão prejudicada, entre outros”, explica o especialista.

De acordo com o doutor Renato, a tontura é sempre um sintoma que deve ser investigado, apesar de muitas pessoas a levarem como algo simples. “Em todos os casos, em uma condição normal de saúde a tontura não deve existir e, entre os seus principais fatores desencadeadores, além da VPPB, estão os problemas otoneurológicos, as doenças neurológicas, cardiovasculares, endócrinas e até as doenças psiquiátricas. Além disso, é preciso atenção ao consumo excessivo de determinadas substâncias que podem ser estimulantes aos sintomas da tontura, como alimentos com alta quantidade de açúcar, excesso de cafeína e bebidas alcoólicas. Mas, volto a afirmar que essa questão alimentar, muitas vezes as pessoas confundem com coisas do tipo: ‘ah, tomou café, então vai ter tontura’ e não é isso. Essas substâncias, como o açúcar, a cafeína, o álcool, podem, sim, ser um fator irritante ao labirinto quando consumidos em alta quantidade, mas não significa que um simples café ou um simples doce vai gerar uma tontura. Na minha experiência, a maioria dos casos de tontura têm sido causados por doenças e não pelo excesso de consumo de substâncias. Mas, claro, se o paciente já estiver em um quadro em que há prejuízo da saúde do labirinto e há tonturas frequentes, o consumo de tais alimentos deve ser evitado”.

Segundo o especialista, vale lembrar que o envelhecimento é um fator que aumenta a incidência das doenças labirínticas. “A VPPB é uma das doenças que mais aparece na terceira idade, pelo fato de que alguns pacientes, com o passar dos anos, principalmente as mulheres pós-menopausa, costumam ter maior incidência de distúrbios do metabolismo do cálcio, então, elas costumam ter mais osteoporose, osteopenia, déficit de vitamina D e todo esse quadro poderia afetar na formação das otocones, que são partículas de carbonato de cálcio. Além disso, com o passar dos anos, o organismo vai naturalmente perdendo as funções das células, levando a uma condição nos idosos bastante frequente, denominada hipofunção vestibular bilateral, ou seja, quando os dois labirintos vão, aos poucos, perdendo a função e o paciente vai sofrendo com isso”.

Tratamentos

De acordo com o doutor Renato, apesar de muitas pessoas não darem a devida importância aos pequenos episódios de tontura, é preciso sempre consultar um médico otorrinolaringologista para checar o diagnóstico correto do sintoma e, então, saber qual o tratamento mais adequado. “Sabemos que para doenças comuns, como a VPPB, na grande maioria das vezes, as manobras de fisioterapia para reposicionamento dos cristais são funcionais, mas a quantidade, como mencionei, só é possível saber com o acompanhamento médico do tratamento. Em outros casos mais raros, pode haver até mesmo indicação cirúrgica, dependendo da doença, por exemplo, para correção do canal, entre outros. Além do que, em cada diagnóstico é preciso avaliar as condições gerais de saúde de cada paciente para orientá-lo acerca do tratamento mais assertivo a cada caso. Mas, é preciso que as pessoas não ignorem a tontura, considerando-a apenas como um sinal isolado de um mal estar, apenas. É preciso entendê-la como um alerta do próprio organismo, avisando que algo precisa ser investigado com mais cuidado para entender de onde surgiu aquele sintoma e jamais se automedicar com medicamentos que irão camuflá-la momentaneamente”

Para o especialista, após a resolução do problema, muitos pacientes se sentem inseguros quanto a episódios que podem reincidir em novas crises de tontura durante a rotina. “Por isso, a orientação do médico sobre o diagnóstico, a condução do tratamento e esclarecer sobre as possibilidades de reincidência são fundamentais para garantir maior tranquilidade e preparo emocional ao paciente para que conviva da melhor forma com possíveis quadros de tontura que poderão vir a acontecer novamente”, explica. 

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Renato Cal* é Médico Otorrinolaringologista pela ABORL-CCF
Fellow em Neurotologia pela Universidade de Harvard
Professor da Disciplina de ORL do Centro Universitário do Pará (CESUPA)

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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