
Em comemoração ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado no dia 2/4, a Recriando Reabilitação Multidisciplinar vai inaugurar em abril um pólo novo de atendimento especializado para autistas.
“Nós trabalhamos com uma equipe multidisciplinar no tratamento do autismo, todos os nossos terapeutas ocupacionais têm a certificação de Integração Sensorial, que é um processo neurobiológico que promove a capacidade de processar, organizar, interpretar sensações e responder de maneira apropriada ao ambiente. Essa abordagem é muito importante para a adequação sensorial das nossas crianças. Além disso, os nossos terapeutas também têm formação na linha do Conceito Bobath, que é pouco falado no atendimento às nossas crianças com autismo, e se trata de um modelo holístico e interdisciplinar de prática clínica, baseado em pesquisas atuais e em constante evolução. Sua prática enfatiza o manuseio terapêutico individualizado tendo como suporte a análise de movimento para habilitação e reabilitação de indivíduos com fisiopatia neurológica. Usando o modelo da CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade), o terapeuta estabelece uma abordagem de resolução de problemas para avaliar a atividade e participação com a finalidade de identificar e priorizar aspectos íntegros e deficiências relevantes para o estabelecimento de resultados atingíveis para clientes e cuidadores”, explica Raquel Dias*, terapeuta ocupacional e uma das sócias-fundadoras da Recriando Reabilitação Multidisciplinar.
Diversas abordagens terapêuticas para o atendimento de crianças autistas
De acordo com ela, entre as abordagens terapêuticas para o atendimento a autistas, o Bobath é fundamental para a aprendizagem motora, auxilia ainda as crianças com dificuldades na práxis, com diminuição de tônus muscular, além das que têm dificuldades na consciência corporal de forma global. “Por isso, devemos trazer consciência aos pais de que essa abordagem irá beneficiar demais seus filhos”, enfatiza. A especialista diz ainda que a equipe de fonoaudiologia é também formada em Teacch e PROMPT, uma abordagem terapêutica que envolve muitos aspectos e é eficiente no tratamento das desordens motoras de fala, como as Apraxias de Fala e disartrias. “Tais formações das nossas fonoaudiólogas beneficiam os nossos pacientes, à medida que podem auxiliá-las no desenvolvimento da comunicação, que vai muito além da linguagem falada. Vale ressaltar também que a comunicação rompe fronteiras, por isso, nossa equipe é habilitada a utilizar o PODD e PECs. Temos ainda para o tratamento de autismo a psicologia na linha da TCC (Terapia Cognitiva Comportamental), além da nossa equipe contar com profissionais na ciência ABA (Applied Behavior Analysis, mais conhecida como Análise do Comportamento Aplicada). Trabalhar com ABA é ampliar o repertório comportamental da criança. Com isso, espera-se que ela melhore quanto à interação com outras pessoas e tenha menos dificuldades na comunicação social. O conjunto de técnicas visa, também, a diminuição de comportamentos disruptivos”, explica Raquel.
A especialista explica ainda que o ABA, por ser uma abordagem com ramificações de aplicações em diversos ambientes, como em casa, na escola e na clínica, é uma ciência bem complexa que precisa ser estudada e aperfeiçoada por todos que atendem pacientes autistas. “Por isso que na Recriando, os nossos profissionais, como fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicomotricistas, musicoterapeutas, entre outros, são formados em ABA e muitos estão cursando a pós-graduação nessa temática. Ou seja: temos na clínica toda uma equipe multidisciplinar integrando o ABA de forma correta, o que torna essa ciência muito bonita pelo que proporciona aos pacientes”, orgulha-se Raquel.
A profissional diz ainda que a Recriando Reabilitação Multidisciplinar oferece às pessoas com TEA diversas outras terapias que são aplicadas por profissionais com especialização em autismo: hidroterapia, equoterapia e assistência por animais. “E é essa nossa equipe: que abraça, que é apaixonada pelas nossas crianças e busca sempre se desenvolver constantemente para melhor atender quem precisa”.
Raquel enfatiza ainda que os fisioterapeutas da clínica também são formados em uma das técnicas muito utilizadas para a aprendizagem, o Padovan. “Por isso, cada criança que chega na Recriando é avaliada para selecionarmos qual é a melhor abordagem, qual é a ciência que vai mais se adequar ao tratamento daquele paciente, sempre com um olhar voltado não apenas à criança, mas também à sua família. E é esse atendimento que faz todo o diferencial da Recriando: nós somamos as nossas forças para oferecer o melhor atendimento”, diz a especialista.
Como surgiu a Recriando Reabilitação Multidisciplinar
O amor por cuidar de pessoas foi o que motivou três profissionais que trabalhavam juntas a montar uma clínica para oferecer a reabilitação de modo multidisciplinar que, naquela época, em 2014, não existia na região de Campo Grande (RJ). E assim, Lidiane Mendonça da Costa (fisioterapeuta), Elaine Lima Ponce (fonoaudióloga) e Raquel Dias (terapeuta ocupacional) abraçaram a ideia, certas de que todas estavam alinhadas com o jeito de trabalhar – com muita amorosidade e dedicação no lidar com as pessoas para, de forma conjunta, ter como único objetivo a melhora efetiva do paciente.
“Eu tive a benção de seis meses após estar formada conseguir integrar a AACD. Eu sempre falo às pessoas que tudo que eu sou hoje eu agradeço a essa escola, que forma, que ensina a nos valorizar e a trabalhar dentro de uma equipe, a olhar o ser da sua forma global e onde passamos a entender que na reabilitação ninguém é uma ilha. Nós precisamos do outro, da outra especialidade, dos companheiros de equipe para que realmente o tratamento seja eficiente para o paciente”, explica Raquel, que trabalhou por 7 anos na instituição e lá conheceu Lidiane, que trabalhou por 9 anos, e Elaine, 8 anos.
“É interessante dizer que nós três não tínhamos dinheiro. Então nós começamos do zero mesmo, passamos a procurar um espaço e encontramos uma salinha de 43m² em uma das ruas principais aqui do bairro de Campo Grande e nós não tínhamos dinheiro pra fazer a reforma. Então durante um ano nós três ficamos indo com as nossas famílias aos finais de semana para nós mesmos irmos lá quebrar, lixar, pintar, porque as salas, na grande maioria, não são adaptadas às necessidades das nossas crianças com deficiência. Então, como não tínhamos recursos para pagar quem fizesse a reforma, nós abrimos mão do descanso para que a gente pudesse construir um sonho. E no dia 27/07/2014 nasceu a Recriando. Nasceu literalmente ‘recriando’, porque nós recriamos toda a sala”, relembra a terapeuta ocupacional.
A especialista explica que o nome ‘Recriando’ foi escolhido pela motivação da existência da clínica. “O objetivo é que, por meio das terapias de reabilitação, consigamos construir novas histórias e um futuro para as nossas crianças e suas famílias. Por isso que a gente tem o slogan ‘Enquanto houver 1% de chance, haverá 99% de possibilidades’, porque acreditamos de verdade nessa frase e aqui não existe a opção de desistir. Na Recriando, somos pessoas extremamente comprometidas com nossos objetivos de melhorar a funcionalidade juntamente com qualidade de vida e, por isso, literalmente, ninguém solta a mão de ninguém. Temos uma equipe unida com o propósito de fazer com que as nossas crianças sejam exatamente o que elas são, crianças”, esclarece Raquel.
Para atingir esse objetivo é que o maior diferencial da Recriando é oferecer um atendimento com toda assistência terapêutica que a criança precisa em apenas um local. “E ter uma equipe unida e engajada, com a mesma linha de raciocínio e com o mesmo pensamento clínico faz toda a diferença no tratamento. Um dos resultados é ver a criança e a família florescerem muito mais rápido, porque ter em um único local uma equipe muito engajada e comprometida em estar sempre se atualizando e se reciclando para trazer o melhor para os atendimentos”.
E, do sonho das três profissionais, que tinham que fazer tudo sozinhas, até mesmo a reforma da primeira sala de atendimento da Recriando Reabilitação, hoje, a clínica conta com duas unidades e um extenso quadro de funcionários, incluindo jovens aprendizes. Uma das preocupações, de acordo com Raquel, é com a forma acolhedora que as pessoas sentem ao estarem nas dependências da clínica. “Por isso, temos também a nossa equipe de recepcionistas e a dos serviços gerais, que são essenciais para o nosso trabalho. Não adianta prestarmos um excelente atendimento se as famílias não são recebidas com um bom dia e um sorriso no rosto, os ambientes não estiverem limpos e cheirosos para receber os nossos pacientes, não é verdade? Temos ainda uma equipe de apoio, que auxilia as mães com nossas crianças cadeirantes na entrada e saída”, orgulha-se a especialista.
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*Raquel Dias é terapeuta ocupacional, formada pela Universidade Castelo Branco/RJ. É pós-graduada em Reabilitação de Membros Superior e Terapia da Mão pela UFSCAR. Tem formação em Bobath e Baby Bobath, Especialista em confecção de órteses para membros superiores. Tem formação internacional na metodologia PODD, certificação internacional de Integração Sensorial, possui capacitação e Integração Sensorial com bebês de 0 a três anos, capacitação em problemas de recusa e seletividade alimentar em problemas de continência fecal e uso do banheiro; capacitações de raciocínio clínico em autismo, capacitação e intervenção na escrita e o motor fino, SDM em formação, pós-graduanda em intervenção ABA para autismo e deficiência intelectual.