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Plastinação: a revolução do ensino da anatomia ao redor do mundo

Revolucionar o estudo de anatomia é um dos principais objetivos da plastinação, um método criado pelo anatomista Dr. Gunther von Hagens, da Universidade de Heidelberg, Alemanha, em 1977. A técnica consiste em preservar as estruturas de espécimes provenientes de pessoas que, em vida, autorizaram o uso de seus corpos ao Instituto von Hagens Plastination, como contribuição à medicina. Por isso, a plastinação torna-se tão fascinante, ao possibilitar que os espécimes estejam o mais próximo de sua aparência quando vivos e, assim, tornar o estudo da anatomia algo surpreendente aos estudantes, que passam a compreender melhor o conteúdo das aulas com a anatomia real.

“A plastinação permite que todas as estruturas mais delicadas, como veias, artérias, músculos, tecidos, entre outros, sejam preservadas de forma única. Com essa metodologia revolucionária, é possível ainda destacarmos o que for de interesse da universidade, como um corpo só com as veias ou só artérias; e em diferentes formas de dissecção. Temos ainda as opções da escolha de corpos que eram considerados saudáveis e outros doentes para o melhor estudo sobre o impacto da condição de saúde, por exemplo, nos órgãos. Todas essas variáveis que a plastinação possibilita permite um melhor preparo desses futuros profissionais ao poderem olhar ‘por dentro’ a condição de um corpo real, a partir do estilo de vida daquele doador: por exemplo, se era fumante, o aluno observará o estado do pulmão; se trabalhava carregando peso, terá o desenvolvimento mais elaborado dos músculos dos braços, e assim por diante”, explica Alexander Crasemann, Diretor de Marketing e Vendas da von Hagens Plastination, que esteve no Brasil, no final de maio, no stand da Civiam durante a Hospitalar 2023. Na oportunidade, o executivo visitou algumas faculdades de medicina de diversos estados.

Crasemann  explica ainda que muitas pessoas enganam-se ao pensar que a famosa exposição mundial Body Worlds (foto acima), que apresentava o corpo humano como arte e foi apresentada no Brasil na década de 90, era o foco inicial do anatomista alemão, sendo os espécimes destinados ao estudo da medicina posteriormente, como uma segunda ideia de Gunther: “O fundador sempre teve como objetivo o estudo da medicina com os plastinados, mas, para que a técnica pudesse ser mais conhecida e divulgada ao redor do mundo, é que decidiu criar a exposição, após ter sido convidado pelo Japanese Anatomical Society a expor os espécimes, em 1995, em Tóquio, para a celebração de 100 anos da instituição. E foi um sucesso! A partir daí, em 1997, é que surgiu a primeira exposição Body Worlds em Mannheim, uma cidade da Alemanha”, explica Alexander. E, dessa forma, a técnica da plastinação chegou ao conhecimento das universidades, que começaram a ver o diferencial no ensino com a anatomia real. 

Hoje, os espécimes von Hagens estão presentes em Instituições de ensino de mais de 55 países, tendo os Estados Unidos como o líder do ranking de universidades que mais investem nos plastinados. Segundo Crasemann, Alemanha, Reino Unido, Austrália, Cingapura e Canadá também são países com uma fatia considerável no gráfico dos países que vem crescendo no uso dos espécimes do Dr. Gunther no ensino da anatomia. Quanto aos plastinados mais requisitados pelas universidades ao redor do mundo, o executivo diz que o corpo inteiro é um dos itens mais pedidos, em diferentes ângulos de dissecção, mas há ainda casos de instituições que solicitam determinada parte do corpo, como uma encomenda especial de 21 cabeças para uma Faculdade de Odontologia nos Estamos Unidos. Ele salienta ainda que a produção é extremamente minuciosa: “Para preparar um corpo inteiro, leva-se em torno de um ano, pois a técnica consiste em um longo e delicado processo, que compreende alta tecnologia para estagnar a decomposição do corpo, como a infusão de formaldeído no sistema arterial para então iniciar o processo de revelação das estruturas do corpo, como órgãos, tendões, músculos e assim por diante”, diz Alexander. (Confira o processo neste vídeo).

Entre as curiosidades que o executivo presenciou ao visitar diversas universidades ao redor do mundo na utilização dos plastinados von Hagens, ele cita uma instituição de ensino no Vietnã: “Antes de iniciar a aula com os espécimes, eles fazem um ritual espiritual com orações de agradecimento às pessoas que se dispuseram ao estudo da medicina e, consequentemente, aos seus corpos”, diz.

No Brasil, Alexander ressalta que a pandemia por Covid-19 foi um dos fatores que retardaram os investimentos das universidades em espécimes von Hagens. “Além disso, as últimas eleições brasileiras imprimiram no país um ar de insegurança, fazendo as instituições de ensino recuarem seus planos de investir nos espécimes e demais recursos para melhorar o ensino da anatomia”, explica.

Dessa forma, na visão do executivo, as universidades brasileiras estão começando a despertar para as vantagens dos plastinados, e, por isso, o número de instituições que já utilizam um espécime da von Hagens é crescente. “A perspectiva é que para o ano que vem, esse número se torne ainda mais expressivo com o trabalho que estamos fazendo junto à Civiam, que nos representa oficialmente no Brasil”, explica Alexander. Ele complementa: “Até porque, além do realismo das peças, a técnica da plastinação traz inúmeros benefícios, como redução de custos de manutenção – quando a universidade utiliza um cadáver, por exemplo, precisa ter uma equipe responsável por trazer os corpos, preparar o ambiente. Após a aula, precisa retirá-los, limpar todo o ambiente e voltar a mantê-los em alguma substância para sua conservação, que normalmente é o formol, extremamente prejudicial à saúde. As estruturas vão sendo deterioradas com o tempo em termos de coloração e textura, por conta do processo natural de decomposição – o que também é um risco à saúde dos alunos e professores pela proliferação dos microrganismos no ambiente. Já os plastinados, que não têm cheiro e nem alteração de cor, apresentam ainda uma durabilidade ímpar. Ou seja, são inúmeros benefícios, não apenas econômicos, mas um ganho à saúde de todos e, mais do que isso, o melhor preparo dos futuros médicos do Brasil”.

Entre as universidades brasileiras que estão revolucionando o ensino da anatomia no país ao utilizarem os plastinados von Hagens em sala de aula, estão o Centro Universitário Integrado (Campo Mourão/PR), o Centro Universitário São Camilo (SP) e a Faculdade de Medicina de Petrópolis – Unifase. “Foi um dos melhores investimentos que a escola fez, porque pensamos no ganho pedagógico que os nossos alunos terão ao estudar com um acervo tão rico como este. Além disso, possuir as peças plastinadas colabora para proporcionar ao acadêmico o sentimento de orgulho por pertencer a uma escola inovadora e preocupada em oferecer o melhor para proporcionar a formação de médicos competentes, que está em consonância com nossos objetivos institucionais. Por isso, encaramos como investimento toda a iniciativa que traga ganhos educacionais e não como custos quando falamos em estratégias que permitam aprimorar a qualidade dos nossos cursos”, diz o médico Dr. Marco Aurélio Marangoni, Coordenador e Professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Integrado (Campo Mourão/PR), onde também é responsável pelo Programa de Simulação no Curso de Medicina e pelo Hospital Simulado. (Confira aqui a matéria que fizemos com a instituição).

André Barros, Coordenador dos Laboratórios Didáticos e do Centro de Simulação Realística do Centro Universitário São Camilo, ressalta, ao citar um dos espécimes mais fascinantes do exclusivo método von Hagens – uma cabeça, recém-adquirida pela instituição: “Reconhecemos a peça da von Hagens como uma obra de arte pelo trabalho que é feito e por ser um exemplar exclusivo, onde não haverá nenhuma igual no mundo – pode ter alguma parecida por ter o mesmo corte, mas estamos falando de um recurso humano e, por isso, com características anatômicas próprias que diferenciam uma pessoa para outra -, o que nos traz uma grande satisfação de um recurso que foi elaborado sob medida para os nossos alunos, para que consigam ter, além da exclusividade da peça, uma maior qualidade no estudo”, diz. (Confira aqui a matéria que fizemos com o São Camilo).

Alexander ressalta ainda que as universidades que estão inserindo os espécimes von Hagens na grade curricular se destacam das demais instituições de ensino à medida em que a metodologia da plastinação torna o ensino algo fascinante, facilitando a compreensão e a retenção do aprendizado pelos estudantes. “Recursos como os plastinados são investimentos que possibilitam que a instituição de ensino consiga galgar novos e melhores patamares no ranking das melhores universidades no Brasil”, ressalta.

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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