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Outubro: mês da CAA e da paralisia cerebral

Clarear Fonoaudiologia lança o projeto-piloto “Grupo de conversa usando a CAA”

Fotos dos participantes do Grupo de Conversa usando a CAA elaborado pela Clínica Clarear

Outubro reúne duas datas de extrema relevância em relação à inclusão de pessoas com deficiência: é considerado o Mês da Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) e no dia 6/10 celebra-se o Dia Mundial da Paralisia Cerebral. Embora tenham origens distintas, as datas convergem em um ponto fundamental: o direito à comunicação e a participação dessas pessoas na sociedade.

A paralisia cerebral é uma condição neurológica que pode impactar a mobilidade, a motricidade e a fala, prejudicando, assim, a interação social – situação que torna a CAA ainda mais necessária na vida cotidiana do indivíduo. Dessa forma, os recursos de comunicação alternativa, como pranchas de comunicação, símbolos, acessos alternativos, entre outros, permitem que essas pessoas possam expressar seus desejos, opiniões, sentimentos; interagir por meio das ferramentas digitais e trabalhar.

E, nesse contexto, é que acaba de nascer o projeto-piloto “Grupo de conversa usando a CAA”, da Clarear Fonoaudiologia, referência em formação, assessoria e suporte em geral à implementação de CAA. A iniciativa é voltada a pessoas com necessidades complexas de comunicação (NCC), especialmente para aquelas com desafios motores, como pessoas com paralisia cerebral, que sejam usuárias de CAA; e profissionais de diversas áreas da saúde que tenham interesse no estudo e capacitação em comunicação alternativa – com destaque aos acessos alternativos frente à mobilidade reduzida dos pacientes.

Um dos diferenciais do grupo: acesso alternativo a pessoas com NCC

“Optamos por iniciar com pessoas que se beneficiam de acessos alternativos – demanda que recebo com frequência de familiares com dificuldade em encontrar profissionais que conheçam o universo de possibilidades de acesso para pessoas com desafios para apontar diretamente para um símbolo com a mão ou uma outra parte do corpo. Tenho notado ainda em profissionais de várias áreas, a dificuldade em avaliar e propor um recurso de CAA quando se trata de uma pessoa que precisa de acesso alternativo”, salienta a fonoaudióloga, que complementa: “Por isso, mais do que promover habilidades linguísticas, os grupos fortalecem vínculos, incentivam a autonomia e ajudam famílias e profissionais a descobrirem e aprenderem sobre novas possibilidades de acesso e de comunicação”, ressalta Alessandra Buosi, fonoaudióloga, especializada em sistemas robustos de CAA, à frente da Clarear Fonoaudiologia, e pioneira no método PODD no Brasil.

Segundo a idealizadora, os encontros são presenciais em São Paulo e incluem um mediador, parceiros de comunicação voluntários de diversas áreas de atuação, além das pessoas com necessidades complexas de comunicação que já utilizam algum recurso de CAA auxiliado. O grupo promove ainda estímulo a diversas funções comunicativas, a estratégias de suporte ao processo de letramento, à ampliação de vocabulário, entre várias outras habilidades fundamentais para a interação social. 

A experiência

Davi Pavon Porfirio, 17 anos, tem paralisia cerebral e é participante do grupo. Como todo adolescente, ele adora uma baguncinha, principalmente quando tem música – garantida pelo musicoterapeuta Rafael Oliveira que o atende e também participa do projeto. Segundo a mãe do jovem, Lorena Favaro Pavon, a experiência tem sido muito animadora: “Excelente troca com diferentes expertises multidisciplinares: fonoaudiologia, psicopedagogia, musicoterapia, entre outros”. Ela ressalta ainda que os principais benefícios do grupo ao Davi são: “Exercício da empatia, comunhão dos desafios, acolhimento quanto ao uso dos recursos de baixa e alta tecnologia CAA…Estou muito empolgada com a proposta, compartilhando com outros profissionais e mães. Parabéns pela iniciativa do projeto”

Para o musicoterapeuta, o objetivo de participar do grupo foi para ter mais fluidez em suas sessões: “Atendo o Davi, que foi paciente da Alê Buosi por muito tempo, e esta é a primeira vez que participo de um grupo de CAA com o uso do PODD. A experiência tem sido incrível, pois me desafia a criar vínculos com diferentes pacientes, cada um com seu repertório e suas particularidades. É um exercício constante de adaptação para engajar todos, promovendo momentos de alegria e de comunicação genuína. Além de trazer mais fluidez às minhas sessões, participar do grupo tem me proporcionado algo muito especial: felicidade. Tenho percebido sorrisos durante os atendimentos — quando o paciente consegue pedir a música que gosta ou tocar o instrumento que queria, simplesmente porque conseguiu se comunicar. Atualmente, trabalho com um formato multimodal, usando Communicator e mouse ocular para opções de escolha, por exemplo, e o PODD em baixa tecnologia com acesso visual auxiliado pelo parceiro. Muitas das estratégias que aplico hoje com o PODD aprendi justamente nos grupos. Meu objetivo é fortalecer vínculos com pacientes que ainda não conheço por meio da música, porque ela acolhe, conecta, permite que os sentimentos fluam e nos proporciona contemplar o momento com alegria. Por isso, se eu conseguir fazer com que esses pacientes vivenciem o momento com um pouco de felicidade, engajamento e desejo de se comunicar — seja tocando um instrumento ou expressando algo novo —, para mim, isso já é extraordinário”, salienta Oliveira. 

Caio de Bragança Czaikowski,10 anos, tem uma lesão encefálica adquirida (LEA), e também é participante do projeto, juntamente com Davi. A mãe do jovem, Tatiana Cruz de Bragança, salienta que o que motivou a família a participar do grupo foi: “A oportunidade de que o meu filho converse com outra pessoa que também utiliza o sistema PODD como ferramenta para comunicação alternativa; possa perceber que ele não é a única pessoa que se comunica através de CAA no local (ao contrário dos demais ambientes que frequenta, nos quais 100% das pessoas se expressam oralmente, seja na escola, com a família ou amigos) e, principalmente, amplie suas habilidades comunicativas através da CAA-PODD”, destaca.

A psicopedagoga de Caio, Ana Cláudia Rojas Ziegler, também integra o grupo e destaca a socialização como ponto central no desenvolvimento do jovem: “A questão da previsibilidade é fundamental para o Caio, mas, ainda assim, no primeiro encontro ele demonstrou pouca vontade de se expressar e de interagir com os demais. Já no segundo, porém, a comunicação fluiu de forma tão natural que ele participou ativamente das atividades propostas, surpreendendo a todos! É justamente nesse contexto que o grupo tem sido essencial para o seu desenvolvimento: estamos trabalhando suas vivências sociais e aspectos comportamentais — como perceber a vez do outro, a escuta, a espera e, inclusive, a reduzir a frustração e, consequentemente, a ansiedade — ampliando essas aprendizagens para outros ambientes, como a escola e a família. Além disso, ao utilizarem sua voz ativa por meio da CAA, os participantes descobrem que possuem recursos para superar barreiras de comunicação, o que contribui diretamente para o bem-estar e a autonomia das pessoas com prejuízos na fala”, explica a profissional.

Ana também chama atenção para a importância da dinâmica entre os profissionais envolvidos nos atendimentos, especialmente os terapeutas que acompanham os participantes em diferentes contextos. “Os encontros se tornam extremamente ricos, pois atuamos de forma integrada com profissionais de diversas áreas, o que torna a experiência ainda mais significativa. Ao facilitar a interação entre os pares e os pacientes, a proposta do grupo quanto ao uso efetivo da CAA em diversos contextos, possibilita uma participação ativa, melhora a autoestima e fortalece a conexão do indivíduo com o mundo, promovendo o sentimento de pertencimento e maior autonomia”, afirma a psicopedagoga, que é parceira de longa data de Alê Buosi, com quem trabalha desde antes da pandemia e foi sua aluna na segunda turma da formação em PODD, ministrada pela fonoaudióloga.

“Os encontros, desde o primeiro, têm sido muito positivos: conseguimos perceber facilidades e barreiras na condução de um grupo com objetivos claros. Para as famílias, acredito ser uma oportunidade de expor seus filhos a um ambiente seguro e respeitoso de estimulação de conversa com outros usuários de comunicação, o que acaba sendo muitas vezes, algo desafiador para esses familiares. O objetivo do grupo não é substituir as terapias individuais e sim ampliar o que já é trabalhado individualmente”, salienta a idealizadora, Alessandra Buosi.  

Como surgiu: retomada após a pandemia 

“Os grupos de conversa usando a Comunicação Aumentativa e Alternativa já aconteciam na Clarear de um jeito mais informal e com alguma frequência. De tempos em tempos procurávamos trazer a oportunidade de interação entre usuários de CAA com objetivos específicos e comuns a todos no seu contexto terapêutico. Tivemos uma pausa na pandemia, chegamos a promover um grupo online em um dia das crianças naquela época, e mais dois encontros entre membros do grupo que já era realizado presencialmente. De lá pra cá muitas mudanças internas na Clarear aconteceram, como o redirecionamento no enfoque da nossa atuação como um todo, por conta da demanda que recebíamos em relação a oferecer assessoria e suporte em geral à implementação de CAA, seja com cursos, supervisões clínicas e institucionais, além da formação de pessoas interessadas em se tornarem parceiros de comunicação eficientes usando formas alternativas de comunicação, como professores, acompanhantes terapêuticos e equipes multidisciplinares”, explica Buosi.

Assim, dentre as mudanças, a Clarear passou a focar na realização de avaliações presenciais de pessoas com necessidades complexas de comunicação para indicação dos melhores recursos e estratégias, principalmente na assessoria a profissionais da área que trabalham com pessoas com NCC e eventualmente buscam por um olhar especializado no que diz respeito à avaliação e planejamento para implementação de CAA.

“Então, a partir desses encontros com esses profissionais, entendi que retomar os grupos, nesse momento e no formato de um projeto, poderia possibilitar, além de experiências bem-sucedidas de interação entre pessoas num contexto de grupo, de conversa, de bate papo para os usuários de CAA, permitiria também aos terapeutas vivenciarem o uso desses recursos ainda que numa estrutura de terapia, mas respeitando a autonomia de cada usuário e estabelecendo metas para cada sessão de conversa/intervenção”, destaca a especialista. 

Projeção para 2026 

Os resultados dos primeiros grupos, somados à experiência na época da pandemia, têm sido animadores para Alessandra, que já traça planos para o projeto: “Para o próximo ano pretendemos ampliar o Grupo para novos interessados, sejam usuários de CAA, familiares, terapeutas ou educadores que se interessem pelo tema. Dessa forma, vamos abrir inscrições para novos participantes na página do Instagram da Clarear (@clarearfonoaudiologia/)”.

De acordo com a idealizadora, a ideia é que, além do encontro, haja um momento de discussão entre os parceiros de comunicação sobre os objetivos, estratégias e metas atingidas, assim como resoluções de barreiras que eventualmente possam surgir durante cada reunião.

“E assim, quem sabe um dia teremos muitos grupos em diversos estados do país, cuja sementinha tenha sido plantada aqui em um dos nossos encontros. Nesse sentido, o grupo em si e a divulgação desse projeto para 2026 é a nossa principal ação em prol da conscientização da Comunicação Aumentativa e Alternativa”, ressalta a fonoaudióloga Alessandra Buosi.

 Saiba mais:

https://www.instagram.com/clarearfonoaudiologia

https://clarearfonoaudiologia.com.br

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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