Conversamos com a fonoaudióloga Profa. Dra. Sandra Cristina Fonseca Pires, membro da International Society of Augmentative and Alternative Communication (ISAAC/ISAAC Brasil), que nos esclareceu sobre os benefícios da Comunicação Suplementar e Alternativa (CSA) para crianças com apraxia.
De acordo com a especialista, não há uma idade específica para que a Comunicação Suplementar Alternativa comece a ser utilizada pela criança recém diagnosticada com apraxia. “É importante ressaltar que temos nesses casos uma restrição da forma de expressão de linguagem numa fase de aquisição, o impacto de não propiciar uma outra forma de expressão se torna prejudicial para a linguagem. Quanto a iniciar precocemente, temos que adequar o tipo de símbolo do sistema de CSA para que seja apropriado para a idade e condição cognitiva e de linguagem de cada caso, mas podemos iniciar sim com CSA mesmo com crianças pequenas e que tenham já um atraso identificado. Esse processo do diagnóstico a intervenção precisa ser com acolhimento de uma equipe, com um trabalho uniforme e usando a mesma linguagem, para que a família compreenda de fato a proposta e consiga ter aderência. Usualmente temos o fonoaudiólogo e o terapeuta ocupacional, e com muita frequência outras áreas envolvidas no caso, a troca em equipe é necessária”, esclarece.
Segundo a doutora, é preciso entender que a Comunicação Suplementar e Alternativa compreende toda forma que ajude a criança a se comunicar, seja por gestos ou por meio de figuras, por exemplo. “O importante é estimular a sua interação e o seu poder de escolha, aumentando a sua autonomia nesse quesito”, esclarece a especialista.
Ela diz ainda ser mito a preocupação que muitos pais e profissionais têm de que a CSA pode até mesmo dificultar o desenvolvimento da fala nas crianças com apraxia por torná-las “preguiçosas”, pelo fato de, muitas vezes, utilizar figuras como meio de expressão: “A criança com apraxia tem consciência de que ela não dá conta da fala, temos um gap entre a expressão e a compreensão, então ela acaba por desistir de se comunicar do que tentar falar, uma vez que não consegue fazer a produção oral que tem intenção. Quando estimulamos essa comunicação por meio de pranchas com símbolos, por exemplo, ela começa a ter mais autonomia para se expressar, o que a ajuda na interação com as pessoas e a motiva para se arriscar e se esforçar no aprendizado da fala”, explica a fonoaudióloga.
E ainda ressalta: “É importante o feedback positivo da família quando a criança está aprendendo uma palavra que está representada por uma figura, por exemplo. Mesmo que ela ainda não consiga falar totalmente a palavra, mas já está pronunciando a primeira letra, é importante ser reconhecida, parabenizada e incentivada com a repetição da palavra pelos familiares para que ela vá gravando o som e seja motivada até conseguir falar a palavra inteira”, explica.
Além disso, com a CSA é possível aumentar o repertório de fala da criança, melhorando ainda mais o seu desenvolvimento. “E, a partir do momento que essa criança apresenta uma fala consistente e inteligível a todos (mesmo pessoas que não são do convívio) de determinadas palavras, estas são retiradas da prancha de comunicação e novas palavras passam a ser trabalhadas para que seu repertório vá ampliando. Portanto, não existe preguiça de falar, porque a fala é a comunicação mais rápida e mais rica de expressão, sendo viável. Há estudos que comprovam o quanto a CSA acelera e auxilia no desenvolvimento e aquisição da fala de crianças com apraxia. E a prancha precisa ser constantemente revisada na terapia pois é uma estimulação de linguagem e a criança vai amadurecendo e mudando também seu repertório e suas demandas comunicativas. O desenvolvimento desse trabalho pelo fonoaudiólogo, em conjunto com o terapeuta ocupacional, deve atentar para as mudanças tanto pelas questões linguísticas, como motoras e inclusive sociais”, esclarece a especialista.
Profa. Dra. Sandra Cristina Fonseca Pires, membro da International Society of Augmentative and Alternative Communication (ISAAC/ISAAC Brasil), é especializada em Tratamento Neuroevolutivo (Conceito Bobath) e em Alterações Sensório-Motoras de Origem Sindrômica pela FMUSP, especialista em Atuação Fonoaudiológica Hospitalar Neonatal pela FM-ABC, e em Síndrome de Down pela UNAES/CEPEC-SP, Mestre e Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP e professora do Curso de Fonoaudiologia da FCMSCSP (graduação, pós-graduação e mestrado) e dos cursos de especialização do CEFAC.