“Tentamos ensiná-lo, mas não funcionou.”
“Ela não evoluiu nem um pouco”.
“Ele não gosta de livros.”
“Agora é tarde.”
“A pessoa precisa aprender a ler quando é jovem.”
Você já ouviu afirmações deste tipo? Elas representam crenças que criam barreiras entre pessoas com deficiência e a alfabetização. E isso resulta em acesso limitado destas pessoas a materiais de alfabetização e exposição ao ensino significativo e compreensivo. Outra consequência é que elas não recebem o tempo e espaço que precisam para aprender. E estas crenças não têm base em evidências.
O que as evidências atuais mostram? Que é possível aprender a ler em qualquer fase da vida. Na verdade, a alfabetização acontece por toda a vida, tenhamos ou não recebido acesso ao ensino direto.
Vamos nos usar como exemplo agora. Nossa alfabetização não parou quando paramos de ler ou mesmo quando saímos da escola. Nós continuamos a:
- Aprender novas palavras
- Aprofundar nossa compreensão sobre alguns assuntos
- Adquirir fluência com certos tipos de materiais de leitura como manuais, pesquisas, jornais, etc.
Esta aprendizagem constante também ocorre com pessoas com deficiência. Mesmo que o progresso possa não parecer significativo ou funcional, exposição a textos presentes em seu ambiente – e a atividades de alfabetização em todas as fases da vida – muito frequentemente aumentaram as habilidades de alfabetização destas pessoas. Elas podem adquirir mais habilidade em:
- Identificar imagens em livros
- Entender novas palavras por meio de exposição e conversação
- Relacionar experiências a histórias que ouvem
- Identificar sinais de ambiente (placas, logos, etc)
- Reconhecer letras em palavras
- Prestar atenção a histórias por períodos mais longos
Todas estas habilidades são fundamentais para a alfabetização, e o ensino direto pode acontecer a partir disso.
Pesquisas nos mostram que indivíduos que podem se beneficiar de ensino direto com habilidades básicas de alfabetização não são somente crianças pequenas. Há uma variedade de idades e tipos de deficiência, incluindo:
- Pessoas com idades 8, 12 e 13 anos com paralisia cerebral, deficiências múltiplas e autismo (Light & McNaughton, 2012)
- Uma mulher de 54 anos com paralisia cerebral e atraso no desenvolvimento cognitivo (Ollie & Swanson, 2006)
- Pessoas com idades de 9 a 14 anos com deficiência intelectual, paralisia cerebral ou síndrome de Down (Fallon et al, 2004)
Assim como as pessoas mais jovens, as mencionadas acima progrediram em suas habilidades de alfabetização, demonstrando ganhos em algumas ou todas áreas a seguir:
- Aprendizado da correspondência entre letra e som
- Ganho de habilidades de fonologia (mistura de sons, fonemas, segmentação)
- Decodificação de palavras avulsas
- Generalização do uso das habilidades de decodificação em atividades de leitura compartilhada
Apesar de não sabermos quanto uma pessoa pode ou vai progredir em suas habilidades de alfabetização, sabemos que ela não vai progredir de jeito nenhum se não tentarmos.
Referências
Fallon, K., Light, J., McNaughton, D., & Hammer, C. (2004). The effects of direct instruction on the single-word reading skills of children who require augmentative and alternative communication. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 47,1424-1439.
Light, J. & McNaughton, D. (2012). Literacy instruction for individuals with autism, cerebral palsy, Down syndrome and other disabilities: Student success stories. Retrieved at: http://aacliteracy.psu.edu/index.php/page/show/id/2/index.html.
Ollie, M. & Swanson, M. (2006, November). Facilitating literacy skills in an adult who uses AAC.Poster presented at the American Speech-Language-Hearing Association Convention 2006, Miami, FL. Retrieved from: http://www.asha.org/Events/convention/handouts/2006/1298_Ollie_Melissa