
Neste Dia das Mães, que será comemorado no próximo domingo, 14 de maio, compartilhamos a história de Marcela Conceição da Silva Sena Telles, mãe de Pedro, 11 anos, e Maria Clara, 8. Licenciada em Letras, servidora pública da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcela sempre gostou de estudar e aproveitar as oportunidades de qualificação na universidade: tornou-se Técnica Administrativa em Educação, com especialização em Gestão Pública para o desenvolvimento universitário. Mas, ela nem imaginaria que um dia iria trilhar sua jornada profissional no campo da pesquisa de Tecnologias Assistivas na educação – paixão essa que foi despertada com o diagnóstico de paralisia cerebral do seu primogênito Pedro, aos 6 meses de idade. “Comecei a estudar alternativas de comunicação quando ele foi para a escola. Quando ele conheceu o rastreador ocular, aos 3 anos de idade, e o seu uso passou a ser muito efetivo, é que eu vi que realmente valia a pena investir no estudo das Tecnologias Assistivas como possibilidade para as pessoas com necessidade complexas de comunicação poderem se expressar. A partir daí é que me interessei, de fato, por entender como o cérebro atípico processa”, explica a pesquisadora.
Desde então, o desenvolvimento de Pedro com a ajuda do controle ocular passou a ser tão surpreendente, que Marcela decidiu torná-lo foco do seu mestrado com a tese “Inclusão escolar e letramento científico: um estudo das Tecnologias Assistivas com estudantes com Paralisia Cerebral nos Anos Finais do Fundamental”, que foi aprovada em novembro passado em segundo lugar no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática (PPGECM) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A pesquisa terá como objetivo investigar a relação entre as Tecnologias Assistivas (TAs) e os processos pedagógicos de inclusão escolar e letramento científico de uma criança com Paralisia Cerebral nos anos finais do Fundamental; analisar a influência das TAs como elemento comunicacional na relação professor e aluno, aluno e alunos; e discutir as implicações do uso das Tecnologias Assistivas no contexto da educação inclusiva.
Além disso, segundo Marcela, a pesquisa analisará o cérebro atípico, a partir de Pedro, que sempre surpreende a todos pela sua forma de se expressar por meio da Comunicação Alternativa com o uso do controle ocular, ou quando está fazendo algo que mais ama: ser DJ! (Confira a matéria que fizemos sobre ele, aqui). “Quando pensei em fazer mestrado, queria pesquisar algo que fizesse sentido pra mim e pudesse trazer algum impacto positivo para a sociedade, fazendo a diferença na vida das pessoas. Pedro me movimenta, é o meu combustível”, diz a pesquisadora.
Recentemente, por conta de uma pneumonia, Pedro ficou internado alguns dias, que foram suficientes para conquistar todos do hospital: médicos e enfermeiros, que se encantaram com tamanha espontaneidade do garoto: “Ele pedia para os enfermeiros o ajudarem a fazer lives; pegou o WhatsApp de todo mundo do hospital e mandava mensagens para toda a equipe diariamente; contava para mim sobre o dia a dia do seu tratamento na internação, entre outros. E essa é a reação que as pessoas têm quando o conhecem: ficam até emocionadas com a forma como ele compreende tudo e consegue se comunicar. Por isso, tenho como propósito de vida disseminar, cada vez mais, a importância das Tecnologias Assistivas e da Comunicação Alternativa na vida das pessoas com necessidades complexas de comunicação ao melhorar – e muito – a qualidade de vida delas”, diz Marcela, que cita a autonomia como um dos principais benefícios do uso de recursos de alta tecnologia.
“No Mestrado, vou pesquisar também como é que Pedro, ao sair do âmbito familiar, como por exemplo, em um laboratório de Ciências, conseguirá realizar esses experimentos, como será sua interação, entre outros. Tudo será objeto de investigação”, salienta Marcela, que vem, cada vez mais, se especializando em inclusão escolar – tema que, segundo ela, segue engatinhando nas instituições de ensino. “As escolas ainda não estão prontas para a inclusão e os professores carecem de formação para saberem lidar com o aluno. Muitas vezes, a escola deixa o aluno como responsabilidade única e exclusivamente do AT (Atendente Terapêutico), ou disponibiliza uma atividade à parte para o estudante, mas que não foi adaptada ou pensada para aquele aluno. Lembro sempre da fala de um professor do mestrado que me impactou muito ao salientar que Pedro não tem dificuldade em aprender, pois o cérebro dele já demonstrou que aprende. O que falta é o professor encontrar um caminho para que ele aprenda, da forma dele, assim como qualquer aluno com desenvolvimento típico, que tem sua forma peculiar de aprender – diferença crucial entre adaptar uma atividade e pensar em uma para cada criança com necessidades específicas”, explica.
Por isso, segundo ela, o objetivo é também, por meio dessa investigação, desenvolver uma pesquisa científica para embasar políticas públicas para pessoas com deficiência na comunicação, cujas famílias não têm condições financeiras de adquirir um recurso de alta tecnologia, como o rastreador ocular; além de criar um movimento de conscientização sobre a importância da Comunicação Alternativa e Tecnologia Assistiva. É por isso que ao longo desses anos, Marcela tem atuado incansavelmente na causa: ela também integra o Projeto de Extensão MultipliCAA/UFPE e o Grupo de Pesquisa em Educação, Políticas Públicas, Inovação e Tecnologias da UFPE; além de ser Formadora pela Escola de Servidores Formare/UFPE na Formação continuada para professores – Práticas inclusivas no ambiente educacional, juntamente com outros professores da UFPE e profissionais que atuam com a Comunicação Alternativa e TA. A especialista participa ainda, como convidada e palestrante, juntamente com Pedro, de diversas oficinas, seminários e rodas de conversa sobre a temática da inclusão escolar e o uso do mouse ocular.
E conciliar a sua vida acadêmica com a profissional e com a maternidade, de acordo com Marcela, não é nada fácil. “Não vou florear a maternidade atípica, mas quero salientar que as mães precisam se cuidar, em primeiro lugar; pedir ajuda e contar com rede de apoio, porque não vamos conseguir dar conta de tudo e está tudo bem! Ainda que nossos filhos com deficiência exijam muito de nossa rotina, precisamos lembrar que temos, como todas as mulheres, as outras áreas da nossa vida que precisam de tempo e dedicação, como o nosso autocuidado, a parte social, o lazer, que são muito importantes! E eu tenho certeza que quando nossos filhos nos vêm bem, felizes, eles ficam felizes também!”, destaca.