Kely Varela é mãe do Samuel, 7 anos, diagnosticado com autismo quando tinha 5 anos de idade. Em seu canal no YouTube “Mais que Autismo”, ela compartilha informações sobre o Transtorno do Espectro Autista e dá dicas de educação para ajudar famílias que lidam com autistas e que enfrentam os mesmos desafios que ela e o marido Jardel, dono do canal Truques de Pai, no Instagram.
Dedicada, Kely diz que só conheceu a Comunicação Alternativa (CA)* quando o Samuel já falava. “Ele teve um atraso bem considerável da fala, mas como a gente não tinha conhecimento sobre autismo e também só foi diagnosticado aos 5 anos, não conhecíamos as opções de comunicação que eu acho que teriam sido bem válidas pra ele se tivéssemos tido contato antes”.
Segundo ela, as pessoas não conseguiam entender o que Samuel queria falar. “Na escola praticamente ninguém conseguia entendê-lo. Lembro sempre das pessoas falarem “coloca a tecla SAP” para que a gente consiga entender o que ele está falando. Então, como ele não conseguia se comunicar, ele começou a preferir não falar mais, ficar quieto e isso passou a gerar muitas crises de ansiedade. E uma questão importante que precisamos trabalhar não é apenas a criança aprender a falar por falar, mas que consiga aprender a falar o que ele quer comunicar, de fato, e o que sente. E o “Kit de iniciação à comunicação alternativa em sala de aula” tem ajudado bastante nesse processo”, diz.
Ela ressalta também a importância do uso do material que vem no kit como auxílio para criar uma rotina: “O engraçado é que as pessoas acreditam que a CA é apenas para a fala, mas também pode ajudar a criança a se regular quanto à rotina, como estamos utilizando com o Samuel. Então a gente cria toda uma sequência de coisas que vão acontecer no dia, como nas terapias, e isso ajuda muito a tranquilizá-lo, pois antecipamos os fatos por meio das plaquinhas, além dele poder expressar os sentimentos que antes ele não conseguia”, explica.
Kely exemplifica que, antes da Comunicação Alternativa, Samuel não conseguia também expressar, por exemplo, a localização de uma dor. “Já com o material, ele consegue nos mostrar onde está sentindo dor, as emoções e as expressões faciais que, para os autistas, às vezes é difícil eles conseguirem identificar em uma pessoa se está feliz, se está triste. Por isso, o kit tem sido uma importante ferramenta, não só na parte da alfabetização do Samuel, mas o ajuda também a aprender a falar a intensidade daquilo que sente, entre outros pontos”.
Ela utiliza também na rotina do Samuel a parte do cardápio, que acredita ser interessante ao trabalhar a questão da seletividade alimentar, além de permitir e estimular a criança a conhecer suas preferências e o aprendizado sobre os alimentos.
“O kit já se tornou um aliado dele, principalmente na questão de dizer ‘mãe quero isso, estou sentindo aquilo, estou com dor ou estou com fome’. É importante que a criança saiba dizer o que ela quer, saiba identificar o que ela não gosta e, principalmente, o que sente”.
Exatamente por esses benefícios que Kely ressalta que o kit pode ajudar muitas famílias e não apenas as escolas.
E complementa: “Ainda que eu ressalte a importância do kit no dia a dia, é importante frisar que se as escolas tiverem esse material à disposição, no caso de turmas com alunos com questões relacionadas à linguagem e à comunicação, facilitará muito a interação dessa criança, porque não adianta só aceitar sua matrícula, é preciso incluí-la de verdade na rotina de sala de aula. Ou seja: o kit, de forma geral, é realmente muito útil e, falando como professora que aplica também técnicas de ensino com outras crianças, não apenas com meu filho, acredito ser um elemento bem importante no aprendizado dos jovens com deficiência na fala, sejam eles verbais ou não”, recomenda.
Mas, ela alerta: “vale ressaltar também que todos os recursos do kit não sejam utilizados apenas dentro de sala de aula, mas em vários locais de uso comum para que a criança consiga se expressar não só com o professor, mas com as pessoas que convivem dentro do ambiente escolar como um todo. Além de, claro, ser um kit extremamente importante também para os profissionais, como terapeutas, médicos, entre outros. De um modo geral, não basta só desenvolver a criança nas terapias, é necessário que ela tenha acesso à comunicação em todos os ambientes que frequenta e, assim, possa se comunicar em qualquer lugar e com qualquer pessoa”.
A mãe de Samuel destaca ainda a importância das pessoas terem a consciência de quando se depararem com as pranchas de comunicação, como as que vêm no kit, sendo utilizadas em ambientes públicos, como parques e shoppings: “é importante que as pessoas tenham empatia e entendam que essas plaquinhas são para ajudar a criança e essa família a terem uma melhor qualidade de vida fora de casa, tranquilizando a criança com o fato de que ela poderá se comunicar em qualquer lugar, mesmo nos locais que não são familiares para ela, que são os que geram maior desconforto e ansiedade”, diz.
Kely e Jardel são pais também de Raquel, 9 anos de idade, que tem a síndrome de heterotaxia, uma patologia rara que consiste em diversas anomalias de posicionamento e morfologia dos órgãos toracoabdominais. Além do canal “Mais que Autismo”, Kely também mantém o blog e o canal no YouTube “Mágicas de Mãe”, onde compartilha tudo sobre os desafios da maternidade.
Instagram:
https://www.instagram.com/magicasdemae/
https://www.instagram.com/maisqueautismo/
https://www.instagram.com/truquesdepai/
Para mais informações sobre o “Kit de iniciação à Comunicação Alternativa em sala de aula”, acesse:
*Nota: Há variações em relação à Comunicação Alternativa. Em algumas regiões, pesquisadores e profissionais utilizam CAA (Comunicação Alternativa e Ampliada), em outras, o termo mais usado é CSA (Comunicação Suplementar Alternativa). Por isso, consideramos todas as variações corretas.