Vibramos muito com a participação brasileira nos Jogos Olímpicos em Paris, agora é a vez de torcermos pelos nossos atletas paralímpicos, que estrearão no dia 28 de agosto, quando acontece a abertura oficial dos Jogos Paralímpicos na capital francesa.
A delegação brasileira é a maior em uma edição de jogos paralímpicos fora do Brasil, batendo o recorde dos 259 convocados para as Paralimpíadas em Tóquio 2020, que aconteceu em 2021. Neste ano, rumo a Paris, são 280 jogadores, sendo 255 esportistas com deficiência, 19 atletas-guia (sendo 18 do atletismo e 1 do triatlo), três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo. O número só não supera o registrado nos Jogos do Rio 2016, quando o Brasil contou com 278 atletas com deficiência. Além disso, naquela ocasião, o Brasil participou de todas as 22 modalidades por ser o país-sede da competição.
Neste ano, os nossos atletas disputarão 20 das 22 modalidades, uma vez que os brasileiros não conseguiram a classificação no basquete em cadeira de rodas e no rúgbi em cadeira de rodas: atletismo paralímpico, badminton paralímpico, bocha, canoagem paralímpica, ciclismo de estrada paralímpico, ciclismo de pista paralímpico, esgrima em cadeira de rodas, futebol de cegos, goalball, halterofilismo paralímpico, hipismo paralímpico, judô paralímpico, natação paralímpica, remo paralímpica, taekwondo paralímpico, tênis em cadeira de rodas, tiro com arco paralímpico, tiro esportivo paralímpico, triatlo paralímpico e vôlei sentado.
O Brasil tem 373 medalhas conquistadas em 11 edições dos Jogos Paralímpicos. A primeira vez em que o país foi ao pódio no evento foi há 48 anos, nos Jogos de Toronto, Canadá, em 1976. Os responsáveis foram Luiz Carlos da Costa e Robson Sampaio de Almeida, dupla masculina do Lawn Bowls (um esporte parecido com a bocha, porém, disputado na grama), que conquistou a medalha de prata.
A melhor campanha do Brasil em Jogos Paralímpicos foi a última, em Tóquio 2020, ocasião em que a delegação brasileira ficou na sétima posição, com 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes – 72 no total. As três modalidades que mais garantiram pódios paralímpicos ao país são: atletismo (170 medalhas – 48 ouros, 70 pratas e 52 bronzes), natação (125 medalhas – 40 ouros, 39 pratas e 46 bronzes) e judô (25 medalhas – cinco ouros, nove pratas e 11 bronzes).
O atletismo paralímpico brasileiro teve a sua melhor participação nos Jogos do Rio 2016, quando foi responsável por 33 medalhas de um total de 72 pódios conquistados pela delegação brasileira. Uma representatividade de 46% do total. Em Tóquio 2020, os esportistas do atletismo subiram ao pódio 28 vezes. Neste ano, a participação de atletas brasileiros com deficiência na modalidade somam 71 com deficiência e 18 atletas-guia – o que representa um recorde do atletismo brasileiro em uma edição dos Jogos, superando, inclusive, a quantidade de atletas convocados para o evento no Rio de Janeiro, em 2016, quando o Brasil foi sede. Na ocasião, foram convocados 61 esportistas e 18 atletas-guia da modalidade.
Wiliam Nascimento: foi o responsável técnico de dois atletas nos Jogos Paralímpicos de Pequim 2008 e auxiliou Júlio César Agripino a estrear nas paralimpíadas Rio 2016
Wiliam Fernandes do Nascimento é educador físico e especialista em treinos de atletas de alto rendimento no atletismo adaptado. Seus títulos parecem de um treinador corriqueiro no esporte, mas a sua paixão pelo atletismo transcende até mesmo o seu sonho de se tornar um atleta para focar no atletismo adaptado e, então, proporcionar às pessoas com deficiência visual o mesmo prazer que ele sentia ao correr e competir no atletismo.
“Em meados de 2001 eu era atleta convencional de atletismo e estudante de Educação Física. Estagiava no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (órgão público da Secretaria Municipal de Esportes da Prefeitura de São Paulo, voltado ao esporte de alto rendimento), quando um professor me convidou para guiar um atleta com deficiência. Foi uma decisão difícil, porque eu teria que abrir mão de competir como atleta convencional para competir no atletismo adaptado. Mas, ao refletir que sem o apoio de um atleta uma pessoa com deficiência visual não poderia se beneficiar do esporte e tampouco sentir o prazer da corrida, acabei aceitando o desafio para que esses atletas também pudessem sentir a emoção e a paixão que o atletismo me fazia sentir”, diz Nascimento.
Assim, de 2000 para 2001, o treinador começou a transição de carreira ao guiar, pela primeira vez, um atleta com deficiência visual – Marcio Rodrigues – no Centro de Apoio à Pessoa Deficiente Visual (CADEVI). “E estagiar no CADEVI me abriu muitas portas, como o estágio no Clube dos Paraplégicos de São Paulo, onde cheguei à coordenação em 2005. No Clube, dois atletas se destacavam: um já era de alta performance no atletismo – Ozivam dos Santos Bonfim -, e o meu desafio era mantê-lo no alto rendimento. O outro atleta era José Roberto da Silva, que tem paralisia cerebral, e estava no estágio iniciante e sonhava em chegar nas Paralimpíadas de Pequim 2008. O trabalho foi bastante intenso, assumi o treinamento dos dois competidores de 2004 a 2008 com um planejamento bastante detalhado. Ambos tinham como características similares a determinação e o foco total no objetivo, abrindo mão da vida social e, muitas vezes, familiar”, relembra Nascimento.
Nesse meio tempo, como parâmetro do desempenho dos paratletas, ambos competiram também nos Jogos Parapanamericanos 2007, que aconteceram no Rio de Janeiro, e ambos foram medalhistas. “Logo após essa competição, chegaram os Jogos de Pequim, em 2008, e o Ozivam foi o 4º colocado na maratona e o José Ribeiro conquistou o 9º lugar nos 100 metros raso T37”, relembra Wiliam.
Segundo ele, nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, tanto o Ozivam quanto o José Roberto não tinham mais como objetivo competir no atletismo em campeonatos de alta performance. Naquela época, Nascimento, como coordenador do atletismo do Clube dos Paraplégicos de São Paulo, auxiliou Júlio Cesar Agripino Santos, atleta com deficiência visual, que tinha baixa visão e sonhava em competir nas Paralimpíadas Rio 2016. “O Clube dava apoio a diversas deficiências e o Júlio vinha do atletismo convencional, mas, por conta de uma problema na visão, começou a perdê-la, tornando-se cego. Porém, ainda não tinha classificação em atletismo adaptado. No último ciclo de treino, em 2015, juntamente com o seu treinador, Luis Cândido, fizemos a requisição para mudar a sua classificação funcional para que, assim, pudesse competir nos Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro. E, após um trabalhoso trâmite de solicitações e envio de documentos, deu certo: Júlio foi o representante do Clube dos Paraplégicos de São Paulo, competiu no atletismo adaptado e, mesmo sem ser medalhista nas paralimpíadas, seguiu a carreira: hoje está em outro clube e acumula diversas medalhas, como ouro nos 1.500m e prata nos 5.000m no Mundial de Kobe 2024; ouro nos 1.500m e bronze nos 5.000m nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago 2023; prata nos 5.000m no Mundial Paris 2023; ouro nos 1.500m no Mundial Dubai 2019. Ele é também um dos atletas da delegação brasileira nos Jogos Paralímpicos Paris 2024!”, comemora Wiliam, que participou dos Jogos Rio 2016 como voluntário pelo Clube dos Paraplégicos de São Paulo.
Às pessoas com deficiência que têm o sonho de se tornarem atletas de alta performance no atletismo, o especialista orienta: “Procure um clube especializado, ainda mais que hoje existem diversas instituições que auxiliam pessoas com deficiência e apoiam o esporte adaptado. Tenham persistência, trabalhem pesado, foquem e tenham fé em Deus! Saiam da pista sabendo que vocês deram o seu melhor no treinamento, pois o resultado é consequência e a chance de chegar ao pódium é muito grande!”.
Hoje, Wiliam Nascimento é professor de Educação Física, especialista em atividade física adaptada e em saúde e gerontologia. É servidor público na prefeitura de Indaiatuba e leva a sua paixão pelo auxílio a pessoas com deficiência por meio do atletismo à Associação dos Deficientes Visuais de Indaiatuba (ADVI), da qual é voluntário: “Queremos formar atletas para participarem de competições regionais, nacionais e quem sabe internacionais – do município para o Brasil e para o mundo! Sonhar grande faz parte, quem sabe não chegamos nos jogos Paralímpicos de Los Angeles em 2028?”, destaca o especialista.
Confira: Instagram: @wiliamfnascimento/ , @adviindaiatuba