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Estímulos nas férias: confira as dicas da terapeuta Jamila Iara dos Santos

Foto de um garoto de uns 8 anos, vestindo camiseta e calça azul marinho, brincando com blocos sobre um tapete de EVA colorido.

Nas férias, é comum os terapeutas ou as clínicas fazerem uma pausa. Mas, como ficam os estímulos em crianças com deficiência? Os pais devem respeitar esse momento de total lazer e também deixá-los com o tempo livre ou devem continuar os estímulos em casa? Quem responde a esses questionamentos e sugere atividades para entreter a criançada é a terapeuta Jamila Iara dos Santos, especialista em Transtorno Global do Desenvolvimento, mãe da Manuela, 12 anos, e do Matheus, 10 anos, autista, também fundadora do projeto Maternidade Autista, que resultou na publicação do livro de mesmo nome “Maternidade Autista”, lançado em 2022.

“A terapia é uma constante e os responsáveis pela pessoa com deficiência devem auxiliar no processo de estímulos nesse período, pois é necessário que seja intensivo em prol do desenvolvimento da pessoa com deficiência. Além disso, é muito importante a família aproveitar esse tempo para fortalecer o vínculo com os filhos”, ressalta Jamila. 

Ela destaca ainda a importância do brincar: “Nós escutamos muito que terapeuta só brinca, mas o que a criança precisa? Descobrir o mundo através da imaginação, do seu conceito de existência. Vale lembrar que as crianças estão trocando o brincar funcional por acúmulo de brinquedos no qual explora por instantes e logo depois vão para o mundo digital; o celular tem ocupado uma parte do tempo da criança em excesso e isso prejudica o processo de desenvolvimento, de socialização e de aprendizagem real. As crianças precisam ser crianças, e criança é barulhenta por natureza. Além do que, está muito difícil ser criança no meio de adultos com tanta pressa. Por isso, a brincadeira é uma excelente forma de estimular o desenvolvimento dos pequenos, além de auxiliar nas habilidades motoras e cognitivas e promover uma melhor comunicação e interação social”.

Por isso, para Jamila, terapia não tem férias: “Ela precisa ser contínua, faz parte do processo de diminuição de comportamentos desafiadores, de desenvolvimento de habilidade, então quando há a necessidade da criança acompanhar a família em uma viagem ou ficar em casa aproveitando maior tempo com os seus familiares, os responsáveis precisam reforçar o que já foi aprendido pela criança, que aprende brincando. Por isso, uma das principais coisas que nós adultos precisamos resgatar é o senso crítico, a imaginação, o brincar, o dividir, a interação”.


Ela ainda destaca que todas as atividades são importantes, desde que os responsáveis entendam que não é somente deixar a criança brincando sozinha, mas, sim, brincar junto e estimulá-la a também brincar com outras crianças. “Portanto, uma sugestão é que os pais as  incentivem a fazer amizades, convidar o coleguinha para um café ou almoço especial, e participar também com a criança desse momento e, em cada passo dessas atividades, aproveitar para reforçar o que já foi adquirido como aprendizagem em prol do desenvolvimento e continuar estimulando-a”, ressalta.

Jamila enfatiza que aprender deve e precisa ser divertido, uma vez que as crianças e adolescentes de hoje recebem informações diárias e intensas por conta da tecnologia. “Então a criança não vai ficar sentada fazendo folhas de atividades, pois ela perde o interesse muito fácil, cansando das atividades, uma vez que há um turbilhão de estímulos do meio digital”, cita Jamila.

Por isso, a especialista diz que é preciso que os pais ou responsáveis pela criança se atentem aos seguintes pontos ao pensar em atividades para continuar os estímulos em casa: “A atividade não pode ser nada exagerada para não cansar e esgotar a criança, mesmo porque é férias e é o momento para descansarem daquela rotina toda de estudar, de escola, ir para a terapia. Então, vale lembrar que não é reforço escolar nas férias, mas, sim,  brincar e aprender se divertindo. E, de fato, ter a companhia da família, resgatar brincadeiras, ensinar a criança a realizar escolhas, o perder, o ganhar – nós não podemos facilitar para a criança com deficiência a ganhar nos jogos, ela precisa aprender também a perder. Podemos dar dicas quando apresentar muita dificuldade para incentivá-la a comemorar muito em tudo por mais simples que seja, conforme o dia for acontecendo. Aproveitar os momentos de uma forma mais natural e divertida para continuar a estimulação”.

A especialista selecionou diversas atividades que podem ser realizadas em casa. Confira:

  1. Atividades manuais são uma ótima maneira de trabalhar as habilidades motoras das crianças. Tarefas de pareamento e percepção visual que, muitas vezes parecem simples, são, na verdade, capazes de estimular fortemente o cognitivo dos pequenos. Como atividades impressas de labirinto, pareamento de cores, substituição de enigmas pela letra correspondente a cada enigma, formando palavras ou frases, ligar cores, partes do corpo, colorir, jogo da memória.
  2. Sugestão de brinquedos: aqueles de montagem, como realizar uma construção – montar casinhas, castelos – e ir entrando no mundo da imaginação da criança. Blocos de encaixe e de montar.
  3. Histórias com fantoches ou bonecos: quem não gosta de ouvir uma boa história, contada com carinho e dedicação? Por isso, com as crianças não seria diferente. Talvez o pequeno demore um pouco para se concentrar, por isso recomendamos algumas táticas, como o uso de músicas, onomatopeias ou até mesmo a inclusão de itens da realidade da criança na narrativa, fazendo com que ela se sinta acolhida na atividade. A sensação de pertencimento quando alguém separa um tempo para nos divertir e contar uma história é gigantesca. Portanto, deixe a criatividade aflorar! Use e abuse de bonecos, fantoches, brinquedos e elementos visuais que contribuem na manutenção da atenção da criança. 
  4. Atividades com balões ou bexigas: os balões ou as bexigas podem ser grandes aliados. Eles podem contribuir muito para prender a atenção da criança e tornar todo o contexto mais atraente para ela. Neste momento, recomendo que o adulto seja paciente e esteja disposto a entrar na brincadeira de corpo e alma! As tarefas com balões podem ser ótimas para aguçar o contato visual a estimulação da linguagem no transtorno dos pequenos. Por isso, olhe nos olhos, se comunique, peça para que a criança fale e tente ao máximo inseri-la na brincadeira.
  5. Brincadeiras com bolha de sabão: todo mundo ama bolas de sabão! É uma das brincadeiras clássicas que mais agradam as crianças, podendo ser ainda mais proveitosa!! As bolas de sabão desenvolvem a atenção e o envolvimento dos pequenos. Por isso, não é incomum encontrar crianças que não se concentram em outras atividades, mas param para prestar atenção nas brincadeiras realizadas com as bolhas. Então, entre no jogo! Converse com o pequeno enquanto realiza a brincadeira, faça contato visual e estimule-o a interagir com você.
  6. Dança: o movimento é essencial para a realização de quase todas as atividades humanas. Por isso, explorar a coordenação sensorial e motora desde a primeira infância é indispensável! Nesse sentido, sabemos como pode ser difícil trabalhar o movimento com os pequenos. Por isso, a nossa recomendação é a dança! A atividade, se aplicada da maneira correta, é capaz de gerar resultados inimagináveis no desenvolvimento das crianças. Este é o momento de explorar o acolhimento corporal, equilíbrio, movimento, autoconhecimento e relaxamento. Portanto, leve as cadeiras para um canto, monte uma boa playlist e dance com os pequenos!
  7. Acampe dentro de casa: cabanas de lençol, cobertores, colchões improvisados, contar histórias iluminados só por lanternas e o que mais vier à mente.
  8. Origami: para dias chuvosos, que tal ensinar a criançada a fazer origamis?  Dobraduras de peixe, gato, cachorro, entre muitas outras que são fáceis de fazer!
  9. Brinque de fazer roupas: uma sugestão é fazer tie-dye (camisetas hippies cheias de cores), com tintas para tecido. Veja tutoriais na internet para seguir as instruções.
  10. Brinque de jardinagem: pode ser cuidar de uma plantinha pequena, um vaso maior, uma horta caseira, ou até um feijão no algodão. O importante é deixar a criança se envolver na brincadeira tocando a terra, regando as plantas, e incentivar que ela se responsabilize por cuidar de ao menos uma planta. Certamente, estaremos desenvolvendo na criança um vínculo com a natureza.
  11. Caça ao tesouro: esconda um presente ou algum mimo em algum lugar “secreto” e comece a brincadeira com uma pista que levará à segunda e assim por diante. O número de pistas até chegar ao lugar certo vai depender da sua criatividade e da idade do pequeno, claro.
  12. Cesta de basquete: coloque uma lixeira ou um balde suspenso. Quem acertar mais bolinhas dentro do recipiente vence o jogo.
  13. Corrente de histórias: o primeiro participante diz “era uma vez” e lança a bola para outro jogador, que deve continuar a história de onde o outro parou.
  14. Dia da generosidade: hora de separar algumas roupas e brinquedos que a criança não usa e doá-los para presentear crianças carentes. Deixe que ela escolha, incentive-a a refletir sobre o que não usa mais e, se for possível, leve-a com você quando for entregar as doações. Isto fará com que ela veja o resultado positivo de sua ação.
  15. Elefante colorido: alguém diz a cor do elefante e todos correm para tocar algum objeto da mesma cor.

Jamila selecionou ainda atividades de estímulos em ambientes externos:

  1. Faça um picnic – pode ser no quintal, na quadra do prédio, ou até mesmo na sala de casa, o que importa é estender uma toalha e combinar um lanche bem gostoso com as crianças.
  2. Faça mapas do bairro- muitas vezes, as crianças ficam presas dentro do carro e acabam não conhecendo o próprio bairro. Que tal sair a pé explorando o bairro? Fazer um mapa ao final garantirá um aprendizado espacial.
  3. Galeria de arte- que tal criar uma galeria de arte com os trabalhos dos pequenos? Com um barbante e grampos de pendurar roupas, prenda-o em uma parede no quintal na altura da criança para que ela possa interagir com os desenhos. Basta fixar o barbante em uma parede de preferência na altura da criança, para ela poder interagir com os desenhos.
  4. Personagem preferido – escolha um dos personagens preferidos da criança e pesquise lugares onde há o personagem: seja lanchonete temática, ou em shoppings que tenham exposições com o personagem escolhido. Peça para a criança escrever sobre o dia, contando o que aprendeu de mais interessante sobre o seu  personagem favorito.
  5. Tenha sempre com você revistas de atividades (colorir, ligar os pontos, achar os erros…), pois as crianças adoram! Além do que é uma ótima salvação para distrair os pequenos em restaurantes ou momentos de espera.
  6. Passeios culturais, brincadeiras ao ar livre, idas aos shoppings ou viagens: é preciso que os pais preparem a criança para cada passeio de acordo com suas especificidades. Algumas têm dificuldades sensoriais, então é preciso escolher um horário mais adequado para que ela consiga desfrutar do passeio. Escolha uma roupa confortável e se a criança tem seletividade alimentar, de antemão, o ideal é buscar por lugares que tenham as refeições que ela gosta de comer ou, se possível, solicitar com antecedência ao estabelecimento o preparo de alimentos específicos. Há ainda a opção de levar o lanchinho preferido dela e água. Para crianças não verbais, a sugestão é mostrar todo o passeio em forma de desenho ou imagens (uso da Comunicação Alternativa) e contar a ela o que irão fazer e em qual momento.

“O ideal é que nas férias as famílias aproveitem rotinas diferentes, como cinema, as brincadeiras do parque, tentar experimentar um alimento novo e se divertir e, sempre que houver oportunidade, reforçar o conhecimento adquirido nas terapias”, conclui Jamila.
A especialista atende em sua clínica Potencialize, em Camanducaia (MG), inaugurada no início deste ano. Mais informações: www.jamilaiara.com.br e Instagram: @jamilaiara/

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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