
Uma das grandes dúvidas das famílias que buscam recursos de tecnologia assistiva para melhorar a qualidade de vida de um familiar com necessidades complexas de comunicação é qual modelo escolher e como saber se tal recurso atenderá as necessidades do usuário, uma vez que o mercado oferece uma grande variedade de modelos, seja de baixa ou alta tecnologia.
“A maneira mais segura para ter essa resposta é procurar um profissional especialista em tecnologia assistiva, em especial um terapeuta ocupacional, que precisará avaliar o paciente. Essa avaliação poderá ser feita em centros de reabilitação, clínicas privadas ou ambulatórios de Terapia Ocupacional nos hospitais”, explica Miryam Bonadiu Pelosi, Terapeuta Ocupacional, Psicopedagoga e Doutora em Educação.
De acordo com a especialista, os critérios da avaliação consideram a idade da pessoa que vai necessitar da tecnologia, as habilidades e dificuldades que ela apresenta, qual a sua condição socioeconômica, qual ou quais atividades serão realizadas com aquela tecnologia, e em qual contexto. “Considerando tais aspectos, se estivermos avaliando uma criança de 7 anos de idade, com deficiência motora e sem comunicação oral, mas que tenha a habilidade de andar e apontar o que deseja e que precise de um dispositivo para conversar e participar das atividades escolares com independência, poderemos pensar em aplicativos de comunicação alternativa que possam ser utilizados em tablets e celulares e que produzam som ao ter uma opção clicada. A habilidade da criança de clicar no símbolo desejado faz com que não seja necessário utilizar formas de acesso mais complexas”, exemplifica.
“Por outro lado, se estivermos avaliando uma criança com deficiência motora grave, que não seja capaz de clicar no símbolo desejado, teremos que avaliar outras formas de acesso, que poderão ser o uso de um botão, que chamamos de acionador ou switch, que podem ser acionados com a mão, com a cabeça ou outra parte do corpo que apresente um movimento voluntário. Para que o dispositivo de alta tecnologia seja acessado, será necessário um software ou aplicativo que funcione em um sistema de varredura. Neste tipo de acesso, os símbolos são destacados um de cada vez até que chegue na opção que a criança deseja e, ao chegar no símbolo, ela apertará o botão. Quando a prancha de comunicação apresentar muitos símbolos, será possível utilizar sistemas de varredura por linhas ou colunas”, explica.
Miryam diz, ainda, que há casos em que o uso do sistema de varredura é pouco funcional, como para as pessoas que não têm movimento algum do corpo, apenas da cabeça. “Para estas pessoas será necessário indicar o uso de dispositivos de alta tecnologia que captem o movimento da cabeça ou o movimento dos olhos, que são os denominados controles oculares. Esses mouses oculares, que chamamos de Eye Gaze, se configuram como uma tecnologia importantíssima para o acesso a sistemas alternativos de comunicação oral ou escrita, permitindo a essas pessoas conseguirem se expressar pelos olhos e, assim, manter atividades diárias, como escrever e enviar e-mails, acessar a internet, comunicar com amigos e familiares, entre outros”.
Uma dúvida frequente é se para a escolha do recurso de alta tecnologia, é necessário que o usuário tenha antes conhecimento dos recursos de baixa tecnologia. Segundo a especialista, a escolha do recurso a ser utilizado faz parte do processo de avaliação, e independe de o usuário já conhecer ou utilizar a comunicação alternativa, seja em recursos de baixa ou alta tecnologia. “Para muitas pessoas que necessitam de comunicação alternativa, uma prancha de comunicação organizada em uma pasta ou caderno de comunicação é totalmente desinteressante. Por isso, a avaliação vai considerar as habilidades daquela pessoa, o que inclui suas necessidades, seus desejos e sua compreensão de que a escolha de um símbolo gera a consequência de que ela vai ser compreendida, que vai poder comer o lanchinho que escolheu, brincar com seu brinquedo preferido ou ouvir a música que mais gosta”, avalia.
Segundo a especialista, não há apenas uma única solução de comunicação alternativa para cada pessoa. Dependendo da atividade pode ser importante utilizar o computador, a prancha de comunicação ou o tablet.
“É importante salientar que todas as pessoas utilizam multi sistemas de comunicação. Nós falamos, apontamos, olhamos para o que queremos, fazemos gestos, emitimos sons, escrevemos com a nossa própria mão, com o teclado do celular, tablet ou computador, e o mesmo acontecerá com uma pessoa usuária de comunicação alternativa. Neste sentido, uma mesma pessoa poderá ter uma prancha de comunicação de baixa tecnologia, como um caderno com símbolos presos com velcro, utilizar um tablet com emissão de som e escrever utilizando um software no computador”.
Escolha errada dos recursos
A terapeuta explica também que é frequente familiares escolherem recursos errados ao usuário. “Escolhas que só consideram o aplicativo, o software ou o dispositivo sem levar em conta o usuário e suas modalidades mais eficientes de acesso, tendem a fracassar. O sistema de comunicação de uma pessoa deve ser personalizado e estar em constante evolução. Com a baixa tecnologia o problema é semelhante. A chance de implementar uma comunicação alternativa, partindo de uma prancha de comunicação impressa comprada pronta, é igualmente baixa. O número de símbolos em cada página, o vocabulário e a forma como os símbolos serão organizados são individuais e precisam ser personalizadas para cada indivíduo. Exatamente por isso que o processo de avaliação é complexo e o profissional necessita ter vasto conhecimento sobre tecnologia assistiva, conhecer diferentes patologias, estar atualizado com os novos recursos que estão sendo desenvolvidos no mercado e ter a habilidade de considerar as habilidades e necessidades daquela pessoa, sua idade, atividades que desenvolve no seu dia a dia. Além disso, é fundamental ter experiência para poder estabelecer um programa de implementação da comunicação alternativa que inicie com tarefas possíveis de serem realizadas, prazerosas e estimulantes ao paciente para a continuidade dos processos de aprendizado de uma nova forma de se comunicar oralmente ou por meio da escrita”.
A Miryam mantém dois canais no YouTube – Manual da Brincadeira, que mostra brincadeiras educativas e divertidas para serem feitas com pais e filhos e que auxiliam o desenvolvimento cognitivo, e o canal Miryam Pelosi, focado em Comunicação Alternativa.
https://www.youtube.com/c/ManualdaBrincadeira
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Para entrar em contato com a especialista, deixe seu recado no WhatsApp (21) 99964-2098 ou escreva para miryam.pelosi@gmail.com.

*Miryam Bonadiu Pelosi é professora Associada do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro possui Graduação em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos, Especialização em Psicopedagogia pelo Centro de Estudos Psicopedagógicos do Rio de Janeiro, Mestrado e Doutorado em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Certificação em Tecnologia Assistiva – ATACP pela California State University.