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Clínica ReVeR propõe reabilitação visual com foco na melhora da qualidade de vida de pessoas com baixa visão e distúrbios visuais

Eliane da clinica Rever, mostra as máscaras lúdicas feitas de feltro. Ela segura uma máscara do homem aranha em uma das mãos e uma máscara de unicórnio com a outra mão.
Eliane Nogueira da clínica ReVeR

O que motivou  Eliane Nogueira* a criar a ReVeR, Núcleo de Reabilitação Visual, foi sua angústia enquanto profissional da reabilitação ao ouvir de seus pacientes, que, de acordo com seus clínicos, “não tinha mais jeito”. “Comecei a refletir o quanto era possível, sim, dar funcionalidade, trabalhar da melhor forma os problemas que acometem a saúde dos olhos para então proporcionar melhor qualidade de vida ao paciente e, assim, fazer com que a pessoa conseguisse, a partir das terapias, uma nova forma de rever o seu problema. E todos que trabalham em nossa clínica têm esse ponto de vista: tem jeito sim e se não tiver, encontramos uma maneira, mesmo que tenhamos que encaminhar o paciente a outro especialista!”, diz a profissional.

A ReVeR teve seu primeiro núcleo de atendimento inaugurado na Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro em 2004. Ao longo destes anos, vem oferecendo ao médico oftalmologista e ao mercado óptico, apoio especializado em ortóptica e consultoria de recursos. Ópticos e não ópticos para baixa visão, prezando pela relação médico/paciente, oferecem segurança, credibilidade e responsabilidade nas várias fases do atendimento.

A equipe de profissionais possui uma visão ética alicerçada no respeito mútuo, cujas especialidades, somada a experiência e prática, fazem com que o processo iniciado pelo clínico retorne ao mesmo, valorizando ainda mais suas competências e credibilidade.

“O atendimento é humanizado e individualizado de verdade, com o propósito de proporcionar melhores soluções visuais, resgatando a qualidade de vida dos pacientes, através de serviços especializados: teste ortóptico – em busca de distúrbios da visão binocular (estrabismo, ambliopia, diplopia); terapia ortóptica (objetivando equilíbrio sensório motor global), adaptação de prismas (óptico e Fresnel); adaptação de recursos ópticos para baixa visão, consultoria e treinamento de recursos ópticos/não-ópticos e de acessibilidade para baixa visão”, comenta a especialista.

Entendendo a ortóptica e optometria

Tanto a ortóptica quanto a optometria são ciências da visão que estão no contexto da oftalmologia. “O optometrista estuda a medida do olho. Caso haja alguma alteração no fundo do olho, o paciente é encaminhado ao oftalmologista porque já entra no campo da patologia. Já a ortóptica é da área da neurovisão, que depende do encaminhamento do optometrista; do oftalmologista ou neurologista. A ortóptica lida com medidas do cálculo espacial que o olho faz, por exemplo, quando estacionamos o carro, fazemos uma ultrapassagem, ou assistimos a um filme em 3D este sistema necessita estar equilibrado.  Quando há um desalinhamento, é possível checar durante uma leitura, porque a pessoa se perde na linha fácil. Ao nascermos, nossa visão ainda está em processo de maturação, necessitando de estímulos adequados para seu pleno desenvolvimento. Quando um dos olhos se desenvolve mais do que o outro, pode gerar uma espécie de cegueira cortical, que em termos técnicos chamamos de ambliopia”, diz.

A clínica ReVer atende pessoas com baixa visão, com problemas decorrentes de pós-cirurgias de miopia, hipermetropia, catarata, glaucoma; pacientes com degeneração macular, diplopia, além de crianças com déficit de aprendizagem e atenção. “O que as pessoas muitas vezes não sabem é que o déficit de aprendizagem ou quando a criança é inquieta, muitas vezes é um problema de desajuste da visão. Porém, são diagnosticadas de forma equivocada como TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Com as terapias de reabilitação, a criança acalma, muitas vezes até a letra muda – o que é comum a criança escrever fora da linha e com a letra toda comprimida. Com o passar do tempo, passa a escrever de forma mais espaçada e mais alinhada com a linha”, explica a especialista.De acordo com Eliane, outros sintomas bastante comuns que as pessoas não associam aos problemas de desajustes na visão são sono ao ler livros, além da dificuldade de compreensão e da retenção do conteúdo lido. “As pessoas associam tais sintomas ao cansaço mental da rotina, quando, na verdade, os movimentos oculares específicos durante a leitura (movimentos sacádicos, fixação, retorno, pausa de fixação em palavras não familiares, convergência, entre outros) não estão adequados e o tônus da musculatura ocular não está ajustada para a demanda do paciente. Por isso é essencial ajustar o sincronismo entre os olhos, para que não haja sintomas desagradáveis, como sono, cefaléia, perda da concentração e gasto energético, o que consequentemente torna o paciente desinteressado por algumas atividades visuais, em razão do esforço. A reabilitação visual traz consciência motora e sensorial uma vez que o cérebro aprende a modular o ajuste, sempre o fará”, esclarece.

Projeto social Meu Pequeno Herói de Feltro

Eliane está atrás de um balcão, e em cima dele estão os quatro bonecos de feltro mascotes da clínica ReVeR
Eliane com os mascotes da ReVeR

Engajada em contribuir com as causas sociais, Eliane Nogueira, em parceria com a ONG One By One, que promove a inclusão social por meio da mobilidade e da educação, conseguiu arrecadar 1,5 tonelada de lacres de alumínio que foram revertidos na doação de duas cadeiras de rodas adaptadas a duas crianças com paralisia cerebral, de 4 e 8 anos. Por meio dessa ação, Eliane conheceu Larissa , mãe de uma criança especial, e artesã da Efeito a Mãos. Pensando em como poderia ajudar ainda mais, surgiu a parceria, que se prontificou a produzir os mascotes da ReVer em bonecos de feltro: Lupito (baixa visão), Moby (orientação e mobilidade), Leiturinha (dificuldade de aprendizagem) e Ortoptito (mascote da Ortóptica). Parte da venda dos mascotes é revertida à ReVer para o atendimento gratuito de crianças assistidas pela ONG. Além disso, a Efeito a Mãos produz também máscaras infantis de feltro para crianças que têm ambliopia (quando um dos olhos se desenvolve, causando baixa da Acuidade visual, sem patologia) e precisam usar o famoso “tampão no olho”.

Criança vestindo uma camiseta do Cebolinha, está no colo da sua mãe usando uma máscara de feltro do Homem Aranha, com um dos olhos tapados pelo feltro.

“Tanto os mascotes, quanto as máscaras são uma forma divertida para as crianças seguirem direitinho com os seus tratamentos. Além disso, a cada 9 bonecos ou máscaras vendidos pela Larissa, conseguimos atender uma criança de forma gratuita”, alegra-se Eliane. Quem tiver interesse em colaborar com o projeto, a Efeito a Mãos recebe os pedidos por WhatsApp e envia por Correios para todo o país: https://portalrever.com.br/projeto-meu-pequeno-heroi-de-feltro/

A ReVeR promove ainda o dia da saúde visual sem custo para estimular na equipe o espírito do voluntariado. “Por conta da Covid-19 não está sendo possível mantermos a frequência – que era em torno de quatro por ano, onde fazíamos uma série de testes de saúde, como glicemia, pressão arterial, acuidade visual, amplitude de fusão, visão de cores, estereopsia, enfim, todas as medidas oculares possíveis em triagem. Fazíamos oficinas recreativas para as crianças com material reciclável ou cinema 3D com pipoca. Esperamos que quando toda a população estiver vacinada, possamos voltar com os nossos eventos”, diz.

Curso em vista

Pensando em trazer cada vez mais qualidade de vida às pessoas, a especialista sentiu a necessidade, durante os atendimentos, de que era preciso mais do que apenas as terapias de reabilitação visual e adaptação de recursos ópticos. “As pessoas, ao perderem a visão, perdem a noção espacial. E se orientar é fundamental para se deslocar. Por isso, desenvolvemos o treinamento de Orientação e Mobilidade, que se compreendem técnicas e fatores para que os usuários consigam se localizar no espaço (o que é direita, esquerda, o que é um quarto, dois quartos de giro), como criar um mapa mental para conseguir andar e chegar onde deseja. Temos ainda módulos de tecnologia assistiva em dispositivos eletrônicos e o uso juntamente com a bengala. Além dos pacotes já existentes, estamos trabalhando em um curso de tecnologia assistiva, que será lançado em março e, a princípio, apenas em nossa unidade no Rio de Janeiro. Estamos desenvolvendo uma metodologia para que consigamos replicar um modelo misto entre presencial e on-line e que seja aplicado em diversos estados”, explica.

Outra novidade é que, juntamente com o Sebrae, o curso trará ainda a capacitação de pessoas com baixa visão para o mercado de trabalho. “O objetivo é conferir autonomia e que consigam ocupar o espaço como profissionais de fato e que não sejam vistos apenas como preenchedores de cotas”, diz.

O curso tem na equipe um instrutor cego congênito, outro deficiente visual parcial e outro vidente, o que confere o olhar rico de três percepções diferentes para que possamos capacitar da melhor forma o deficiente visual no âmbito profissional.

Cuidados com a saúde dos olhos nos dias de hoje

A especialista conta um caso de uma paciente que chegou à ReVer com diplopia, de tanto forçar a musculatura em uma prática corriqueira de Yoga. “É preciso cuidado quando são indicados exercícios à musculatura ocular. O ideal é sempre consultar um especialista para que você saiba os limites adequados e não prejudique a saúde dos olhos, como no caso da paciente, que não podia mais dirigir em razão da visão dupla”.

Outro ponto importante que Eliane ressalta é a alta exposição da luz direta (principalmente as do tipo led) de computadores e celulares, que prejudica a retina. “É preciso ter cuidado em tempos de home escolar e Office, em razão do tempo de exposição ao uso de telas. Ainda mais porque muito se fala em neutralizar a luz azul, mas na verdade existem duas faixas: uma que é nociva, porém outra onda que é benéfica e devemos recebê-la. Quando a indústria ótica produz lentes que bloqueiam totalmente ambas as faixas, nossa saúde é prejudicada também. Há um  comprimento da onda azul necessário, que ajusta o relógio biológico, que regula a fome, a hora de dormir, a hora de acordar, o humor, a atenção. Quando os olhos não são expostos a essa faixa benéfica, ficamos estressados, o apetite é desregulado, temos tendência à obesidade, insônia, ansiedade. Por isso, procure as óticas de qualidade, que trabalham com o bloqueio e a liberação das faixas corretas”, orienta.Outra atenção que a especialista ressalta é que as tecnologias nos exigem cada vez mais uma visão próxima por conta do celular e computadores e, por isso, pouco relaxamos a musculatura, que pode causar uma pseudo miopia ou espasmo de acomodação. “O ideal é a cada 20 minutos de tela, olhar ao longe por 20 segundos, ou fechar os olhos para relaxar o músculo do cristalino. Se preferir,  a cada 50 minutos pausar 5 minutos (olho fechado ou olhando para o horizonte)”, recomenda a profissional.

*Eliane Nogueira é Membro da Sociedade Brasileira de Neurovisão e do Conselho Brasileiro de Ortóptica, Graduada em Ortóptica,
Especialista em Neurologia e Neurofisiologia Aplicada à Reabilitação,
Pós-graduada (lato sensu) em Neurociência Aplicada à Aprendizagem (IPUB / UFRJ),
Capacitada em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral(2012), cujos estudos foram direcionados ao empreendedorismo no ramo de Acessibilidade Visual,
Conhecimento em Óptica Oftálmica, adaptação de Lentes de Contato,
Conhecimento em Baixa Visão e Orientação e Mobilidade, habilitada pelo Instituto Benjamin Constant (2003).

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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