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Equipe de especialistas da UFSCAR lança cartilha de Comunicação Alternativa para familiares e profissionais da área da educação e da saúde


Colaborar com as famílias que estão sem atendimento presencial de terapias por conta da pandemia de coronavírus foi o que motivou a Terapeuta Ocupacional Mariana Gurian Manzini*, Doutora em Educação Especial e docente do Departamento de Terapia Ocupacional da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), a elaborar o projeto de uma cartilha com orientações de CAA/CSA** (Comunicação Alternativa e Ampliada/Comunicação Suplementar Alternativa) para uso em casa e também por profissionais.

Denominada “Comunicação Alternativa – confecção de pranchas, orientações e adaptações de atividades em época de Covid-19”, a cartilha foi desenvolvida juntamente com docentes e alunas da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos) e utiliza os Símbolos de Comunicação Pictórica (PCS – Picture Communication Symbols) do software Boardmaker, da Tobii Dynavox. Como o programa é pago, a cartilha conta com autorização do uso das imagens, concedida pelo gerente da América Latina de Tecnologia Assistiva da Tobii Dynavox, Juan Jose Bernal.

“Eu estava me questionando de que forma eu poderia ajudar nesse momento pandêmico e então surgiu como resposta postagens sobre comunicação alternativa nas minhas redes sociais (Facebook e Instagram). Percebi que esse material simples estava alcançando profissionais da área da saúde e educação e em especial famílias de diversas regiões do Brasil. Nessa perspectiva, surgiu a ideia de elaborar essa cartilha em conjunto com professoras e alunas da UFSCar. Essa cartilha é composta por símbolos para ajudar adequadamente as pessoas com necessidades complexas de comunicação em relação à prevenção do vírus, além dos cuidados redobrados com a higiene e o uso da máscara, que muitas não compreendem a sua obrigatoriedade. O Boardmaker foi o software escolhido pela sua variedade de PCS e por tantos benefícios comprovados ao longo das minhas pesquisas de Mestrado e Doutorado”, explica a especialista.

Além dos cuidados em relação ao vírus, a cartilha traz também uma grande variedade de atividades que podem ser realizadas em casa e adaptadas com os Símbolos de Comunicação Pictórica (PCS), como o uso de música, a leitura de livros, o preparo de receitas, atividades de autocuidado, entre outras. “A comunicação alternativa é um recurso terapêutico que favorece o engajamento nas diferentes atividades , a comunicação funcional e a interação nos diferentes contextos sociais. Então, a ideia é que a cartilha proporcione um maior amparo aos pais e profissionais por meio das diversas atividades propostas para aplicar na rotina do paciente em casa, durante o isolamento social”, esclarece.

A cartilha

O projeto da cartilha contou com a colaboração de uma equipe de especialistas e docentes do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), além da professora Doutora Mariana Gurian Manzini: professora Doutora Claudia Maria Simões Martinez, professora Doutora Gerusa Ferreira Lourenço, professora Doutora Luciana Bolzan Agnelli Martinez e professora Doutora Mirela de Oliveira Figueiredo. A equipe contou também com a participação de alunas do curso de Terapia Ocupacional – Carolina Semenzato, Isabela Aureliano, Izabella Mariana Gomes Tiburcio, Mariana Ferrari e Sara Malvez Bienzobás. Além disso, o material teve como colaboradoras alunas da pós-graduação: Ana Carolina Gurian Manzini, Elisandra dos Santos Mendes Garcia e Emille Gomes Paganotti. A diagramação foi realizada por Evandro de Oliveira Silva.

A cartilha é composta por três partes: 

Parte 1 – Covid-19, Transmissão do vírus e orientações para prevenção; 

Parte 2 – Importância da comunicação, Comunicação Alternativa: o que é e seus benefícios, Avaliação do usuário e do contexto

Parte 3 – Confecção de pranchas de comunicação alternativa e sugestões de atividades adaptadas com pictogramas de comunicação alternativa 

O material é gratuito e os interessados podem ter acesso à cartilha pelo link:

“O objetivo foi torná-lo o mais acessível possível. Com as orientações sobre as pranchas e as atividades adaptadas, as pessoas conseguirão montar em casa suas próprias pranchas de comunicação e desenvolver as atividades de forma simples. Aqueles – sejam profissionais ou parceiros de comunicação –  que já utilizam o Boardmaker, poderão criá-las no software e imprimi-las quando necessário para utilizá-las nos teleatendimentos”, explica.

Benefícios da comunicação por símbolos

 A comunicação por símbolos é a ferramenta de CAA/CSA utilizada pelo Boardmaker. “Por ser um software de nível mundial, em meu Mestrado e Doutorado pude ensinar diversas famílias e terapeutas a montarem pranchas de comunicação de categorias diversas: lazer, refeições, momentos de terapia, materiais escolares, pranchas de rotina, entre outras. E em todas as pesquisas foram comprovados os benefícios do uso dos símbolos do Boardmaker na evolução da comunicação dos usuários. Um caso que me chamou muita atenção foi o de uma paciente de 10 anos, com Paralisia Cerebral, que atendia na cidade de São Carlos. Implementei na terapia os símbolos do Boardmaker, confeccionei uma prancha temática e, na semana seguinte, ela estava iniciando a vocalização de algumas palavras junto com a mãe. Os benefícios foram tantos que até hoje, passados seis anos, a paciente leva sua prancha de comunicação em todos os contextos. A mãe da criança também continua introduzindo pictogramas na prancha”, encanta-se Mariana.

Segundo a especialista, as pesquisas mostraram que os símbolos permitiram às crianças maior autonomia comunicativa, como escolha da roupa, do brinquedo, da atividade de lazer, do desenho da TV, além da liberdade de expressão de sentimentos, ideias e pensamentos. “A iconicidade das versões mais atuais do Boardmaker têm possibilitado uma compreensão mais concreta das ações e dos verbos, algo muito importante para a criança conseguir se expressar e se comunicar”, explica a Terapeuta Ocupacional ao mencionar a importância da evolução dos recursos de tecnologia assistiva no desenvolvimento das habilidades de comunicação dos usuários.

*Mariana Gurian Manzini é Terapeuta Ocupacional, graduada pela Unesp. Tem especialização em Terapia da Mão e Reabilitação Neurológica em Terapia Ocupacional pela UFSCar. Mestrado e Doutorado em Educação Especial pela UFSCar. Pós-doutorado em Terapia Ocupacional pela UFSCar. Atualmente é professora substituta do corpo docente do Departamento de Terapia Ocupacional – UFSCar – São Carlos. É também organizadora, juntamente com Claudia Maria Simões Martinez, do livro Terapia ocupacional e comunicação alternativa em contextos de desenvolvimento humano.

**Nota: Há variações em relação à Comunicação Alternativa. Em algumas regiões, pesquisadores e profissionais utilizam CAA (Comunicação Alternativa e Ampliada), em outras, o termo mais usado é CSA (Comunicação Suplementar Alternativa). Por isso, consideramos todas as variações corretas.

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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