O atendimento a adultos neurológicos com prejuízos na fala ainda é um desafio a profissionais que lidam com a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) e com os recursos da tecnologia assistiva – quais são as abordagens mais adequadas com esses pacientes e quais as soluções tecnológicas mais assertivas no contexto da comunicação?
Pensando nessa lacuna existente hoje no atendimento de fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros, que trabalham com a CAA com crianças, mas que são inexperientes e sem conhecimento específico no atendimento a pessoas adultas, é que o curso “Tecnologia Assistiva: acesso ao computador e comunicação alternativa” foi idealizado pela terapeuta ocupacional Erika Teixeira, à frente do IET (Instituto Erika Teixeira), juntamente com o engenheiro e especialista em Tecnologia Assistiva, Rafael Alves. Será realizado presencialmente no dia 1º/02/2025, em São Paulo.
“Recebo constantemente relatos de pacientes que são infantilizados pelos terapeutas, além da indicação de recursos da CAA que não são os mais assertivos ao paciente – por exemplo, como o uso de pictogramas, sendo que esse adulto consegue ler ou entender a palavra. Por isso, o curso é de extrema urgência e destinado a todos os profissionais que querem melhorar os seus atendimentos e, principalmente, se preocupam, de fato, com a melhora da qualidade de vida dos seus pacientes”, salienta Erika Teixeira, que complementa: “A ideia é instrumentalizar esses profissionais para melhorar a sua performance no atendimento ao paciente adulto, pois quando o próprio profissional não entende da tecnologia, o paciente acaba se frustrando por, por exemplo, ter adquirido um recurso com alto investimento, mas que não poderá utilizado por falta de conhecimento do terapeuta que o atende. Vale destacar que esses recursos, especialmente os de alta tecnologia, muitas vezes representam a possibilidade de transformação na vida dessa pessoa”.
A fonoaudióloga Helena Panhan, uma das precursoras em CAA e tecnologia assistiva no Brasil, ressalta: “Desde sempre há um excesso de foco nas crianças, o que faz com que muitos terapeutas usem técnicas indicadas ao atendimento infantil para trabalhar com os adultos. Apesar de parecer algo básico de um atendimento focado no sujeito, ainda é comum vermos profissionais avaliando um adulto da mesma forma que se avalia uma criança e até utilizando os mesmos materiais, como pranchas de CAA infantilizadas ou jogos pré-concebidos ao universo infantil. O diagnóstico clínico vai indicar os transtornos de linguagem e cognição e determinar questões inerentes como possíveis sequelas e processo degenerativo. Na avaliação fonoaudiológica, é imprescindível identificar as formas de comunicação funcional, como leitura e escrita. É preciso saber qual é a história desse paciente, para escolher um repertório que possa acessar esse adulto”, destaca a especialista, que, como forma de contribuir com o conteúdo do curso e entendendo a urgência da mudança dos atendimentos a pacientes adultos, disponibilizará uma aula bônus, gravada especialmente aos participantes.
“E, mais do que apenas proporcionar a comunicação a esse indivíduo, é devolver a ele o papel que ele ocupava na vida, seu lugar de fala, antes da condição que o acometeu. Por exemplo, um médico que não pode mais atuar, um pai que não consegue mais tomar decisões pelo seu filho. Então, a tecnologia bem aplicada com uma boa avaliação de um adulto que ele é, vai atender a recuperação do seu lugar: o lugar emocional, financeiro, o de exercer quem ele é – porque, ficar calado, perder a voz é também perder lugar na família – em quantos casos que vemos o paciente ficar em um canto, em um quarto isolado. Quem não se comunica não age sobre o mundo e a tecnologia vem para devolver esse direito, devolver a sua escrita, a sua comunicação, permitir voltar a trabalhar. Vale destacar que observamos na realidade muitas intervenções “oralistas” que afirmam aos pacientes que eles ‘vão voltar a falar’, quando, depois de quatro, cinco anos, o paciente vê que sua fala não se tornou funcional e apresenta um quadro de depressão, sendo que a comunicação não é apenas oral – vide a pandemia, quando muitas pessoas permaneceram trabalhando de suas casas e por meio do computador, muitas vezes por textos. Portanto, é preciso que os profissionais observem os impactos que estão causando em seus atendimentos, além de ser necessário e fundamental a constante capacitação e atualização acerca dos recursos disponíveis e que sejam mais assertivos para devolver o lugar de ocupação dos pacientes em suas vidas”, enfatiza Helena, que complementa: “Imagina esse paciente poder comunicar, por meio da tecnologia assistiva: ‘Feliz Natal’, ‘comprei este presente pra você pela internet’ e, dessa forma, poder fazer parte das situações habituais da sua família?”, ressalta.
Além disso, para a especialista o conhecimento sobre o recursos de TA vai além da teoria: “É necessário que os profissionais experienciem a tecnologia para entender as dificuldades do seu uso. Por exemplo, o uso do controle ocular, apesar de ser um recurso extraordinário, pode ser cansativo no início e exige treinamento e o profissional deve fazer pausas no atendimento para evitar essa fadiga. Mas só sabe quem já usou o recurso para, até mesmo, pensar em alternativas que facilitem o seu uso”, diz Helena Panhan.
O engenheiro e especialista em Tecnologia Assistiva, Rafael Alves, salienta a questão da configuração dos recursos: “Existem muitos recursos tecnológicos que os profissionais têm conhecimento, mas falta a técnica: como eu configuro da forma correta e como consigo identificar que mesmo aquele recurso não é o melhor para aquele paciente? Por isso, hoje os terapeutas que atuam com pacientes adultos neurológicos precisam estar em constante atualização sobre todas as soluções disponíveis no mercado. Vale frisar que nem sempre o recurso de investimento mais alto atenderá a necessidade do paciente, assim como nem sempre um aplicativo gratuito será descartado. Há também fases na vida de cada indivíduo que podem exigir recursos diferentes a cada etapa e é preciso conhecimento para que o terapeuta possa indicar o momento da mudança da tecnologia utilizada”, diz.
Para Alves, um dos seus ideais é transformar a cultura brasileira em relação ao compartilhamento de conhecimento: “Nas diversas capacitações que fiz no exterior, é comum o papel da equipe multidisciplinar com o foco total no recurso tecnológico. Ou seja, a preocupação com a concorrência no mercado de trabalho de atendimentos é inexistente, porque a prioridade é a partilha e troca de informações entre os profissionais com o objetivo da evolução não apenas do paciente, mas da qualidade dos atendimentos. E é essa a ideia do curso que preparamos: vamos compartilhar toda a nossa expertise com o objetivo de multiplicarmos pessoas com conhecimento profundo técnico e prático das tecnologias assistivas para que, então, haja uma mudança cultural, cujo beneficiado será sempre o paciente”, destaca Alves.
As inscrições podem ser feitas pelo link:
https://lp.ietsite.com/tecnologia-assistiva
Instagram: @ietreabilitacao/