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A importância da Modelagem no uso da CAA/CSA


Quando se fala no uso de recursos para o processo de aprendizado de pessoas com necessidades especiais, é fato que a Comunicação Alternativa e Ampliada/Comunicação Suplementar Alternativa (CAA/CSA)** é uma das ferramentas mais renomadas e fundamentais ao desenvolvimento do usuário. 

No entanto, apesar de já consolidada a CAA/CSA, quando falamos dos benefícios do uso da Modelagem como apoio essencial à aprendizagem da comunicação alternativa, a questão deixa a desejar, mesmo com a comprovação de pesquisas que afirmam que a técnica expande a linguagem do aluno e incentiva o uso de múltiplos modos de comunicação, da mesma maneira que uma criança quando está aprendendo a falar. Percebe-se que há muita falta de informação sobre o tema e, consequentemente, muitos profissionais ainda não a utilizam em seus atendimentos e, por consequência, nem os familiares do paciente.

Segundo a fonoaudióloga Alessandra Gomes Buosi*, Mestre em Ciências da Saúde, formadora do método PODD e uma das referências em Modelagem no Brasil, a técnica, que já existe desde a década de 80, é de suma importância no desenvolvimento do usuário e deve ser utilizada sempre. “A Modelagem consiste em utilizar o recurso de comunicação alternativa enquanto conversa com a pessoa com necessidade complexa de comunicação, ou seja, oralizar e apontar o símbolo correspondente à palavra falada. As crianças com desenvolvimento típico “apenas” escutam modelos de fala durante todo o primeiro ano de vida, e assim, à medida que vão  desenvolvendo as habilidades sensório-motoras, começam a falar ou se expressar a partir do modelo aprendido. Da mesma forma deve acontecer com a CSA: a pessoa deve ser exposta ao uso do recurso durante algum tempo para depois começar utilizá-lo para se expressar, pois é um processo a ser construído na relação com o outro”, explica. 

A especialista ressalta ainda que a ausência da Modelagem no processo de aprendizagem da pessoa com necessidades complexas de comunicação é prejudicial, uma vez que limita o seu desenvolvimento. “O recurso de comunicação alternativa deve ser usado para ensinar, assim como usamos a fala para ensinar durante o desenvolvimento de crianças com oralidade possível!“.

 No vídeo abaixo, Alessandra mostra um exemplo de Modelagem com uma prancha de comunicação de baixa tecnologia:


A especialista diz ainda que a Modelagem deve ser realizada em todos os contextos: tanto durante o atendimento terapêutico, quanto em casa. “A Modelagem é fundamental e deve ser feita sempre em todos os ambientes frequentados pela pessoa. Vale ressaltar que a técnica quando realizada em contexto natural é muito mais significativa, pois o cérebro faz conexões do uso de determinada função de linguagem ou vocabulário com contextos determinados, aumentando, assim, as oportunidades de aprendizagem, pois quando exposta novamente àquela situação, usa pistas do próprio contexto para acessar os símbolos/palavras necessárias para se comunicar”, explica.

Erros mais comuns da Modelagem

De acordo com Alessandra, um dos erros mais comuns na técnica é que as pessoas acabam bombardeando o paciente com perguntas. “Uma Modelagem bem feita é como uma conversa natural, onde há o uso de apontamentos às figuras, repetição oral das palavras e todo um contexto para proporcionar o aprendizado. Em um primeiro momento, apenas o parceiro de comunicação (seja o profissional ou o familiar) é quem fala e vai criando o modelo que a criança, por exemplo, seguirá. E, assim, somente quando ela se sentir à vontade é que começará a se expressar por meio da Modelagem”, explica a fonoaudióloga. “Ou seja, no lugar de Modelagem, muitas pessoas acabam fazendo um questionário desgastante à criança, e não potencializa o aprendizado”, alerta.

No vídeo abaixo, a especialista mostra como fazer a Modelagem com um equipamento de alta tecnologia, como o SNAP, da Tobii Dynavox:


Dicas para iniciar a Modelagem

Apesar de ser fundamental a Modelagem, a especialista diz que uma das dificuldades para iniciá-la é fazê-la em todos os lugares e durante todo o tempo. 

Para quem deseja iniciar a técnica em casa, por exemplo, ela dá a dica de escolher um momento do dia para modelar uma atividade e fazê-la todos os dias. “Quando essa etapa estiver fácil para você como parceiro de comunicação, adicione a essa modelagem alguma outra atividade a ser modelada e, assim, vá somando aos poucos, até que fique natural e você consiga modelar o tempo todo e todas as atividades do dia a dia”.

No vídeo abaixo, compartilhamos uma Modelagem feita no contexto familiar:


A Alessandra é supervisora da Clínica Clarear Fonoaudiologia e compartilha diversos vídeos e dicas sobre Modelagem, comunicação alternativa, PODD, entre outros, no Instagram da instituição. Confira: @clarearfonoaudiologia

*Alessandra Gomes Buosi é Fonoaudióloga pela Unesp, Especialista em Voz pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia, Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia, Aprimoramento em Dislexia e Distúrbios de Aprendizagem pelo CEFAC. Com Mestrado em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC, a especialista tem experiência em CSA com BLISS, PECS, PCS, MAKATON, Core words e PODD. É também Membro associado do ISAAC, Supervisora da clínica Clarear e formadora do método PODD.

**Nota: Há variações em relação à comunicação alternativa. Em algumas regiões, pesquisadores e profissionais utilizam CAA (Comunicação Alternativa e Ampliada), em outras, o termo mais usado é CSA (Comunicação Suplementar Alternativa). Por isso, consideramos todas as variações corretas.

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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